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Forças de Israel invadem Al-Aqsa às vésperas de ato da extrema-direita

Polícia israelense ataca palestinos com gás lacrimogêneo, balas de borracha e bombas de efeito moral perto do Portão do Leão, em Jerusalém Oriental, 10 de maio de 2021 [ Eyad Tawil/Agência Anadolu]
Polícia israelense ataca palestinos com gás lacrimogêneo, balas de borracha e bombas de efeito moral perto do Portão do Leão, em Jerusalém Oriental, 10 de maio de 2021 [ Eyad Tawil/Agência Anadolu]

Centenas de palestinos foram feridos por balas de borracha e gás lacrimogêneo à medida que a polícia da ocupação israelense mantém a violenta repressão contra protestos civis dentro e nos arredores da Cidade Velha de Jerusalém.

Segundo o Crescente Vermelho da Palestina, ao menos 215 palestinos ficaram feridos e 153 tiveram de ser hospitalizados, incluindo quatro em estado grave, após forças da ocupação invadirem o complexo da Mesquita de Al-Aqsa e dispararem projéteis contra o edifício antigo.

Um porta-voz do serviço de emergência de Jerusalém relatou que Israel nega acesso médico dentro da mesquita, ao ponto de confiscar macas utilizadas para evacuar os feridos.

As cenas de brutalidade na cidade sagrada ocorrem paralelamente à expulsão de quarenta cidadãos palestinos do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental ocupada, via ordem de despejo do judiciário da ocupação, para substituí-los por colonos ilegais israelenses.

A expropriação das casas em Sheikh Jarrah incitou tensões e provocou repúdio internacional.

Em janeiro, uma corte distrital israelense decidiu a favor de alegações coloniais que demandam posse de residências no bairro árabe.

LEIA: O que Israel pretende com os ataques a Al-Aqsa e Sheikh Jarrah?

Uma audiência da Suprema Corte de Israel foi marcada para hoje (10), a fim de avaliar recursos palestinos, mas foi adiada pelo Ministério da Justiça logo na véspera.

Entretanto, em manifestação contínua de solidariedade com os residentes de Sheikh Jarrah, palestinos tomaram as ruas em cidades por todo o território considerado Israel, além da Cisjordânia ocupada e Faixa de Gaza sitiada.

Ao falar com o Middle East Eye em Jerusalém, a ativista palestina Hanady Halawani descreveu uma situação alarmante na Mesquita de Al-Aqsa e nos arredores da Cidade Velha.

“Houve ataques na 28ª noite do Ramadã, que tiveram início mesmo antes”, relatou Halawani. “Quando há ataques como aqueles no Portão de Damasco, é claro que as pessoas têm medo, sobretudo as crianças, mulheres e fiéis em Al-Aqsa”.

Halawani reiterou que muitas pessoas ficaram feridas na manhã desta segunda-feira e que as forças israelenses também agrediram jornalistas a serviço no local.

A ativista observou ainda que a polícia de choque israelense invadiu o santuário de Al-Qibli, no extremo sul do complexo sagrado, onde fiéis realizavam suas preces.

“Chegamos a um novo momento agora e é muito perigoso”, prosseguiu. “A ocupação ultrapassou todos os limites contra os muçulmanos. Al-Aqsa, Ramadã, mulheres: não há limites que não foram violados por Israel”.

O diretor do Departamento de Recursos Islâmicos de Jerusalém denunciou à rede Al Jazeera que forças israelenses confiscaram as chaves de todos os acessos ao complexo islâmico.

LEIA: O cerco do Apartheid Israelense e a Nakba de Jerusalém

Marcha da extrema-direita

As tensões na região ainda devem chegar a um novo ápice à medida que colonos israelenses preparam-se para celebrar o chamado Dia de Jerusalém, que comemora a captura militar de Jerusalém Oriental durante a chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Grupos coloniais de extrema-direita planejaram uma marcha por grande parte da Cidade Velha, território palestino ocupado, a despeito de alertas e receios de maiores confrontos.

Itamar Ben-Gvir, líder do partido de extrema-direita Otzma Yehudit (Poder Judaico), alegou nesta segunda-feira que Israel “perdeu soberania” sobre Jerusalém.

“É hora de libertar o Monte do Templo e Jerusalém e mostrar quem é que manda de uma vez por todas”, escreveu Ben-Gvir no Twitter, ao compartilhar um vídeo no qual um carro israelense atropela deliberadamente um grupo de jovens palestinos.

O complexo de Al-Aqsa, um dos lugares mais sagrados para o Islã, também é considerado santo por fundamentalistas judeus. Os sionistas referem-se ao local como Monte do Templo, ao reivindicar a existência de dois templos bíblicos na Antiguidade.

Há séculos, o status quo de Jerusalém preserva o culto judaico no Muro das Lamentações, a oeste do complexo. Porém, como parte dos avanços coloniais, grupos nacionalistas passaram a propor a construção de um terceiro templo judaico no local, a despeito de Al-Aqsa.

ASSISTA: Colonos israelenses atacam a sala de oração Al-Qibli na mesquita de Al-Aqsa

O prospecto de maiores tensões após a chamada Marcha da Bandeira, convocada pela extrema-direita, após uma semana de confrontos na cidade, levou as forças de segurança a pressionar políticos para adiar o ato, reduzir a rota ou limitar o número de participantes.

Condenação internacional

Grande parte da comunidade internacional declarou repúdio à violência em Jerusalém e exortou comedimento da polícia e exército de Israel.

Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, conversou com sua contraparte israelense, Meir Ben-Shabbat, na noite de domingo (9), para expressar “grave preocupação” sobre a expulsão de palestinos em Sheikh Jarrah e a violência em Jerusalém.

“O sr. Sullivan destacou os recentes contatos de oficiais dos Estados Unidos com Israel, Palestina e partes relevantes para pressionar medidas que tragam calma, atenuem tensões e denunciem a violência”, declarou Emily Horne, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.

“O sr. Sullivan também reiterou a grave preocupação de Washington sobre os despejos em potencial de famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah”, prosseguiu em nota.

Ainda assim, Sullivan utilizou linguagem muito mais contundente em resposta ao disparo de foguetes da Faixa de Gaza sitiada, ao afirmar: “É inaceitável e deve ser condenado”.

LEIA: Israel dispara contra fiéis em Al-Aqsa; 100 palestinos ficam feridos

Fahrettin Altun, diretor de comunicações do governo da Turquia, fez um apelo por solidariedade dos países islâmicos a Jerusalém ocupada e aos palestinos em geral, em postagem no Twitter compartilhada na manhã desta segunda-feira.

“Ao mundo islâmico: É hora de parar os ataques cruéis e hediondos de Israel! À humanidade: É hora de pôr o estado de apartheid em seu devido lugar! É nosso dever histórico e humanitário. Lutaremos contra a opressão mesmo que fiquemos sozinhos”, escreveu Altun.

Publicado originalmente em Middle East Eye

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