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Biden poderá condicionar recursos dos EUA a mais concessões palestinas?

Presidente dos Estados Unidos Joe Biden na Casa Branca, em Washington DC, 26 de janeiro de 2021 [Doug Mills-Pool/Getty Images]
Presidente dos Estados Unidos Joe Biden na Casa Branca, em Washington DC, 26 de janeiro de 2021 [Doug Mills-Pool/Getty Images]

Quando Joe Biden tornou-se o 46° Presidente dos Estados Unidos, alguns palestinos encheram-se de esperanças de que o democrata pudesse substituir a abordagem inconsequente de Donald Trump à sua situação. Esqueceram-se de que a política externa americana sempre foi pró-Israel e continuará assim, pela simples razão de que o lobby sionista detém ainda enorme influência em quase todos os níveis de governo e vida pública no país.

Biden não deseja irritar Israel, mas poderá tentar ser, no mínimo, um pouco mais equilibrado e diplomático do que seu antecessor, ao dar aos palestinos um vislumbre de esperança enquanto ganha tempo para a ocupação colonial avançar ainda mais. É claro, é disso que trata-se historicamente o chamado “processo de paz”.

Espera-se que Biden restaure a ajuda financeira dos Estados Unidos à Autoridade Palestina, para sugerir a busca de um meio-termo entre as partes, bastante diferente do magnata republicano. Porém, a restituição do fluxo de recursos cortados por Trump será condicionada a maiores concessões feitas em nome do povo palestino, pois esta é a regra há décadas.

A liderança palestina agradeceu a decisão. Os palestinos comuns, por outro lado, não guardam muita esperança de que o presidente americano terá coragem de pressionar Israel a respeitar a lei internacional e encerrar sua ocupação da Palestina.

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Faz diferença ver que Biden pode tentar corrigir alguns dos erros de Trump. Entretanto, é improvável que tais ações do novo governo cheguem a revogar, por exemplo, o reconhecimento à anexação ilegal israelense de Jerusalém ou o chamado “acordo do século”, que basicamente concede ao estado sionista o direito de expropriar mais e mais terras palestinas. Evidente, será positivo ver doações americanas voltarem a ser repassadas à Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), pois esta fornece serviços essenciais aos refugiados na região.

Trump foi honesto sobre suas intenções concernentes ao povo palestino, mas Biden é mais esperto e deve promover a si mesmo como um liberal que adora a paz. Contudo, sua vice-presidente, Kamala Harris, é conhecida por apoiar publicamente o estado israelense, assim como outros oficiais indicados para o alto escalão de governo, como o novo Secretário de Estado Antony Blinken.

Ziad el-Alool, porta-voz da Conferência Popular de Palestinos na Diáspora, relatou-me que Biden pode ser ainda mais perigoso do que seu antecessor. “Diferente de Trump, cuja política baseava-se em fechar acordos econômicos e comerciais, a política de Biden será baseada em garantir o domínio israelense sobre o Oriente Médio”. Israel, destacou, representa a maior base militar americana na região e terá todo o apoio necessário. “Desta forma, Biden buscará reunir mais aliados a Israel no mundo árabe e islâmico e sua decisão de restituir alguns programas humanitários não passa de incentivo para que a Autoridade Palestina exerça seu papel de proteger Israel e os colonos”.

Após quase 73 anos de ocupação colonial sobre suas terras, os palestinos ainda não possuem estado algum, apesar das promessas dos Acordos de Oslo. Muitas conferências de “paz” foram promovidas por Washington, mas jamais levaram à materialização deste estado, sobretudo porque o governo americano tornou-se incapaz – tampouco está disposto – de pressionar Israel, que mantém-se implacável. Os palestinos, porém, são empurrados cada vez mais a concessões injustas sobre as pouquíssimas coisas que ainda possuem.

Segundo Sharhabeel Al-Gharib, escritor especializado em assuntos palestinos, o presidente Biden é uma figura ainda misteriosa. “Penso que segue os passos de Barack Obama e sabemos o que aconteceu na região durante o seu mandato. O novo governo Biden tentará reverter algumas decisões de Trump, como a questão da ajuda financeira, mas apenas para convencer a liderança palestina de Mahmoud Abbas a retornar à mesa de negociações e então oferecer um suposto estado viável”.

Embora sabemos que não há intenções de reverter a transferência da embaixada americana de Tel Aviv a Jerusalém, é vagamente possível que Biden decida reabrir o escritório da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em Washington ou o consulado americano em Jerusalém Oriental – de novo, apenas como gesto simbólico para atrair a Autoridade Palestina às negociações. Caso aconteça, será um pequeno sinal, talvez significativo, de que os Estados Unidos preferem manter o jogo de mediação. E talvez – apenas talvez – possa realmente tornar-se um mediador honesto. De qualquer modo, espere sentado.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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