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Chefe de direitos humanos da ONU condena morte de manifestantes no Sudão

19 de novembro de 2021, às 10h10

Protesto pelo fim da intervenção militar e retorno a uma transição civil em Cartum, Sudão, 13 de novembro de 2021 [Mahmoud Hjaj/Agência Anadolu]

A Alta-Comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, condenou nesta quinta-feira (18) o assassinato de ao menos 39 pessoas por forças de segurança do Sudão, desde o golpe militar de 25 de outubro, segundo informações da agência Anadolu.

As informações são da agência Anadolu.

Quinze pessoas foram baleadas e mortas somente na quarta-feira (17), durante protestos na capital Cartum, além dos centros urbanos de Cartum do Norte e Omdurman.

“Após nossos reiterados apelos ao exército e às autoridades para evitarem recorrer a força desnecessária ou desproporcional durante os protestos, é uma absoluta vergonha que munição real fora novamente utilizada contra os manifestantes”, comentou Bachelet.

“Disparar contra multidões de manifestantes desarmados, deixando dezenas de mortos e muitos feridos, é algo deplorável, com intuito claro de sufocar a oposição política, e equivale a uma grosseira violação da lei internacional de direitos humanos”, acrescentou.

Desde quarta-feira, a autoridade militar desligou toda a comunicação do país, incluindo redes de telefonia e internet. Apenas serviços por satélite continuam a funcionar.

A Associação de Profissionais do Sudão — que liderou as manifestações que depuseram o longevo presidente Omar al-Bashir, em 2019 — e o Partido do Congresso Sudanês convocaram a população em massa para comparecer aos protestos desta semana.

O escritório de direitos humanos da ONU mencionou fontes médicas ao observar que mais de cem pessoas foram feridas durante a marcha popular de quarta-feira — dentre as vítimas, oitenta pessoas com ferimentos de arma de fogo no torso ou cabeça.

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Gás lacrimogêneo foi utilizado de forma abundante e campanhas de prisão foram executadas antes, durante e depois das manifestações.

Em contrapartida, a polícia alegou em comunicado que 89 agentes foram feridos.

“Desligar a comunicação significa que as pessoas não podem chamar ambulâncias para tratar seus feridos ou checar o bem-estar de suas famílias; hospitais não conseguem contactar médicos enquanto lotam os pronto-socorros”, reafirmou Bachelet.

“São alguns dos exemplos das consequências gravíssimas de tais medidas”, enfatizou. “Desligar arbitrariamente internet e telefonia viola princípios fundamentais de necessidade e proporcionalidade, em franco desrespeito da lei internacional”.

Jornalistas atacados

De acordo com o escritório de direitos humanos da ONU, jornalistas — sobretudo críticos em potencial das autoridades — foram atacados deliberadamente desde o golpe militar.

Há informações de tentativas de sequestro, conduzidas por agressores à paisana.

“Sem internet, o papel dos repórteres de obter detalhes sobre a situação é particularmente crucial”, destacou Bachelet. “Porém, temo que o ambiente cada vez mais hostil possa levá-los à autocensura e ameaçar ainda mais o pluralismo e a independência”.

No final de outubro, o general Abdel Fattah al-Burhan, chefe do conselho militar que governa o Sudão, declarou “estado de emergência” e destituiu as autoridades de transição, ao alegar “perigo iminente” e acusar opositores de “semear o caos”.

Bachelet exortou ainda o regime militar a libertar imediatamente todos aqueles encarcerados “por exercer seus direitos de liberdade de expressão e assembleia pacífica”.

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