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Na Turquia, o mercado de hotéis halal está bombando

Horei Adin Beach, em Antalia, Turquia [Cortesia de Hilal Uysal Namal]
Horei Adin Beach, em Antalia, Turquia [Cortesia de Hilal Uysal Namal]

“Para as mulheres, nadar com burkini não é fácil”, comentou Hilal Uysal Namal em nossa entrevista. “Há um certo desconforto porque as mulheres se sentem diferentes. Há também benefícios de saúde; os médicos dizem que mulheres que estão sempre sob o véu precisam de vitamina D, porque seus corpos jamais são expostos ao sol”.

Hilal, vice-presidente do conselho executivo do Hotel Adin Beach, na Turquia, insiste que, em suas instalações, o burkini – que cobre todo o corpo, exceto mãos, rosto e pés – é desnecessário. Há três praias no vasto terreno: uma para as mulheres, uma para as famílias, uma para os homens. A praia feminina é absolutamente exclusiva.

O hotel é um negócio de família fundado em 1984, que cresceu desde então para integrar quartos luxuosos com banheiras e saunas. A maior parte dos hóspedes é da Turquia; entretanto, há também visitantes da Bélgica, França, Alemanha e Paquistão.

Hoteis como este são conhecidos por favorecer as noções islâmicas e tem espaço, em particular, em países como Malásia, Indonésia e Turquia. O mercado turco já representa um “gigante global” no turismo tradicional, confirmou ao MEMO o professor Ömer Akgün Tekin, do Departamento de Turismo da Universidade de Akdeniz.

“Cerca de 400 milhões de muçulmanos vivem a cinco horas de voo da Turquia”, observou Tekin. “Precisamente por essa razão, a Turquia é uma das mais importantes reservas turísticas do mundo islâmico. Os empreendimentos locais que buscam oferecer serviços a turistas muçulmanos crescem a cada dia”.

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Entre os serviços halal estão gastronomia e ambiente livre de bebidas alcoólicas. No entanto, Tekin contesta tecnicamente o termo popular para o mercado: hotelaria halal. Segundo o pesquisador, é quase impossível que todos os serviços cumpram os padrões estabelecidos pelas diretrizes islâmicas.

Os primeiros hotéis tradicionais datam da década de 1070, confirmou Tekin. A indústria cresceu na década de 1990 e seu desenvolvimento se acelerou, particularmente, em torno de 2006, quando muçulmanos da Geração Z começaram a explorar o mundo por conta própria.

O mercado halal é bastante lucrativo – um chalé no Hotel Adin Beach pode custar em torno de US$1.000 pernoite. Segundo Hilal Uysal Namal, sim, o negócio está bombando. Chalés e quartos estão absolutamente lotados, sete dias por semana.

Atualmente, a demanda por hotéis tradicionais supera a oferta, o que eleva os preços. Além disso, há o fato de que os hotéis fornecem serviços adicionais em relação aos empreendimentos comuns – por exemplo, piscinas exclusivas para homens e mulheres e equipes incumbidas de servir ambos os espaços adequadamente.

Ainda assim, o turismo islâmico contabiliza apenas 5% do mercado global.

“Os indivíduos que visitam os hotéis tradicionais islâmicos consistem, em geral, de famílias bem grandes, com ao menos cinco ou seis pessoas e alta renda, que gastam bastante dinheiro”, acrescentou Tekin. “Neste respeito, embora o mercado de turismo islâmico seja pequeno em termos quantitativos, é extremamente lucrativo em termos de qualidade”.

As praias privadas são um dos principais atrativos de lugares como o Hotel Adin Beach. Embora o burkini não seja proibido na Turquia, hotéis comuns costumam rejeitar seu uso. Hilal nos recordou ter ligado a três das principais estalagens do mercado local e todas lhe confirmaram o banimento das vestes islâmicas em suas piscinas.

Neste contexto, o mercado de Adin e outras instalações similares abriu suas portas a mulheres como Ümmühan Özçelik e Kevser Yıldızhan, frustradas com tais restrições. Ümmühan nos reafirmou que, muito embora não se sinta discriminada na Turquia por suas vestes tradicionais, sente-se mais confortável ao alojar-se em um hotel cujo próprio conceito de mercado é amistoso a seus preceitos religiosos. “A proibição do burkini em alguns hotéis da Turquia é pura discriminação e desrespeito”, lamentou Ümmühan.

“Sinto-me sempre excluída nos outros hotéis”, acrescentou Kevser. Sua mãe também usa o véu islâmico; portanto, toda a família prefere se hospedar em Adin. “Escolhemos aqui para que minha mãe tivesse férias mais confortáveis”.

O turismo islâmico está em franca ascendência. Tekin aponta que o mercado crescerá rapidamente no futuro próximo, devido ao aumento da população islâmica em todo o mundo, seu alto grau de educação e sua respectiva renda. O racismo em diversas partes do mundo também é um fator considerável.

“Após o 11 de setembro, vimos o crescimento da islamofobia em diversos países não-islâmicos, sobretudo nos Estados Unidos”, declarou Tekin. “Tais hotéis atraem atenção porque os muçulmanos se sentem mais seguros e confortáveis. Seu objetivo primário é garantir a crianças e mulheres um feriado agradável com melhores oportunidades. De fato, um número considerável destes hotéis também oferece soluções favoráveis às mães e seus filhos. Por essa razão, vemos não apenas turistas religiosos de caráter conservador, mas também turistas seculares que preferem tais hotéis”.

“Nem todos os nossos clientes são conservadores”, consentiu Hilal. “Algumas mulheres que não usam véu se hospedam conosco pois se sentem mais seguras e mais confortáveis ao vestir biquini em nossas praias exclusivamente femininas”.

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