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O pedido de proteção aos palestinos e a cumplicidade internacional com Israel

Representantes comerciais e governamentais da Turquia e Israel participam da reunião da Delegação de Comércio Turquia-Israel em Tel Aviv, Israel, em 08 de março de 2022. [Mostafa Alkharouf - Agência Anadolu]

Os apelos para que a comunidade internacional interfira e proteja o povo palestino da violência israelense são sempre justapostos a uma complexa teia de cumplicidade com a colonização sionista de sua terra. Esta semana, a Liga Árabe pediu ao Conselho de Segurança da ONU que assumisse tais responsabilidades, depois que os militares israelenses persistiram com o assassinato extrajudicial de palestinos. No entanto, o apoio da Liga à Palestina ficou comprometido. Sua complacência diante dos Acordos de Abraham do governo Trump apenas acentuou o quão distante da luta política do povo palestino a região se tornou, apesar do apoio retórico.

Os acordos de normalização entre Israel e países árabes atraíram a atenção internacional, apesar de os países árabes terem reproduzido o que o Ocidente realizou décadas atrás. No contexto dos acordos de normalização, que dão luz verde à colonização israelense, por que motivo a Liga Árabe pensa que está fazendo um favor aos palestinos ao pedir proteção internacional?

É mais fácil se concentrar nas violações de Israel do que em sua política, principalmente porque a ONU fez o máximo para construir a contradição entre denunciar seus abusos de direitos humanos enquanto defende a narrativa de segurança de Israel. Ambos existem separadamente na retórica internacional e ambos servem a um propósito político. Os abusos dos direitos humanos cometidos por Israel, vários dos quais já foram declarados crimes de guerra ou podem constituir crimes de guerra e crimes contra a humanidade, estão enclausurados dentro do paradigma humanitário pela comunidade internacional, para evitar que os palestinos dêem voz às suas preocupações políticas e direitos. A narrativa de segurança de Israel, por outro lado, foi adotada pela comunidade internacional como medida para garantir a impunidade do Estado colonizador. Isso significa que pedir proteção internacional para os palestinos é uma questão obscura, tendo em mente que eles são impedidos de articular sua própria experiência diretamente como uma questão política e suas narrativas são continuamente espancadas para se adequarem aos parâmetros do que a ONU já ditou para a Palestina .

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Da mesma forma, aqueles que pedem proteção internacional devem dar uma olhada em suas próprias agendas e alianças políticas. Por que a Liga Árabe ou qualquer outra entidade internacional deve ser levada a sério quando se trata da Palestina, já que Israel tem precedência nos fóruns internacionais desde seu estabelecimento em 1948?

Durante seu mandato, o ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou repetidamente que a Palestina não é mais uma preocupação urgente para os países árabes. Vários governos árabes provaram que ele estava certo com sua ânsia de normalizar as relações com o apartheid de Israel.

No entanto, permanece o fato de que a própria ONU é cúmplice em despojar os palestinos de seus direitos políticos. Ao falar sobre a Palestina, são as resoluções e a retórica não vinculantes da ONU que têm precedência sobre os direitos palestinos legítimos e inalienáveis. Se os palestinos precisarem de qualquer forma de assistência, a ONU toma a decisão final. Essa é a mesma ONU que decidiu apoiar a existência e expansão colonial de Israel, enquanto forçava os palestinos a implorar por independência por meio de suas instituições. O consenso internacional passa por cima  as demandas palestinas, o que, por sua vez, silencia ainda mais a narrativa palestina. Os apelos à proteção internacional reforçarão o atual status quo e pior; sob o pretexto de fingir protegê-los, Israel terá a cobertura política para oprimir ainda mais os palestinos. A realidade é que apenas uma forma de proteção pode beneficiar o povo da Palestina ocupada: um apelo coletivo pela descolonização de suas terras.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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