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Expansão colonial na Cisjordânia testa posição de Biden às vésperas de sua viagem à região

Assentamento ilegal israelense na cidade de Nablus, Cisjordânia ocupada, 18 de outubro de 2020 [Shadi Jarar'ah/Apaimages]

A passos de distância de um aglomerado de tendas e cabanas palestinas no norte do Vale do Jordão, na Cisjordânia ocupada, caminhões trabalham a todo vapor para preparar terreno às obras de uma escola exclusiva a colonos ilegais israelenses.

O assentamento de Mehola tenta se expandir à medida que aumenta a demanda por serviços públicos, confirmou Zohar Zror, um de seus residentes, de 32 anos, à agência Reuters.

A expansão flagrante dos assentamentos israelenses por toda a Cisjordânia alimenta receios de deslocamento entre os palestinos e impõe um teste à suposta oposição dos Estados Unidos aos avanços coloniais, sobretudo às vésperas da visita do presidente Joe Biden, nesta semana.

Em editorial publicado no sábado (9) pelo jornal The Washington Post, Biden insistiu que seu governo reconstruiu laços com os árabes nativos e trabalha junto ao Capitólio para restaurar US$500 milhões em doações aos palestinos.

Sua gestão também prometeu reabrir um consulado para contato com a Autoridade Palestina (AP) na cidade de Jerusalém ocupada, fechado por seu antecessor, Donald Trump.

Contudo, suas ações pouco fizeram para satisfazer as demandas palestinos para que Washington pressione pelo fim de décadas e décadas de ocupação israelense.

Embora seu governo tenha expressado contundente oposição à expansão dos assentamentos – por prejudicar o prospecto da “solução de dois estados” –, as obras promovidas ilegalmente em terras ocupadas continuaram impunes.

Enquanto isso, a busca por uma resolução que envolve um estado palestino independente, em suposta convivência com o Estado de Israel, tão promovida por Washington e outras potências estrangeiras, permanece sob impasse.

LEIA: Colonos reconstroem posto avançado ilegal na Cisjordânia ocupada

“Eles não querem que os palestinos continuem aqui”, declarou Salah Jameel, de 53 anos, fazendeiro palestino no Vale do Jordão. “Eles querem tomar nossa terra”.

A lei internacional – assim como muitos países – consideram que os assentamentos construídos por Israel em terras capturadas durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, são terminantemente ilegais. Israel contesta a lei internacional e transferiu cerca de 440 mil colonos à Cisjordânia, sob pretextos bíblicos, arcaicos e ideológicos.

Neste entremeio, três milhões de palestinos vivem sob ocupação militar e discriminação sistêmica.

Em maio, o regime israelense aprovou a construção de 4.400 novas casas exclusivas a colonos judeus. Planos para maior expansão dos assentamentos, que efetivamente fracionarão a área de um futuro estado palestino, estão previstos para discussão logo após a visita de Biden.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos não comentou os avanços israelenses, até então. Sua missão diplomática para assuntos palestinos repassou a matéria à Casa Branca.

David Elhayani – presidente do Conselho Yesha, principal associação colonial israelense, em fim de mandato – alegou que é hora de os palestinos aceitarem que não terão um estado próprio e independente. “O empreendimento dos assentamentos decolou, não há como pará-lo”.

Barulho

Conforme Israel aprofunda sua normalização com países do Golfo e Norte da África, permanece incerto quais passos a Casa Branca está disposta a tomar para desencorajar seu aliado histórico de um maior entrincheiramento em terras palestinas.

A iminente visita de Biden “pode reduzir o volume de barulho que Israel faz sobre a expansão dos assentamentos, mas não a construção em si”, advertiu Dror Etkes, da organização Kerem Navot, que monitora as políticas coloniais israelenses na Cisjordânia ocupada.

“Todo o sistema político em Israel está mobilizado para proteger o empreendimento colonial”, acrescentou Etkes.

Os primeiros assentamentos no Vale do Jordão datam do período imediato ao conflito de 1967. Uma área fértil de pomares e plantações de tâmaras, logo na fronteira com a Jordânia, foi vista por ideólogos sionistas como fundamental para criar uma zona de defesa a leste de Jerusalém.

O assentamento ilegal de Mehola, construído no fim da década de 1960 com aval de Tel Aviv, sobre terras palestinas, é um dos exemplos desta estratégia.

A proteção militar, rodovias exclusivamente judaicas e a infraestrutura de água e energia elétrica que serve aos assentamentos ilegais contrastam notoriamente com as condições precárias nas aldeias palestinas adjacentes.

Não obstante, Israel repudia evidências compiladas por grupos locais e internacionais de direitos humanos que constatam que seu empreendimento colonial criou um sistema de discriminação e supremacia análogo ao apartheid.

Enquanto isso, dados coletados pelas próprias autoridades israelenses mostram uma tendência de expansão na presença de colonos nas terras ocupadas.

Na chamada Área C – terminologia dos Acordos de Oslo para referir à região da Cisjordânia sob absoluto controle de Israel, onde a maioria dos assentamentos estão localizados –, somente 33 alvarás de construção foram deferidos a palestinos nativos nos últimos cinco anos, confirmou o vice-ministro da defesa Alon Schuster em fevereiro, no parlamento (Knesset).

Neste período, no entanto, foram iniciadas obras para mais de 9.600 unidades residenciais destinadas a colonos na Cisjordânia ocupada, segundo estimativas do Escritório Central de Estatísticas de Israel.

O palestino Mahmoud Bisharat, de 40 anos, não tem expectativa alguma com a visita de Biden. Ainda assim, afirmou à Reuters ter esperanças de que o governo americano adote uma postura mais firme sobre os assentamentos ilegais e a expropriação dos palestinos.

“Vivemos nessa terra desde muito antes de 1967, o mínimo que podem fazer é proteger nossos direitos”, declarou Bisharat.

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