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Ucrânia ameaça cancelar visto de peregrinos judeus devido a racismo israelense

Judeus ucraniano chegam no Aeroporto Internacional Bem Gurion, perto de Tel Aviv, em 6 de março de 2022 [Mücahit Aydemir/Agência Anadolu]

O tratamento israelense conferido a refugiados ucranianos não-judeus — que deixaram seu país em virtude da invasão russa — incitou indignação em Kyiv, com ameaças de revogar os vistos de turistas israelenses a caminho do estado assolado pela guerra para a peregrinação anual do Rosh Hashanah, na cidade de Uman.

Milhares de israelenses costumam celebrar o Ano Novo Judaico ao visitar o túmulo do reverenciado rabino ortodoxo Nachman de Breslov.

Oficiais ucranianos, no entanto, mantém a questão em aberto com os ministérios de política externa e doméstica do estado israelense.

Embora não haja um ultimato, caso as conversas não obtenham êxito, Kyiv deverá considerar “reciprocidade”, confirmou Yevgen Korniychuk, embaixador ucraniano em Tel Aviv, ao jornal Haaretz. Neste contexto, Korniychuk sugeriu a possibilidade de restrições de entrada em solo ucraniano a peregrinos judeus. “Quem sabe os israelenses nos escutem”, advertiu.

O diplomata reiterou ainda que boa parte dos refugiados ucranianos inelegíveis à cidadania israelense sob a chamada Lei do Retorno — que permite a transferência de colonos a terras palestinas ocupadas — já deixou o país, de maneira que as restrições atuais equivalem a um “problema criado artificialmente”.

A Lei do Retorno foi outorgada em 1950, logo após o primeiro momento da limpeza étnica na Palestina histórica, no qual mais da metade da população nativa foi morta ou expulsa de suas terras. A política migratória instituída pela legislatura sionista tem como intuito a supremacia judaica, ao deferir cidadania a colonos de todo o mundo, sem qualquer vínculo com a terra, e permitir que se instaurem em assentamentos ilegais.

LEIA: Por que o Ocidente não aceita que Israel é um Estado de ‘apartheid’?

Em contrapartida, seis milhões de refugiados palestinos são impedidos de entrar nos territórios ocupados por Israel, devido à negativa veemente de seu direito de retorno, consagrado pela lei internacional.

Embora os palestinos sejam o alvo principal, o efeito discriminatório da legislatura israelense também obstruiu o caminho de milhares de ucranianos não-judeus que fogem da guerra. Em contraste, com a vasta maioria a caminho da Europa, requerentes de asilo que pousaram em Israel enfrentaram o racismo inerente do estado sionista.

Judeus ucranianos têm salvo-conduto, mas seus concidadãos não-judeus enfrentam a possibilidade de retorno forçado a seu país natal.

Segundo o Haaretz, desde o início da invasão russa, em fevereiro, dos mais de 21 mil refugiados ucranianos sem acesso à Lei do Retorno que entraram em Israel, apenas 14.500 permaneceram no país, conforme dados do início de junho.

O restante provavelmente prosseguiu viagem à Europa — onde recebem status legal e auxílio — ou foram coagidos a retornar para a casa apesar dos persistentes bombardeios de Moscou. Aqueles que ficaram não são considerados refugiados e tampouco encorajados por Tel Aviv a regularizar sua condição no país.

Em março, Korniychuk condenou publicamente a política migratória de Israel, ao descrevê-la como “absolutamente insana” e demandar das autoridades que concedam asilo a ucranianos não-judeus. Neste entremeio, Israel é denunciado por crimes de apartheid.

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