Relembrando o golpe de estado na Síria de 1966

Membros de uma banda militar exibem faixa com imagens do Presidente da Síria Bashar al-Assad (à esquerda) e seu falecido pai e predecessor Hafez al-Assad, durante parada em comemoração do aniversário do partido Baath, em Damasco, 7 de abril de 2011 [AFP via Getty Images]

No fim de fevereiro de 1966, uma facção do Partido Árabe Socialista Ba’ath na Síria depôs a velha liderança via golpe. Entre os novos líderes da juventude ba’athista, estava Hafez al-Assad, que eventualmente chegou ao poder na chamada Revolução Corretiva de 1970.

O que: Deposição do governo da República Árabe da Síria

Onde: Síria

Quando: 21 a 23 de fevereiro de 1966

Contexto

Em torno dos últimos meses de 1965, a política síria se caracterizava por duas facções distintas do Partido Ba’ath. A primeira, o Comando Nacional, uma elite governante do ramo sírio do partido árabe. A outra, uma combinação do Comando Regional e do Comitê Militar partidário, que incluía o então futuro presidente Hafez al-Assad. Ambos os grupos ba’athistas chegaram ao poder juntos em 1963, após derrubar o governo do presidente Nazim Al-Qudsi, através de um golpe de estado.

Nos anos seguintes, as facções se distanciaram cada vez mais conforme escalava a crise econômica e desvanecia a fé popular na liderança política. Na ocasião, Assad e o líder da facção regionalista, Salah Jadid, começaram a planejar uma tomada militar de todo o partido. Contudo, o ex-aliado Muhammad Umran rompeu com ambos e delatou o complô ao Comando Nacional.

Uma vez exonerados alguns conspiradores, Jadid precipitou seus planos, ao forçar Umran ao exílio e tentar assumir o poder na Síria. Contudo, o Comando Nacional conseguiu resistir à marginalização de seu governo civil ao substituir seu líder por um político relativamente desconhecido. O novo líder tentou retomar o controle da crise ao ordenar a dissolução do Comando Regional, reverter o exílio de Umran e indicá-lo a Ministro da Defesa.

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O que aconteceu?

De volta a Damasco, Umran ordenou a transferência de três comandantes militares do Comando Regional a fim de enfraquecer a poderosa facção. Em resposta, Jadid forjou uma crise, ao reportar a Umran, em 21 de fevereiro, que confrontos entre oficiais estacionados na linha de frente haviam eclodido, inclusive com o uso de armas. As notícias forçaram Umran, o ex-premiê Amin al-Hafiz e o chefe do estado-maior a viajar às pressas para as colinas de Golã, para impedir o “motim”, sem saber tratar-se de uma mentira. Quando o grupo retornou à capital, em 23 de fevereiro, Jadid fez seu movimento e atacou a residência privada de Hafiz com um esquadrão de tanques.

O ataque ocorreu às 5 horas da madrugada, apenas duas horas após o grupo exausto retornar do fronte israelense. O tiroteio feriu dois dos filhos de Hafiz. Apesar da resistência, as forças de Hafiz tiveram de render-se quando acabou a munição. Jadid, enfim, pôde tomar o poder.

Contudo, houve resistência ao golpe fora de Damasco e Jadid decidiu enviar tropas a Homs para reprimir um iminente levante. Latakia, Deir ez-Zor e Aleppo também brevemente esboçaram movimentos contrários ao golpe, esmagados pelas forças de Jadid.

O que aconteceu a seguir?

Jadid rapidamente estabeleceu sua autoridade ao expulsar das forças armadas todos os oficiais leais a Umran e aprisioná-los na Penitenciária de Mezze, em Damasco, junto do ex-ministro. O novo líder sírio então nomeou Hafez al-Assad como Ministro da Defesa, apesar de ser notória a falta de apoio do futuro presidente ao golpe de 1966.

Assad pouco a pouco ganhou controle sobre o exército sírio à medida que Jadid distraía-se em estabilizar o país e conter o colapso econômico. Conceder domínio militar a Assad é visto como o maior erro da carreira de Jadid, que o levou à deposição na chamada Revolução Corretiva de 1970.

Ao longo de seu governo de quatro anos, Jadid, embora governante de fato da Síria, manteve-se secretário-assistente do Comando Regional do Partido Ba’ath. Jamais adotou o título oficial de Primeiro-Ministro ou Presidente do país.

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