Ativistas em Beirute protestam contra a morte de Luqman Salim, crítico do Hezbollah

Manifestantes reúnem-se em frente ao Palácio da Justiça em protesto contra o assassinato de Luqman Salim, ativista crítico ao Hezbollah, em Beirute, Líbano, 4 de fevereiro de 2021 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Cerca de cem ativistas marcharam no centro de Beirute neste sábado (6) para protestar contra o assassinato de Luqman Salim, proeminente ativista crítico ao grupo Hezbollah, e reivindicar uma investigação transparente sobre o crime.

Salim, autor xiita de 59 anos, administrava um centro de pesquisa, produzia documentários junto de sua esposa e liderava esforços para construir um arquivo nacional sobre a guerra civil sectária que assolou o Líbano entre 1975 e 1990.

Salim era um eloquente crítico do Hezbollah, ao denunciar as táticas de intimidação do grupo armado e suas tentativas de monopolizar a vida política libanesa. Foi encontrado baleado e morto em seu carro, na quinta-feira (4), no sul do Líbano.

Trata-se do primeiro assassinato de um ativista de destaque em anos.

Salim desapareceu na noite anterior. Foi executado com quatro tiros na cabeça e outro nas costas.

No sábado, sua esposa, Monika Borgmann, tuitou pela primeira vez desde o falecimento do marido, ao compartilhar uma imagem de fundo negro e somente duas palavras, em árabe: “Sem medo”. As mesmas palavras surgiram em cartazes, no protesto de ontem.

Os manifestantes acusaram o grupo xiita Hezbollah, ligado ao Irã, pelo assassinato.

“Caso o Hezbollah seja realmente inocente pelo crime … então tem de ajudar o aparato de segurança e o judiciário do Líbano [a solucioná-lo], sobretudo porque Luqman Salim foi morto em uma área de sua influência”, destacou Youssef Diab, um dos manifestantes.

“Caso isso não aconteça, então são suspeitos”, concluiu Diab.

O Hezbollah condenou o incidente ainda na quinta-feira.

Oficiais libaneses, incluindo o Presidente Michel Aoun, descreveram o caso como execução cometida contra o ativista libanês.

“Não o mataremos novamente com nosso silêncio”, reiterou uma manifestante que identificou-se somente como Nelly. “Meu único medo é que o povo continue assustado e permaneça em silêncio, de modo que o Líbano está em perigo”.

O assassinato de Salim ocorre pouco depois de outro crime, no qual o fotógrafo Joseph Bejjani foi morto em frente à sua casa, na cidade de Kahala. Nenhuma descoberta oficial foi anunciada até então pelos investigadores responsáveis pelo caso.

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O desaparecimento de Salim

A família de Salim reportou que o ativista desapareceu durante a madrugada. Sua esposa compartilhou no Twitter que Salim não respondia às ligações.

Um parente da vítima relatou que a família soube de sua morte pelo noticiário, enquanto estava em uma delegacia para registrar a ocorrência.

Rasha Salim alertou no Twitter: “Meu irmão Luqman Salim deixou Niha, no sul da província, há seis horas e não chegou a Beirute … Ele não responde seu celular e pode estar em qualquer hospital da região. Agradecemos qualquer informação sobre ele”.

Posteriormente, a irmã de Salim reportou novos acontecimento em suas redes sociais: “Encontramos o celular de meu irmão em Niha, perto da casa de Muhammad al-Amin, mas não há sinal dele ou de seu carro … Onde está Luqman?”

Salim denunciou às autoridades libanesas que, antes e depois dos protestos populares que varreram o Líbano em outubro de 2019, fora ameaçado no bairro de Haret Hreik, onde reside, e enviou então uma carta em apelo por proteção policial.

“Pela segunda vez em 48 horas, fui ameaçado e aterrorizado por criaturas sombrias que buscam violar a privacidade do meu lar em Haret Hreik, cientes de que os escritórios do Centro de Pesquisa e Documentação UMAM e Dar Al-Jadeed ficam no mesmo local”, reportou Salim.

A vítima destacou ser acusada de traição e abusada verbalmente, com ameaças pichadas nas cercas e portas de sua casa.

Prosseguiu: “Em caso de ataque verbal ou físico contra mim, minha casa ou minha família, portanto, responsabilizo, com esta declaração, as forças de segurança representadas por Hassan Nasrallah [líder do Hezbollah] e Nabih Berri [presidente do parlamento] pelo que quer que aconteça no passado ou futuro e confio minha proteção, de minha família e minha casa, às forças de segurança do Líbano, sobretudo o exército libanês”.

A Frente Civil Nacional, grupo formado para dar continuidade aos protestos contra o governo, comentou o caso: “O desaparecimento do escritor e ativista Luqman Salim, em área sob notória influência do Hezbollah … representa um sinal perigoso de que uma decisão foi tomada para atacar e silenciar todas as vozes que se opõem à expropriação da soberania libanesa”.

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