Sudão reage a ações etíopes sobre Represa do Renascimento; prepara-se para o pior

Obras da Grande Represa do Renascimento na Etiópia, em 26 de dezembro de 2019 [Eduardo Soteras/AFP/Getty Images]

O Sudão começou a preparar-se para o cenário mais pessimista no que se refere à Represa do Renascimento, sobretudo após oficiais etíopes revelarem a intenção de Addis Ababa em preencher o segundo reservatório da barragem.

A Etiópia ainda não chegou a nenhum acordo com Sudão e Egito sobre o projeto bilionário na bacia hidrográfica do Nilo.

Cartum advertiu contra os riscos da nova medida, capaz de afetar sua Represa de Roseires, além de 20 milhões de cidadãos que vivem nas margens do Nilo Azul.

Nesta quarta-feira (10), segundo o jornal emiradense Al-Ruya, o engenheiro Mustafa Hassan, responsável pelo departamento técnico do Ministério de Recursos Hídricos do Sudão, declarou: “O governo sudanês é absolutamente contra preencher a represa unilateralmente”.

“O Sudão reivindica a assinatura de um acordo legal vinculativo com a Etiópia para fazê-lo”, prosseguiu Hassan, ao reiterar que a decisão de iniciar o preenchimento do próximo reservatório, em julho, afetará diretamente a Represa de Roseires e as atividades na região.

O avanço etíope poderá também prejudicar o funcionamento dos geradores do reservatório de Roseires e da Represa de Merowe, além de impactar projetos de irrigação e a eficácia de estações de tratamento de água no Nilo Azul e no afluente principal.

Hassan alegou ainda que a medida impõe uma verdadeira ameaça às vidas e à segurança de quase metade da população sudanesa, que vive nas margens do Nilo Azul.

Osama Abu Shanab, porta-voz do Ministério de Irrigação, corroborou os receios do governo sudanês: “Preencher a represa etíope ameaça a vida de 20 milhões de sudaneses que vivem nas margens do Nilo e afeta instalações situadas no Nilo principal até Atbara”.

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Segundo o hidrólogo Ahmed Al-Mufti, apesar da influente mediação dos Estados Unidos e do Banco Mundial, a Etiópia rejeitou a proposta elaborada, até então.

Al-Mufti argumentou que a única alternativa é interromper as negociações e retirar-se da Carta de Princípios da Grande Represa do Renascimento, a fim de provar a ilegalidade das ações relevantes e submeter o problema ao Conselho de Segurança da ONU.

“Nenhuma repercussão negativa pode emanar de revogarmos a Carta de Princípios, pois esta medida é resultado da violação do pacto por parte da Etiópia, sobretudo após preencher o primeiro reservatório unilateralmente”, prosseguiu.

O expert denunciou Addis Ababa por impor a primeira etapa sem conduzir os estudos estipulados pela declaração, tampouco concluir protocolos de segurança determinados pelo Princípio n° 8 do tratado.

“A participação do Sudão em gerir a barragem pode ser uma solução, caso respeitadas as condições necessárias; a primeira, emitir provisões do mecanismo conjunto de administração, conforme consenso dos representantes dos três países”, reiterou Al-Mufti.

Concluiu: “O acordo deve ser redigido com precisão e promulgado sob resolução do Conselho de Segurança da ONU … na presença de fiadores internacionais, conforme medidas de dissuasão extremas, caso haja violação etíope, incluindo congelamento das operações da represa sob ordem das Nações Unidas”.

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