Portuguese / English

Middle East Near You

Céu é o limite para meninas na ciência, afirma primeira paquistanesa a estudar teoria das cordas

Sala de aula em Islamabad, Paquistão, 15 de setembro de 2020 [AMIR QURESHI/AFP/Getty Images]

Tasneem Zehra Husain, primeira mulher paquistanesa a obter um diploma de doutorado na inovadora pesquisa sobre teoria das cordas, conclamou suas conterrâneas a seguir carreira científica, “em todo campo que lhes for aberto”, em entrevista exclusiva à agência Anadolu.

A conversa foi realizada para celebrar o Dia Internacional das Mulheres na Ciência, marcado anualmente em 11 de fevereiro.

Tasneem reconheceu que sua trajetória profissional não foi nada fácil, pois sua geração carecia de modelos e incentivos: “Na escola e mesmo na universidade, professores tornavam a ciência, em particular, uma matéria bastante seca”.

Tasneem é hoje uma renomada cientista teórica, mas também uma leitora voraz. Graduou-se em matemática e física na Universidade de Kinnaird, na região Lahore. Mais tarde, obteve seu mestrado em física na Universidade de Quaid-i-Azam, na capital paquistanesa Islamabad.

Sempre gostei de observar quebra-cabeças. Quando criança, ficava entediada com soluções fáceis.

Tasneem recordou que seu pai a aconselhou a estudar para exames avançados, ao passo que o currículo escolar tornava-se deficitário, sobretudo após a sétima série do ensino fundamental. “Isso foi muito interessante para mim”, observou.

Posteriormente, Tasneem atendeu às provas de Cambridge, para asseverar suas qualificações acadêmicas em diversos países, incluindo o Paquistão. Dessa forma, a então estudante pode pular os dois primeiros anos do ensino médio.

LEIA: Indústria Aerospacial da Turquia (TAI) assina acordo com Suparco do Paquistão

Tasneem formou-se doutora pela Universidade de Estocolmo, onde estudou física teórica e conquistou uma bolsa para ampliar sua pesquisa no campo da física de partículas.

“Enquanto fazia meu pós-doutorado, ajudei a Universidade de Lahora de Gestão em Ciências a estabelecer sua Escola de Engenharia e Ciência”, reafirmou. “Porém, o maior dilema em nosso país é quantos bons estudantes têm de ir ao exterior para obter uma carreira estável”.

Mesmo durante seus estudos sobre teoria das cordas — modelo científico que busca explicar todos os elementos da física em nível fundamental, como uma ambiciosa “teoria de tudo” —, Tasneem jamais abandonou seu amor pela literatura.

Seu primeiro romance — “Only the Longest Threads” — relata momentos decisivos nos quais teorias científicas afetaram a compreensão do universo. A autora trabalha em sua sequência.

Mais flexibilidade

Segundo estudo da Associação de Medicina do Paquistão, conforme observações compiladas em 2019, cerca de 85 mil médicas paquistanesas não trabalham em seus respectivos campos, apesar de campanhas de conscientização supostamente promovidas pelo governo.

LEIA: OCI criará fundo fiduciário humanitário para o Afeganistão

Tasneem insistiu que não há limite para o potencial das mulheres no campo das ciências, mas é preciso que o sistema acadêmico seja mais flexível. “Vejo doutoras, muitas das quais deixam de trabalhar após o casamento porque são mulheres”, explicou a cientista.

“Se não conseguem trabalhar por um certo período de tempo, isso não significa que carecem da capacidade de prestar seus serviços”, acrescentou Tasneem, ao comentar a discriminação contra mulheres grávidas. “É preciso um sistema flexível e políticas adequadas”

Professores que ensinam

Tasneem também destacou o papel dos professores como “estrela-guia”, ao inspirar seus alunos a pesquisar assuntos inovadores e tornar as diversas matérias do currículo mais interessantes e aprazíveis, conforme aplicações na vida real.

“Caso os professores não estejam cientes das últimas pesquisas sobre métodos pedagógicos e não tenham domínio sobre os assuntos, então não podem dizer a seus estudantes que de fato há implicações práticas em seus estudos”, enfatizou.

“Caso os estudantes, sobretudo as meninas, obtenham a orientação correta, o céu é o limite e podem fazer milagres. É mais do que a hora de dizermos a nossas meninas que todo campo de estudo está aberto a elas!”

Categorias
Ásia & AméricasNotíciaPaquistão
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments