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A Autoridade Palestina não tem política própria, apenas um compromisso

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, em Sochi, Rússia, em 23 de novembro de 2021 [Mia Rossiya Segodnya/Agência Anadolu]

Em outubro, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, se opôs “à expansão dos assentamentos [israelenses], que é completamente inconsistente com os esforços para diminuir as tensões e garantir a calma, e prejudica as perspectivas de uma solução de dois Estados”. Durante uma reunião virtual no início deste mês entre autoridades americanas e palestinas para renovar o Diálogo Econômico EUA-Palestina (USPED, na sigla em inglês), a secretária assistente dos EUA para Assuntos do Oriente Médio, Yael Lempert, afirmou que melhorar as relações econômicas com a Autoridade Palestina avançaria “nosso objetivo político abrangente: uma solução negociada de dois Estados, com um Estado palestino viável vivendo lado a lado em paz e segurança com Israel”.

Não é de se admirar, portanto, que um oficial palestino não identificado citado pelo Jerusalem Post esteja expressando a opinião de que a política de assentamento de Washington é “uma virada de 180 graus” daquela adotada pelo predecessor do presidente americano Joe Biden, Donald Trump. Tudo o que a Autoridade Palestina está buscando é uma reiteração do que a comunidade internacional há muito chegou a um consenso: um acordo retórico que fornece um verniz para a impunidade israelense.

“O governo Biden compartilha nossa visão de que a política de assentamento de Israel é um obstáculo à paz e à solução dos dois Estados”, disse o funcionário não identificado. Se isso é tudo que a AP precisava para se convencer de uma mudança na política dos EUA, o nível de ilusão em Ramallah está atingindo novos patamares.

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Talvez a AP precise de um lembrete de que Biden não é contra as políticas de Trump e não fez nenhum esforço para restaurar a posição dos EUA à da era pré-Trump. Mesmo as doações humanitárias da América para a UNRWA foram apenas cautelosamente e parcialmente restauradas, com ressalvas, muito longe das expectativas que a AP tinha sobre o triunfo eleitoral de Biden quando se apressou em se reconciliar com Washington sem saber o que o novo presidente dos EUA tinha em mente.

Nas questões mais urgentes, como Jerusalém e a anexação de fato de Israel das terras palestinas ocupadas, Biden está contente em permitir que o legado de Trump siga seu curso, com benefícios óbvios para Israel. Se a AP fosse levada a sério no assunto da independência palestina, falaria sobre as discrepâncias na narrativa de Biden, já que o governo ainda mantém a maioria das políticas de Trump. Infelizmente, a AP só pode ser levada a sério por conta de sua cumplicidade com atores externos que minam os direitos políticos do povo palestino. Nesse nível, a AP pode se orgulhar de uma lista de conquistas que continuam a colocar em risco toda a luta anticolonial palestina, em troca de nada além da construção ilusória de um Estado.

A AP não tem política própria, apenas um compromisso. Se os Estados Unidos estão em pé de igualdade em termos de política com as demandas palestinas, então esse é mais um motivo para exigir uma mudança na liderança e realizar eleições democráticas livres e justas na Palestina. A AP se alinhando abertamente com uma estratégia que sabota qualquer fragmento dos direitos políticos dos palestinos vai além da hipocrisia de dois Estados. O que a AP se recusa a considerar é que a “solução” de dois Estados agora é subserviente às mudanças efetuadas por Trump, notadamente a anexação de fato. De fato, a opção dos dois Estados foi declarada morta na água antes mesmo de Trump entrar na Casa Branca. No entanto, desde que forneceu as ferramentas para o aniquilamento total dessa “solução”, a AP ainda persegue o seu espectro.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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