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Israel adota tecnologia de reconhecimento facial na Cisjordânia ocupada

Tecnologia de reconhecimento facial na estação de metrô Mezhdunarodnaya, em Moscou, Rússia, 27 de agosto de 2021 [Andrey Rudakov/Bloomberg via Getty Images]

Israel adotou um programa de reconhecimento facial abrangente na Cisjordânia ocupada nos últimos dois anos, que catalogou milhares de palestinos, segundo reportagem do jornal americano The Washington Post, publicada nesta segunda-feira (7).

A iniciativa “Lobo Azul” utiliza aparelhos de celular para capturar retratos de cidadãos palestinos e então carregá-los a um banco de dados descrito como “Facebook clandestino” por um ex-agente da inteligência de Israel

O aplicativo exibe cores distintas para indicar se um indivíduo deve ser detido ou não.

No último ano, soldados israelenses participaram de uma competição para ver quem registrava o maior número de rostos palestinos, incluindo crianças e idosos. Conforme o Post, foram coletados “no mínimo” milhares de retratos.

Alguns palestinos — sobretudo mulheres — resistiram às fotografias, mas soldados da ocupação os forçaram a obedecer e tolerar as demandas.

A reportagem embasou-se em entrevistas com seis ex-soldados israelenses. Todos conversaram com o Post ou com a iniciativa de direitos civis “Breaking the Silence”, em condição de anonimato, sob receios de repercussões em potencial.

O programa “Lobo Azul” é empregado, em particular, na cidade de Hebron (Al-Khalil), na Cisjordânia ocupada, foco de conflito entre palestinos nativos e colonos ilegais.

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Câmeras de vigilância foram instaladas nos postos de controle da região.

Uma das fontes justificou sua denúncia ao descrever o sistema instituído em Hebron como “absoluta violação da privacidade de todo um povo”.

“Jamais me sentiria confortável se isso fosse adotado no shopping perto de casa, digamos assim”, argumentou um ex-agente de inteligência. “As pessoas costumam se preocupar com as impressões digitais, mas isso é mil vezes pior”.

Issa Amro, ativista e residente de Hebron, reiterou que as atividades de Israel buscam tornar insustentável a vida dos palestinos locais, a fim de coagí-los a deixar a cidade e substituí-los por colonos israelenses.

“As câmeras têm apenas um olho — o que vê os palestinos”, destacou Amro. “Da hora em que deixa sua casa, ao momento em que retorna, você está sendo filmado”.

Segundo o The Washington Post, uma proposta israelense para incorporar a tecnologia em espaços públicos, para uso policial, rapidamente atraiu críticas.

“Ao passo que países desenvolvidos impõem restrições a vigilância, fotografia e reconhecimento facial, a situação descrita constitui grave violação de direitos básicos, como a privacidade”, comentou Roni Pelli, advogado da Associação de Direitos Civis em Israel

“Soldados são incentivados a coletar tantas fotos de homens, mulheres e crianças palestinas quanto possível, em uma espécie de competição”, acrescentou Pelli. “O exército israelense deve abandonar suas práticas imediatamente”.

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