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Escritor dos refúgios e colonialismo ganha Nobel de Literatura

Abdulrazak Gurnah [wikimedia]
Abdulrazak Gurnah [wikimedia]

A Academia Sueca anunciou nesta manhã de quinta-feira que Abdulrazak Gurnah ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2021 “por sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes.”

Anders Olsson, presidente do comitê que concede o prêmio, disse na entrevista coletiva na quinta-feira que Gurnah “é amplamente reconhecido como um dos escritores pós-coloniais mais proeminentes do mundo”. Gurnah “de forma consistente e com grande compaixão, penetrou os efeitos do colonialismo na África Oriental e seus efeitos nas vidas de indivíduos desenraizados e migrantes”, acrescentou.

Primeiro africano a ganhar o prêmio em quase vinte anos, Gurnah nasceu em 1948 e cresceu na ilha de Zanzibar, que hoje faz parte da Tanzânia, chegando na Inglaterra na década de 1960 como refugiado. “Após a libertação pacífica do domínio colonial britânico em dezembro de 1963, Zanzibar passou por uma revolução, que, sob o regime do presidente Abeid Karume, levou à opressão e perseguição de cidadãos de origem árabe; massacres ocorreram”, relata a academia, em nota à imprensa. De origem árabe, Gurnah precisou fugir aos 18 anos, passando a morar na Inglaterra.

Em 1987, aos 21 anos, escreveu seu primeiro  livro (“Memory of Departure”) sobre um jovem que parte em busca de refúgio em Nairobi, na casa de um um tio, mas  humilhado e explorado, é obrigado a voltar para a casa do pai alcoólatra e da irmã forçada a se prostituir.

A partir daí  publicou dez livros e vários contos, sempre retornando à temática do refúgio e dos impactos do colonialismo. Entre eles estão “Pilgrims Way” (1988), “Dottie” (1990) e “Paradise” (1994). Este último se passa na virada do século XX, quando a África Oriental estava sob controle colonial alemão, o romance Paraíso de Abdulrazak Gurnah, de 1994, inclui relatos da última das caravanas “árabes” comerciais da costa da África Oriental , passando por versões bíblicas da história de Yusuf.

A crítica literaria Laura Winters, escreveu no The New York Times em 1996 sobre outra obra,“Admirando o Silêncio” dizendo que o autor “habilmente descreve a agonia de um homem preso entre duas culturas, cada uma das quais o repudiaria por seus vínculos com as outras. ”

Os personagens de seus romances, acrescentou Olsson, “se encontram no abismo entre culturas e continentes, entre a vida deixada para trás e a vida futura, enfrentando o racismo e o preconceito, mas também se obrigando a silenciar a verdade ou reinventar a biografia para evitar conflitos com a realidade. ”

Gurnah fala suaíli, escreve em inglês e mantém traços de árabe e alemão em suas obras. Antes dele, foram premiados os africanos  Wole Soyinka da Nigéria,em 1986ç Naguib Mahfouz do Egito, em 1988; e os sul-africanos Nadine Gordimer em 1991 e John Maxwell Coetzee em 2003.

Este ano, a academia foi criticada pela falta de diversidade, sendo que  95 dos 117 ganhadores do Nobel anteriores eram da Europa ou da América do Norte, e que apenas 16 vencedores eram mulheres.

No ano passado, a poetisa americana Louise Glück recebeu o prêmio de literatura. Em 2019, a academia foi criticada por dar o prêmio ao escritor Peter Handke, acusado de negar genocídio nas Guerras dos Bálcãs da década de 1990 – incluindo o massacre de Srebrenica, no qual cerca de 8.000 homens muçulmanos e meninos foram assassinados.

LEIA: Professora palestina é semifinalista do ‘Nobel da Educação’

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