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Renúncias no Ennahda, na Tunísia, ‘não levam a um novo partido’

Samir Dilou, um líder do Movimento Ennahda da Tunísia (centro) em Tunis, em 17 de setembro de 2019 [Fethi Belaid/AFP/Getty Images]

Os membros do alto escalão do movimento Ennahda na Tunísia que renunciaram ao partido contaram ao site Arabi21 por que o fizeram. Mais de cem membros renunciaram no fim de semana. Uma declaração conjunta afirma que  “as escolhas políticas erradas da liderança levaram ao seu isolamento e ao fracasso em se engajar em qualquer frente comum para resistir ao perigo autoritário iminente representado pelo anúncio do presidente Kais Saied na semana passada de que ele governará por decreto”.

Eles acrescentaram que “a ruptura da democracia interna do movimento e a tomada de decisão unilateral por um grupo daqueles que são leais aos seus líderes resultaram em decisões e escolhas erradas que levaram a alianças políticas que não têm lógica ou benefício e contradizem as promessas feitas a eleitores”.

Os que renunciaram ao Ennahda negam que pretendam estabelecer um novo partido. “É, ao contrário, uma base para a libertação e o engajamento na luta para resistir ao golpe do presidente Kais Saied e sua tirania.”

De acordo com Amal Azzouz, integrante demissionária do partido, “as razões para renunciar ao movimento Ennahda são inúmeras, principalmente o fracasso de todas as tentativas de reforma dentro do movimento. Reconhecemos esse fracasso. Não tivemos sucesso em fazer reformas dentro do Ennahda. Lutamos contra a interrupção da democracia no movimento, a marginalização das instituições e a centralização e exclusividade da tomada de decisões”. Ela fez seu comentário em nota exclusiva à Arabi21.

LEIA: Tunísia tem protestos pelo fim do golpe presidencial

“Para nós, tudo o que aconteceu agora está no passado. Os que ficaram podem continuar lutando pela reforma dentro do movimento, mas não temos mais interesse nisso. Estamos olhando para o futuro. Há outro motivo: as escolhas e políticas erradas do movimento. A liderança atual levou o partido a um verdadeiro isolamento.” Ela acrescentou que um “terremoto político” ocorreu em 25 de julho, quando Saied impôs “medidas de emergência” à Tunísia. “Isso requer o engajamento em uma frente nacional comum para resistir ao perigo tirânico real que o presidente representa.”

Ela afastou as preocupações sobre o momento das demissões e a pressão que isso poderia exercer sobre o Ennahda. “O que importa para nós agora não é o Ennahda. O relacionamento foi cortado. Fizemos grandes esforços para a reforma, mas esta fase é difícil e perigosa. Hoje estamos livres de todas as restrições.”

O ex-ministro Samir Dilo explicou que as renúncias foram apresentadas basicamente pela “impossibilidade” de reforma interna em decorrência do rompimento das instituições e pelo fato de [o dirigente Rached] Ghannouchi e seu grupo tomarem decisões “isoladamente” e não em consulta. “O isolamento da liderança do Ennahda na cena política e civil é resultado de suas políticas que criaram as condições propícias ao ressentimento  antes de 25 de julho. O apoio popular a uma virar a página, liderado pelo Ennahda, talvez seja evidência de sua parte de responsabilidade pelo afastamento total da legitimidade constitucional,  decidido na semana passada por Saied.”

O estado de emergência da Tunísia está sendo usado para restringir as liberdades? [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Especialistas jurídicos veem a última medida do presidente como a abolição da Constituição da Tunísia, com uma completa tomada dos poderes executivo e legislativo, e a introdução, com isso, de um sistema presidencial em vez de parlamentar.

Azzouz sugeriu que mais pessoas renunciem ao Ennahda, mas reiterou que a intenção não é formar um novo partido. Ela confirmou que o líder do partido, Belkacem Hassan, não contatou nenhum dos membros que renunciaram.

Dilo concordou que a lista de pessoas que renunciaram pode ser atualizada. “Mas não estamos tentando incitar outros a renunciar.” Ele enfatizou que aqueles que deixaram o Ennahda compartilham uma história de buscar a reforma do movimento. “O que se segue depende das discussões em curso entre quem renunciou e outros. Seja o que for, não vai complementar o Ennahda, nem cloná-lo nem competir com ele.”

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