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Tunísia deve preparar-se para fase pós-Saied ou se tornar ‘novo Sudão’, alerta ex-presidente

Ex-presidente da Tunísia Moncef Marzouki na capital Túnis, em 1° de fevereiro de 2019 [Yassine Gaidi/Agência Anadolu]

O ex-presidente tunisiano Moncef Marzouki fez um alerta conforme o qual é imperativo que seus concidadãos se preparem para a fase posterior ao regime de Kais Saied ou esperem um cenário análogo ao Sudão, segundo informações da rede de notícias Al-Quds Al-Arabi.

Marzouki destacou que a persistente crise política no estado vizinho culminou na tomada do poder pelas Forças Armadas, em outubro de 2021.

“A questão agora é como será a fase pós-Saied”, reiterou o ex-presidente. “Naturalmente, o melhor cenário é a legitimidade que venho reivindicando, representada pela restauração do parlamento e renúncia do então presidente do legislativo Rached Ghannouchi, que perdeu a aprovação do povo”.

Samira Chaouachi — vice de Ghannouchi — deve assumir em seguida, explicou Marzouki.

“Eleições presidenciais e parlamentares devem ser realizadas de acordo com o calendário constitucional”, acrescentou. “Caso contrário, enfrentaremos uma conjuntura análoga ao Sudão e todo dia vemos o custo deste cenário”.

O ex-presidente criticou a proposta de Constituição elaborada por Saied e publicada recentemente no Diário Oficial.

“O texto tem baixa qualidade e representa uma alucinação individual, desaprovado até mesmo por aqueles que participaram de sua redação. Isso significa que o indivíduo comprometido com o golpe [em referência a Saied] não levou em consideração sequer as pessoas que redigiram o texto”, prosseguiu Marzouki.

Segundo seu relato, o atual presidente tem como objetivo único — por meio da nova proposta constitucional — legitimar o golpe e concentrar poderes.

“Por que, portanto, as pessoas perderiam seu tempo com um texto banal cujo resultado do referendo já sabemos de antemão?”, indagou Marzouki, ao advertir que as autoridades sob controle de Saied precederam até mesmo a abertura das urnas.

“Já vimos alguma vez um regime golpista admitir derrota em algum referendo? Seu resultado merece repúdio pois é construído sobre atos ilegítimos e é, portanto, ele próprio ilegal”.

Segundo Marzouki, se houver abstenção e boicote sobre as iniciativas de Saied, o presidente estará então “desamparado”.

O ex-chefe do executivo tunisiano sucedeu seu alerta com um apelo pela retomada imediata da resistência civil, perante a “farsa” imposta desde julho de 2021, quando Saied depôs o governo, dissolveu o parlamento e passou a governar por decreto.

“Devemos reaver a democracia, apesar de seus problemas”, concluiu Marzouki.

LEIA: Proposta de Constituição da Tunísia estabelece ditadura

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