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Muçulmanos na França enfrentam discriminação contínua no ensino superior

Homens muçulmanos seguram faixas enquanto cerca de dez mil cidadãos franceses marcham da Gare du Nord à Place de la Nation contra a islamofobia, em 10 de novembro de 2019, em Paris, França [Pierre Crom/Getty Images]

Um estudo recente realizado na França revelou que aqueles com nome e sobrenome muçulmanos que se candidatam a programas de pós-graduação são mais discriminados do que aqueles com nomes etnicamente franceses, relatou a Agência Anadolu.

Pesquisadores da Agência de Monitoramento da Discriminação e Igualdade no Ensino Superior (ONDES, na sigla em inglês) e da Universidade Gustave-Eiffel enviaram mais de 1.800 e-mails em março de 2021 para os diretores de educação de 607 programas de pós-graduação de 19 universidades para testar a discriminação deste último contra pessoas com deficiência e aquelas de origem estrangeira, de acordo com a mídia local.

O teste foi conduzido por pesquisadores com nomes falsos, tanto para portadores de deficiência quanto para aqueles sem – usados ​​como casos de teste – para diretores de programas de pós-graduação.

Os diretores que os pesquisadores contataram afirmaram abraçar a diversidade em seus candidatos e não priorizar pessoas de origem europeia, mas os pesquisadores descobriram o contrário.

Aqueles com um nome muçulmano, segundo o estudo, eram 12,3 por cento menos propensos a receber uma resposta a e-mails enviados a cada um de seus programas de pós-graduação. Essa taxa foi de 33,3 por cento no campo do direito, 21,1 por cento nas áreas de ciência, tecnologia e saúde e 7,3 por cento nas áreas de linguagem, literatura, arte, humanidades e ciências sociais.

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Os pesquisadores entrevistaram anonimamente os mesmos diretores educacionais três meses após a conclusão do estudo em nome do Ministério do Ensino Superior “sobre as dificuldades que encontraram no processo de recrutamento de alunos”, constatando, então, o duplo padrão quando se trata do desejo dos diretores de abraçar a diversidade.

Não foi encontrada discriminação para os alunos que afirmaram ser deficientes físicos.

Os direitos dos muçulmanos têm sido objeto de intenso debate na última década na França, já que o país tem lutado com eventos extremistas violentos, como os ataques do Charlie Hebdo em janeiro de 2015 que mataram doze pessoas, seguidos pelos terríveis ataques Bataclan em novembro do mesmo ano, em que 130 pessoas morreram em uma noite de violência coordenada. O professor Samuel Paty foi decapitado em meados de outubro de 2020 do lado de fora da escola onde lecionava, ao norte de Paris. Treze dias depois, três pessoas morreram nas mãos de um homem armado com uma faca dentro da basílica de Notre Dame em Nice, uma delas também decapitada.

Todos foram executados por membros declarados do grupo terrorista Daesh.

Apesar da separação entre Igreja e Estado ser um princípio fundador da democracia da França que data da Revolução Francesa, o governo tem uma abordagem particular à sua adesão a uma ideologia secular, e até mesmo um termo para isso: laicite. A perspectiva um tanto desinteressada visa reforçar os verdadeiros princípios democráticos de igualdade, tolerância e justiça, enquanto o Estado mantém uma postura neutra e não reconhece as diferenças religiosas entre os cidadãos.

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