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Reino Unido ‘ameaçou’ Israel com o reconhecimento de um estado palestino

O Reino Unido ameaçou Israel com o eventual reconhecimento de um estado palestino, caso o regime sionista avançasse em seus planos de anexação da Cisjordânia ocupada.

O episódio é mencionado no novo livro do jornalista israelense Barak Ravid, intitulado “Trump’s Peace” — em tradução livre, “A paz de Trump”.

O alerta foi emitido em 2020, semanas antes do então premiê Benjamin Netanyahu implementar seu esquema de anexação da Cisjordânia. A medida, segundo analistas, teria aniquilado a “solução de dois estados”, consenso adotado pela comunidade internacional.

Karen Elizabeth Pierce, embaixadora de Londres nas Nações Unidas, manifestou sua ameaça a Avi Berkowitz e Brian Hook — respectivamente, enviados do ex-presidente americano Donald Trump para o processo de paz no Oriente Médio e questões relacionadas ao Irã.

Em 12 de junho de 2020, a diplomata britânica advertiu ambos que outros países acompanhariam a medida, caso Tel Aviv prosseguisse com seus planos.

A equipe de Washington foi então inundada com telefonemas de líderes globais para advertir contra o projeto de Netanyahu. A ameaça britânica, todavia, surpreendeu a Casa Branca, sob receios de um efeito em cadeia caso enfim reconhecido o estado palestino — principalmente, entre países europeus, como França e Espanha.

Em maio de 2020, Netanyahu anunciou intenção de anexar 30% da Cisjordânia, a despeito de provisões da lei internacional, que determinam a área como parte de um futuro estado palestino, junto da Faixa de Gaza sitiada, com Jerusalém Oriental como sua capital.

Os territórios, no entanto, permanecem sob controle de facto do regime israelense, desde sua captura em 1967. Embora não haja uma anexação formal, devido à pressão internacional, a ocupação militar entrincheirou-se no perímetro ao longo das décadas.

Estima-se agora que quase um milhão de colonos israelenses vivem em assentamentos ilegais exclusivamente judaicos, instaurados na Cisjordânia ocupada.

Neste entremeio, o estado israelense declinou cada vez à extrema-direita, com a ascensão de um campo obstrucionista que se opõe de forma veemente às demandas palestinas. Em contraponto, grupos de direitos humanos passaram a denunciar Israel pelo crime de apartheid.

LEIA: A investigação de crimes de guerra pela ONU ainda está manchada por décadas de apoio colonial a Israel

Segundo Ravid, David Friedman, então embaixador de Trump em Israel e notório defensor dos assentamentos ilegais, encorajou Netanyahu a promulgar a anexação da Cisjordânia, sem sequer debater o plano com o presidente americano e seu genro e assessor, Jared Kushner.

Os Emirados Árabes Unidos ofereceram então uma solução ao impasse, ao normalizar relações com a ocupação israelense, supostamente a fim de suspender a anexação das terras ocupadas, naquilo que tornou-se conhecido como Acordos de Abraão.

Em entrevista à rede i24News, Ravid revelou detalhes de seu encontro com Trump.

Conforme o autor, o ex-presidente culpa Israel pelo revés de sua política externa. Questionado sobre por que fez tantas concessões à ocupação, Trump alegou ser condicionado a pensar que Tel Aviv queria a paz, enquanto os palestinos seriam os obstrucionistas.

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