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‘As pessoas serão prejudicadas’; Líbano corta subsídios de saúde

Profissionais de saúde iniciam vacinação contra o covid-19, no Hospital Rafik Hariri, na capital libanesa Beirute, 14 de fevereiro de 2021 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]
Profissionais de saúde iniciam vacinação contra o covid-19, no Hospital Rafik Hariri, na capital libanesa Beirute, 14 de fevereiro de 2021 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Christine, enfermeira de 28 anos do exército libanês, costumava gastar um quarto de seu salário em remédios essenciais à saúde de seus pais, ambos pacientes cardíacos. Nesta semana, contudo, o governo decidiu cortar subsídios sobre os medicamentos.

Agora, o preço etiquetado deverá exaurir todo seu salário, além da pouca remuneração de seu pai de 65 anos, que trabalha de madrugada como segurança particular.

“Nenhuma família pode arcar com isso”, declarou Christine à agência Reuters — adotando apenas seu primeiro nome devido a restrições militares para falar com a imprensa.

“O governo chegou ao poder para salvar o país, mas não somente nos abandonou ao destino, como nos deixou uma morte lenta e dolorosa”, acrescentou.

O gabinete do premiê Najib Mikati, empossado em setembro, reverteu uma série de subsídios a bens essenciais, incluindo combustível e medicamentos. Todavia, não forneceu à população cada vez mais vulnerável e empobrecida qualquer rede de segurança social.

O colapso econômico no Líbano — decorrente da corrupção endêmica, má gestão e gastos abusivos — é descrito como uma das piores depressões do mundo moderno.

Três quartos da população sofrem com a pobreza, segundo estimativas da ONU.

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Na última semana, um perito da entidade internacional advertiu, porém, que as autoridades continuam no “mundo da lua”, sem qualquer senso de urgência para atenuar a crise.

O Ministro da Saúde Firass Abiad insistiu à Reuters que uma série de subsídios continua em vigor, incluindo medicamentos caros e indispensáveis, de modo que a população pode encontrá-los gratuitamente nos postos de saúde.

Abiad deplorou a falta de alternativas públicas como “crime”, mas defendeu a austeridade sobre o setor de saúde com base na necessidade financeira e no pressuposto de que as drogas em questão seriam exauridas por meses, após duas semanas.

“É a primeira vez que alguém busca soluções realistas e sustentáveis”, reafirmou.

‘As pessoas serão prejudicadas’

No total, o Líbano cortou os subsídios de saúde de US$120 milhões por mês a cerca de US$35 milhões, segundo Assem Araji, chefe do comitê responsável do parlamento.

O congressista descreveu a mudança como preocupante e enfatizou: “As pessoas serão prejudicadas. Bastante prejudicadas”.

A carestia afetou então drogas cruciais a pacientes crônicos, como a insulina, cujo preço quadruplicou de 180 mil libras libanesas (US$120 no câmbio oficial; US$8 no mercado ilegal) a 730 mil libras — isto é, assima do salário mínimo mensal.

“Os pacientes têm surtos de hiperglicemia que os levam quase à morte”, reafirmou o farmacêutico Ali Hawilo, questionado sobre a falta de remédios.

Segundo profissionais radicados em Beirute, o abastecimento é escasso.

O gerente Rabih Chaar observou que uma cliente teve uma crise de pânico em sua loja, nesta semana, ao descobrir a falta de seu medicamento psiquiátrico. Consumidores entram nas farmácias para serem informados que não há estoque.

“Logo chegará mais produtos, mas as pessoas não poderão pagá-los”, reiterou.

Algumas pessoas, ao constatarem os novos preços, desistem ou buscam alternativas.

Hussein Sheikh, motorista de 75 anos, pediu dinheiro emprestado de seu chefe para custear seu remédio de asma, após o preço subir de 37 mil libras e 126 mil libras. “Não há maior roubo! Ninguém diz nada, ninguém parece preocupado”, queixou-se Hussein.

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