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Estupro foi usado ‘sistematicamente’ durante Guerra Civil do Líbano, confirma estudo

Combatentes cristãs do partido falangista Kataeb durante treinamento em uma área entre o porto de Jounieh e a aldeia de Zahle, no oeste do Líbano [Erich Stering/AFP via Getty Images]

Um novo estudo revelou a dimensão dos crimes cometidos contra meninas e mulheres durante os 15 anos de Guerra Civil no Líbano (1975-1990) — conflito que ceifou mais de cem mil vidas e deslocou ao menos um milhão de pessoas.

O estudo denominado “Fomos estupradas de todas as formas possíveis, formas inimagináveis: Crimes de gênero durante a Guerra Civil” foi conduzido pela organização de direitos humanos Legal Action Worldwide (LAW) e colheu testemunhos de mulheres libanesas e palestinas que sofreram violência sistêmica tanto por forças do governo quanto por milícias sectárias.

Muitas sobreviventes falaram sobre seu trauma pela primeira vez em mais de três décadas — “jamais nos perguntaram”, disseram algumas vítimas. Outras indicaram temores de que suas famílias fossem constrangidas pelas denúncias.

Outro fator para o silêncio refere-se a “décadas de amnésia coletiva” e esforços para culpar ou constranger sobreviventes e familiares, o que lhes concedeu um status de “vítimas em dobro” — primeiro, de violência sexual; então, do “fracasso irrestrito para responsabilizar indivíduos e agentes públicos por tais graves violações ou sequer para reconhecer sua ocorrência”.

Detalhes chocantes e hediondos incluem estupro coletivo, mutilação genital, tortura sexual e humilhação sistêmica. Dentre os incidentes: eletrochoques nos seios e genitais e coação para que as mulheres fossem despidas e prostituídas.

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O estupro, elucidou o relatório, foi adotado como “método de guerra para perseguir pessoas de comunidades em particular, humilhá-las, dissuadí-las de sua resistência e emascular familiares”.

Amira Radwan, agora com 54 anos, recordou testemunhar o estupro em massa de meninas da aldeia de Kfar Matta, cenário de um infame massacre contra a comunidade drusa pelas Forças Libanesas, grupo paramilitar de denominação cristã.

“Eles costumavam amarrar o pai e os irmãos e fazê-los assistir ao estupro”, declarou Radwan, ao relembrar casos de mulheres violentadas com garrafas de vidro.

O relatório reivindicou maior documentação dos crimes de gênero — “para reagir à narrativa predominantemente masculina das guerras civis e amplificar as vozes das sobreviventes e das vítimas”. Todavia, o documento reiterou que é preciso registrar também os casos de violência sexual contra meninos e homens.

Após o fim da Guerra Civil do Líbano, em 1991, uma legislação de anistia foi aprovada para conceder imunidade a crimes contra a comunidade civil. Segundo estudo, cerca de 99% da população rejeita a anistia, que perpetuou a impunidade e negou a sobreviventes o devido acesso à justiça.

ASSISTA: A invasão do Líbano em 1982

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