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Três planos da ocupação israelense para 2022

Judeus ucranianos realizam a aliyah (migração para Israel), ao pousar no Aeroporto Internacional Ben Gurion, perto de Tel Aviv, em 22 de dezembro de 2014 [GIL COHEN-MAGEN/AFP via Getty Images]
Judeus ucranianos realizam a aliyah (migração para Israel), ao pousar no Aeroporto Internacional Ben Gurion, perto de Tel Aviv, em 22 de dezembro de 2014 [GIL COHEN-MAGEN/AFP via Getty Images]

Primeiro plano: Israel quer absorver uma nova onda em potencial de imigrantes da Ucrânia, sob expectativas de que a Rússia lance uma guerra aberta contra o país vizinho no início de 2022. Moscou, por sua vez, mobilizou cem batalhões na região de fronteira. Especialistas recomendam prontidão para um grande número de imigrantes, de modo que orçamentos especiais já foram aprovados para tanto. Há também a possibilidade de uma grande onda migratória da própria Rússia, devido a eventuais sanções promulgadas por Estados Unidos e Europa contra a ofensiva, que deverá levar milhares de judeus a deixar o país.

Em 19 de dezembro, escreveu Micha Levinson ao Jerusalem Post: “Segundo o Anuário Judaico-Americano de 2019, aproximadamente 200 mil ucranianos são elegíveis a realizar a aliyah [migração para Israel] sob a chamada Lei do Retorno. Embora a maioria não se identifique como judeus, tampouco seja praticante, dezenas de milhares buscam refúgio e devem pedir então a cidadania israelense”. Nessa conjuntura, segundo Levinson, o governo de Naftali Bennett sugere agora remover o monopólio de judaização imposto pelo rabinato-chefe de Israel, cuja perspectiva é bastante puritana, a fim de conferir a rabinos modernos ou reformistas a oportunidade de acelerar o processo. Isso se deve a uma demanda de meio milhão de imigrantes oriundos da antiga União Soviética e outros países que não são judeus, segundo os parâmetros do rabinato israelense. No último ano, o chefe dos rabinos sefarditas, Yitzhak Yosef, chegou a descrevê-los como “comunistas hostis à religião”. Entretanto, trata-se de 5% dos judeus israelenses, de acordo com a análise de Sergio Della Pergola, considerado o principal perito em demografia do país, professor da Universidade Hebraica.

O segundo plano tornou-se evidente em uma reportagem do jornal Israel Hayom, publicada em 19 de dezembro, e refere-se ao método de repressão aos protestos e levantes palestinos, que resistem em suas terras ocupadas desde 1948. Escreveu Yoav Limor: “Após a Operação Guardião das Muralhas, as Forças de Defesa de Israel [FDI] e a polícia israelense trabalharam para absorver lições do conflito para o futuro. Foi imediatamente decidido transferir o comando das unidades de fronteira do exército à polícia, além de convocar tropas do Comando do Fronte Doméstico para substituir os policiais na segurança de bases e comboios das Forças Armadas. Quanto às novas unidades da Polícia de Fronteira, serão compostas por reservistas que serviram, até então, em unidades regulares do exército, frequentemente na infantaria ou na defesa de fronteira”.

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“A unidade participará de atividades operacionais em curso na Judeia e Samaria [Cisjordânia ocupada] e na cidade de Jerusalém; caso necessário, agirá sob diretrizes da polícia para conduzir missões de segurança interna, além de impedir levantes violentos nas cidades mistas”, acrescentou. Tais cidades mistas — isto é, com considerável presença árabe-palestina — incluem Lod, Nazaré, Haifa, Acre, entre outras. Esta unidade conduziu seu primeiro teste de campo há poucos dias, na cidade palestina de Umm al-Fahm, e será incumbida de executar intervenções rápidas sob pretexto de manter a segurança e combater “terroristas” ou “assassinatos”. Contudo, seu objetivo implícito é oprimir a resistência palestina.

Israel continua a demolir casas palestinas [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Israel continua a demolir casas palestinas [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

O terceiro plano implementa-se no exterior, sobretudo nos Estados Unidos, por meio de sua maior organização de lobby, o Comitê de Assuntos Públicos Israelo-Americano (AIPAC). A organização deseja mudar sua própria imagem e estrutura para apoiar diretamente candidatos ao Congresso, ao financiar campanhas de figuras pró-Israel nas próximas eleições. Seu apoio será no âmbito financeiro e logístico, para atrair apoiadores tanto entre correligionários democratas quanto republicanos.

Betsy Berns Korn, presidente da AIPAC, comentou: “Ao longo de nossa história, o Conselho de Diretores ajustou regularmente nossa estratégia política para garantir seu êxito em meio às mudanças frequentes na cidade de Washington. O ambiente político da capital passa agora por uma profunda mudança. O hiperpartidarismo, a alta rotatividade do congresso e o crescimento exponencial dos custos de campanha dominam a paisagem. Dessa forma, nossa diretoria decidiu introduzir novas ferramentas”. Acrescentou: “A AIPAC apoiará mandatários democratas e republicanos que apoiam Israel, além de novos candidatos ao congresso. A criação de novos comitês de assuntos públicos faz parte de diversas iniciativas lançadas nos últimos anos, incluindo aumento na presença nas redes sociais, esforços nas mídias digitais e um aplicativo da AIPAC que será lançado em breve. Até então, nossas iniciativas aumentaram substancialmente o número de nossos membros, a mais de 1.5 milhões de pessoas, e ainda crescendo”.

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Steven Grossman, ex-presidente da AIPAC e membro do partido Democrata, comentou as mudanças: “Considerando a evolução na política americana, principalmente nos últimos dez anos, mais ou menos, expresso meu apoio ao que está fazendo nosso comitê, porque concede à organização e seus membros uma oportunidade de exercer um papel ainda mais ativo na vida política dos Estados Unidos, em um momento crucial”.

Encerro ao desejar que sejamos capazes de aprender com os sistemas de planejamento e preparo de Israel para o futuro, ao corrigir o curso de nossa luta, admitir nossos erros e então elaborar projetos mais adequados. Lembrem-se: a política é como um jogo de xadrez e a vitória somente é alcançada quando conhecemos a estratégica de nosso oponente.

Este artigo foi publicado originalmente em árabe pela rede Al-Ayyam, em 22 de dezembro de 2021

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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