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As consequências geopolíticas dos cortes de produção da OPEP+

Emissários dos estados-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) realizam coletiva de imprensa após 45º Comitê Conjunto de Monitoramento Ministerial em Viena, Áustria, 5 de outubro de 2022 [Vladimir Simicek/AFP via Getty Images]

Ao deixar uma reunião com representantes dos 13 estados-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus dez aliados – cartel conhecido como OPEP+ – o enviado iraniano Amir Hossein Zamani Nia confirmou a decisão de amortizar a produção de petróleo da coalizão econômica em dois milhões de barris por dia até novembro.

As primeiras reações aos cortes foram tomadas por pânico. Uma repórter americana perguntou ao Ministro de Energia da Arábia Saudita Abdulaziz Bin Salman se havia apreensão em seu país sobre a resposta dos Estados Unidos à medida. O príncipe reagiu com sarcasmo, ao convidá-la a desfrutar do sol de Viena, em evidente alusão ao duro inverno que assombra a Europa.

Nos Estados Unidos, as reações foram imediatas e divergentes. Karine Jean-Pierre, secretária de imprensa da Casa Branca, descreveu a decisão como evidência clara de “alinhamento” da OPEP+ com a Rússia, ao reduzir a produção no ápice de sua invasão militar na Ucrânia.

Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, observou que o Presidente Joe Biden manifestou “decepção” sobre a determinação do cartel de nações exportadoras.

Não obstante, as reações confirmam o fracasso de Biden em administrar as sanções impostas a Moscou e desmantelar eventualmente a aliança conhecida como OPEP+. De fato, as decisões do grupo frustraram anseios da Casa Branca, do Departamento do Tesouro e da Reserva Federal em combater os recordes de inflação e juros que assolam o país.

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A OPEP+ mais outra vez demonstrou força e união. Entre suas fileiras, estão Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Rússia. Apesar de divergências, concorrência e mesmo conflito entre as partes, o recente acordo da OPEP+ excedeu os limites de performance técnica corroborados pelo ministro emiradense Suhail Al Mazrouei, quando seu país anunciou se juntar aos esforços para reduzir a produção.

O acordo abarca oponentes regionais – como Irã, Arábia Saudita e Emirados – além de mecenas internacionais, como a Rússia, e reafirma a vasta dimensão geopolítica do mercado de petróleo. A influência do cartel estende-se agora da região do Golfo – incluindo Iêmen – à costa do Mar Vermelho e Mar Mediterrâneo. O pacto antecedeu ainda um encontro entre o emissário do Kremlin ao Oriente Médio e vice-chanceler russo Mikhail Bogdanov, na noite de quarta-feira (5), com o embaixador emiradense em Moscou, Mohammed Ahmed al-Jaber, no qual discutiram a situação no Iêmen e no Golfo após expirar o cessar-fogo no território em disputa.

O encontro foi solicitado pelo embaixador emiradense, após ameaças de um membro do braço político do grupo houthi, Muhammad al-Bakhiti, que afirmou: “Temos a capacidade e a coragem de atacar as instalações de petróleo dos Emirados e da Arábia Saudita, caso nossas demandas não sejam cumpridas”. Paralelamente, o enviado especial dos Estados Unidos ao Iêmen, Tim Lenderking, realizava uma coletiva de imprensa para tentar renovar a trégua entre a coalizão árabe e os rebeldes houthis, na qual responsabilizou o grupo iemenita – ligado a Teerã –pela falta de soluções práticas para reaver a trégua.

Tais movimentações confirmam o vínculo entre assuntos regionais e mediações internacionais encabeçadas por Estados Unidos e Rússia no Oriente Médio. Arábia Saudita e Emirados veem o acordo da OPEP+ como trunfo político para construir consensos a seu favor – consensos que a gestão de Joe Biden foi incapaz de fornecer. Tudo isso a despeito de conversas constantes sobre cooperação militar no Mar Vermelho e Golfo e manobras aérea e navais – que logo se tornaram um quadro político-econômico favorável a Israel e seus interesses.

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A OPEP+ transcendeu seu escopo de associação técnica a uma aliança geopolítica emergente – alimentada pela guerra na Ucrânia e suas demandas. As reações tensas nos Estados Unidos, no entanto, encorparam a desconfiança árabe sobre seus parceiros americanos, após os sucessivos fracassos da Casa Branca para solucionar as questões iemenita e iraniana. Washington também falhou em lidar com precondições financeiras do Golfo e suas idiossincrasias político-culturais, ao contrapor as potências regionais e mesmo ameaçar estruturas legítimas. 

Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Arabi21, em 6 de outubro de 2022

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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