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Documentário ´A corrida para a Judaização de Al Aqsa´

Embaixo de cada pedra há um filme que conta a história dos palestinos ... A corrida para a judaização de Al Aqsa

O programa “Al-Shahid”, que foi transmitido no canal de notícias Al-Jazeera, focou nas mudanças dentro de Israel para judaizar Al-Aqsa e no modo como pequenos grupos extremistas conseguiram alcançar uma porcentagem significativa das cadeiras do governo e do Knesset (parlamento).

“Desde que o projeto sionista teve inicio na Palestina, e desde a ocupação britânica há cerca de cem anos, a mesquita Al-Aqsa está ameaçada de perda e judaização, e o povo de Jerusalém e da Palestina e seus apoiadores abortam essas conspirações como podem”, explicou Mohsen Saleh.

Jerusalém em particular, a Cidade Velha e a Mesquita de Al-Aqsa, são expostas diariamente a múltiplas formas de racismo. Os habitantes de Jerusalém sofrem com a falta dos direitos mais básicos, de modo que a ocupação lhes impõe, por exemplo, taxas que chegam a centenas de milhares de dólares para conceder uma licença de construção, sem falar que a espera por liberação se estende por muitos anos. A ocupação também impõe restrições ao povo de Jerusalém e o impede de realizar as orações e praticar o culto na Mesquita de Al-Aqsa, por isso impede que jovens e crianças vão lá, e às vezes impõe apenas aos maiores de 60 anos a permissão de entrar na Mesquita de Al-Aqsa. A deportação de Jerusalém é praticada periodicamente e por decisões dos tribunais alinhados com o governo. Por exemplo, o sheik Raed Salah, que assumiu a prefeitura do município de Umm al-Fahm, vem sofrendo repetidas ordens de afastamento da mesquita de Al-Aqsa e prisções periodicamente, devido à sua descoberta das escavações a que a mesquita está sujeita, e sua posição contraria às medidas de ocupação na profanação de Jerusalém e na detecção da judaização sionista.

O documentário revela que o número de parlamentares israelenses que clamam por uma divisão temporal e espacial de Jerusalém gradualmente ascendeu. Por exemplo, em 2003 esse número no Parlamento era dois. Isso progrediu até 2015, onde eles chegaram a 14 dos 120 parlamentares no Knesset israelense.

A proposta de divisão espacial ou temporal é de ter um tempo para os palestinos realizarem atos rituais de adoração, bem como um tempo para os sionistas, ou então, uma parte da mesquita de Al-Aqsa para os sionistas e outra para os palestinos. Isso vai contra as normas e tradições internacionais. A Mesquita de Al-Aqsa é dos palestinos, e a ocupação não tem direito nenhum a ela.

As incursões de colonos na mesquita de Al-Aqsa se multiplicaram, pois de 2005 a 2016, o número de incursões em Jerusalém foi de 5.931, enquanto esse número saltou para 14.565 em 2016, e isso mostra o grande e perigoso crescimento de número de colonos.

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Nos últimos tempos, as incursões e a divisão temporal e espacial de Jerusalém tornaram-se parte da doutrina do exército de ocupação, que organiza viagens semanais a Jerusalém para novos recrutas, para conhecerem o suposto templo nos marcos da Mesquita de Al-Aqsa.

Ahmed Al-Taibi, membro árabe do Parlamento no Knesset israelense declarou:

“Os grupos de colonos eram pequenos no passado, e às vezes eram considerados extremistas, mas hoje se tornaram ministros do governo de Netanyahu. Infelizmente, o racismo hoje se tornou uma tendência importante. Talvez um dos cenários mais perigosos seja o fato de Netanyahu ser o primeiro-ministro do estado de ocupação e de que ele seja racista e extremista.”

A resistência do povo de Al-Quds sozinho e sua postura contra a normalização, e as medidas de tentação a que está exposto, formam um grande desafio. Por exemplo, a ocupação chega a oferecer às vezes centenas de milhões a um proprietário de uma casa na Cidade Velha, em troca de vender esta casa secretamente sem notificar outras pessoas ou seus familiares, e é claro que o palestino recusa! Isso em si é uma arma letal na luta contra os ocupantes.

Apesar das punhaladas a que o povo de Al-Quds é submetido pelas tentativas de alguns países de normalizar as relações com o ocupante, e às vezes há, infelizmente, países árabes que aceitam, o povo palestino é firme. Mas não notamos um apoio real ao povo. O que vimos é a prisão de quem trabalha por Jerusalém e pela Palestina, como aconteceu com alguns palestinos na Arábia Saudita e na América, visto que existem grupos sionistas e israelenses americanos especializados em judaizar Jerusalém, e que gastam anualmente cerca de 150 milhões de dólares americanos com o programa de divisão temporal e espacial. A Arábia Saudita impõe sentenças de morte a Muhammad Al-Khudary por seu apoio a Jerusalém e à Palestina, e os Estados Unidos prendem Moufid Mishaal e seus amigos da Fundação Terra Santa injustamente pelo mesmo motivo! Os programas de divisão e judaização estão em andamento e são apoiados por alguns governantes árabes e por Trump, e apenas a firmeza dos habitantes de Jerusalém, como Sheikh Raed Salah e Hanadi Al-Halawani, os impede. Trump não ficou satisfeito com com o apoio massivo no passado à ocupação sionista e apresentou Jerusalém como a capital de Israel!

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Em entrevista exclusiva, o Monitor do Oriente Médio conversou com o pesquisador Khaled Al-Daoum, diretor do Departamento de Pesquisa e Preparação da Taif Foundation for Television Production, que é uma das mais importantes produtoras de televisão do mundo árabe,  criada em 1997. Através da Fundação, ele participou da produção de cerca de cem documentários que variaram entre filmes humanitários, políticos, culturais e sociais para diversas redes, destacando a Al-Jazeera Media Network, a TV árabe e outros canais árabes.

Você acredita que o espaço árabe é o mais apropriado hoje para falar sobre um documentário que encarna o sofrimento dos povos oprimidos, especialmente do povo palestino?

Apesar do espaço que a tela árabe dá aos fatos acelerados do dia a dia, precisamos documentar o sofrimento e as experiências dos povos, especialmente o sofrimento do povo palestino que dura 70 anos, e acredito que canais e produtores árabes e até brasileiros e outras empresas, especialmente de dramaturgia e trabalho cinematográfico, devem pesquisar e encontrar um espaço para documentar as experiências dos povos rumo à libertação, e seu caminho cultivado com sofrimento e repleto de morte. A existência da tecnologia moderna tornou isso simples e fácil. O que estamos testemunhando hoje é uma história que será uma escola para as gerações futuras e uma escola viva e real com a qual as gerações aprenderão. Quantos eventos históricos importantes estudamos intensamente, mas ainda sofremos com o problema da veracidade e credibilidade e permanecemos reféns das séries históricas nas quais entram  muitas falácias e tendências políticas.

Hoje, o que produzimos a partir de filmes ao vivo e programas de documentários é um grande tesouro que estará à disposição das gerações futuras, sobre os quais constroem suas percepções, crenças, ideias e a história de seus antecessores.

Você acha que a Palestina precisa de outros documentários?

Eu acredito que a Palestina precisa documentar e redocumentar muitos dos detalhes e eventos que o povo palestino vive hoje, da vida sob ocupação que o cidadão palestino é afetado diariamente. Estamos diante do último povo que ainda está sob ocupação colonial.

A experiência do povo palestino, em todos os seus detalhes, ainda é indocumentada. Em cada cidade palestina e em cada exílio há uma história cheia de significados e detalhes. A tela árabe apresentou e continua apresentando documentários sobre a Palestina, mas você se surpreende com histórias que não tiveram seu espaço de transmissão, especialmente o que o palestino sofre na cidade de Jerusalém hoje e o que sofre no exilo. O que distingue a história palestina é que ela é contínua, conectada ao seu passado e estendida ao seu presente.

Como alguém disse: “Sob cada pedra palestina há um filme”.

O que aspira o pesquisador Khaled nos próximos dias, e quais são seus desejos?

Minha ambição é como a ambição de qualquer refugiado palestino que está sempre ansioso para que a Palestina volte a ser uma prioridade para os árabes, ser novamente destaque na telas árabes, cobrindo todos os detalhes e documentando-os como uma importante referência histórica para as gerações futuras.

Como você se sente ao ver alguns filmes ou documentários traduzidos para várias línguas? Entre eles estavam os filmes em que você trabalhou?

Sempre me sinto orgulhoso de que nossos filmes sejam exibidos nas telas e traduzidos em vários idiomas. No filme, você sempre faz um grande esforço, cansativo e árduo, e o cansaço desaparece quando as telas passam a mostrar as datas que são veiculado ao público, e sempre ficamos felizes com as opiniões dos seguidores, sejam elas positivas ou negativas, e sempre nos orgulhamos que o filme tenha eco mundial, transmite a mensagem do povo palestino e seu sofrimento.

 

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Palestina: quatro mil anos de história
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