Brasileira conselheira na ONU diz que crises forçam mudanças no sistema internacional

A presidente e cofundadora do Instituto Igarapé, um think tank comprometido com segurança humana, digital e climática, é a única latino-americana. Szabó já havia participado do relatório de Guterres, Nossa Agenda Comum, mas agora deverá se focar numa série de questões globais como clima, paz e desenvolvimento sustentável.

“As crises globais aumentam a urgência de um novo multilateralismo”. A opinião é da conselheira do Secretário-Geral da ONU, a cientista política brasileira Ilona Szabó.

No mês passado, ela foi escolhida ao lado de mais 11 conselheiros de todo o mundo para formar o Conselho Consultivo de Alto Nível do Secretário-Geral da ONU.

Nesta entrevista à ONU News, ela disse que a crise climática, a recuperação da pandemia e a guerra na Ucrânia são sinais de que é preciso repensar a forma de solucionar desafios internacionais.

“Acho que esse momento global, a gente sai de uma pandemia que trouxe tantas lições, que mostrou toda essa questão da interdependência, da necessidade de ampliar as coalizões, solidariedade, de refazer esse pacto entre cidadãos e seus mandatários. Ninguém poderia esperar que a gente estivesse em um momento tão difícil, pondo à prova, novamente, o multilateralismo. Eu diria que isso só reforça a urgência, a responsabilidade e a vontade de um Conselho Consultivo, como esse, de conseguir desenvolver ideias, recomendações que sejam ao mesmo tempo ousadas, porque precisam responder aos desafios cumulativos de hoje, mas também factíveis no mundo que a gente está vivendo. Então, eu diria que só aumenta a urgência e a necessidade dessa nova forma de multilateralismo, em rede, mais eficiente, mais conectada com a necessidade das pessoas”

Futuro

Segundo Ilona Szabó, os 12 conselheiros farão recomendações ao secretário-geral para fortalecer acordos multilaterais. O grupo é co-liderado pela ex-presidente da Libéria e Prêmio Nobel da Paz, Ellen Johnson Sirleaf, e pelo ex-primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven.

Ilona Szabó acredita que os Estados-membros da ONU devem repactuar a forma de garantir o bem-estar e proteção de seus cidadãos.  Ao comentar a guerra na Ucrânia, a cientista política ressalta falhas que levaram à ofensiva e como o sistema multilateral precisa resolver divergências antes que se tornem conflitos.

O resultado do trabalho será apresentado no próximo ano durante a Cúpula do Futuro, que será realizada pela ONU, como explicou Ilona Szabó.

Multilateralismo inclusivo

“O trabalho da Comissão vai ser entregue em um relatório com recomendações no começo de 2023. Mas, até a Cúpula do Futuro, temos vários meses de diálogo, de disseminação dessas ideias, de conversas com Estados-membros e outros atores que a gente considera muito importante para a construção desse multilateralismo eficaz e em rede. A gente tem a expectativa que as propostas entrem na conclusão que a Cúpula do Futuro resolver dar. O sucesso do painel seria a adoção das principais recomendações pelos Estados-membros e como a gente pode fazer um multilateralismo mais inclusivo”

O relatório Nossa Agenda Comum, divulgado em setembro passado, propõe que a Cúpula do Futuro em 2023 avance em ideias para arranjos de governança dos bens comuns globais, incluindo clima e desenvolvimento sustentável, além da Agenda 2030.

O evento está previsto para acontecer em paralelo ao Debate Geral da Assembleia Geral, em setembro.

Formação do Conselho Consultivo

Além de Ilona Szabó, participam do Conselho o presidente do Instituto de Estudos Internacionais da China, Xu Bu, a jovem ativista climática nepalesa Poonam Ghimire, a economista indiana Jayati Ghosh e o ex-Ministro das Finanças e Planejamento Econômico de Ruanda, Donald Kaberuka.

Integra o grupo também a ex-conselheira de Cultura no Unfpa, a egípcia Azza Karam, a pesquisadora queniana, Nanjala Nyabola, o ministro de Cingapura, Tharman Shanmugaratnam, a ex-diretora de Política e Planejamento do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Anne-Marie Slaughter e o atual presidente do Clube de Madrid, o esloveno Danilo Türk.

Os membros trabalham de forma independente, oferecendo as recomendações ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e à equipe do líder das Nações Unidas.

Segundo Ilona Szabó, a tarefa mais relevante do Conselho Consultivo é levar a António Guterres reflexões plurais de vozes da sociedade civil que refletem sobre os temas propostos no relatório Nossa Agenda Comum.

Publicado originalmente em ONU News

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