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Sudão dispõe-se a aceitar acordo interino sobre a Represa do Renascimento

16 de junho de 2021, às 09h14

Rio Nilo Azul passa pelas obras da Grande Represa do Renascimento, na região de Guba, Etiópia, 26 de dezembro de 2019 [Eduardo Soteras/AFP via Getty Images]

Nesta segunda-feira (14), o Sudão expressou disposição em aceitar um acordo interino para o preenchimento parcial da Grande Represa do Renascimento, desde que as negociações continuem conforme um prazo e que sejam mantidos os consensos estabelecidos até então.

Em coletiva de imprensa, o Ministro de Irrigação e Recursos Hídricos Yasser Abbas afirmou: “O Sudão aceita um acordo interino … sob três condições: incluir todos os aspectos acordados previamente; garantir a continuidade das negociações; e conduzí-las dentro de um prazo”.

Porém, reiterou: “Preparamos nossos procedimentos legais sobre a Represa do Renascimento e aguardamos agora o momento certo para agir judicialmente contra a Etiópia”,

Pouco antes da coletiva, o Ministro de Irrigação e Recursos Hídricos do Egito Mohamed Abdel-Aty acusou autoridades etíopes de contaminar estações de tratamento de água para consumo no território sudanês, ao liberar grandes quantidades de lodo.

Relatou Abdel-Aty: “O lado etíope liberou grandes quantidades de água lamacenta em novembro último, sem informar os países a jusante, o que causou um aumento na turbidez da água destinada ao consumo em estações de tratamento no Sudão”.

LEIA: Ministro da Irrigação do Egito acusa a Etiópia de estragar os postos de bebida do Sudão

“A implementação do primeiro preenchimento da Represa do Renascimento pela Etiópia, sem coordenação com os dois países a jusante, causou ao Sudão um severo estado de seca, seguido por enormes inundações”, prosseguiu o ministro egípcio.

Abdel-Aty insistiu que seu país e o Sudão “não aceitarão qualquer medida unilateral para preencher e iniciar as atividades da barragem etíope”.

Egito e Sudão decidem agir

Nesta quarta-feira (16), o Conselho da Liga dos Estados Árabes deu início a uma reunião extraordinária no Catar, para debater a crise sobre a Grande Represa do Renascimento, a pedido de Egito e Sudão.

A Etiópia investiu US$5 bilhões na enorme represa construída perto da fronteira com o Sudão, na bacia hidrográfica do Nilo, sob a justificativa de obter eletricidade necessária para o consumo e a regeneração econômica do país.

O Egito é quase inteiramente dependente do Nilo, ao receber em torno de 55.5 milhões de metros cúbicos de água por ano, e acredita que a barragem terá impacto severo em seus recursos para consumo, agricultura e geração de energia elétrica.

O Cairo quer garantias de que receberá ao menos 40 bilhões de metros cúbicos de águas do Nilo. O Ministro de Irrigação da Etiópia Seleshi Bekele alegou que o regime egípcio de Abdel Fattah el-Sisi abandonou a demanda, mas foi desmentido reiteradamente.

Rio Nilo Azul passa pelas obras da Grande Represa do Renascimento, na região de Guba, Etiópia, 26 de dezembro de 2019 [Eduardo Soteras/AFP via Getty Images]