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Um apelo contra a tentativa de tratar a Irmandade Muçulmana no Egito como terrorista

Em uma carta aberta ao senador dos EUA, Ted Cruz, o vice-lider geral da Irmandade Muçulmana, Ibrahim Munir, pede justiça internacional para os ativistas de direitos humanos perseguidos no Egito.
À direita, o vice-líder geral da Irmandade Muçulmana Ibrahim Munir em 14 de julho de 2013 [Ozan Kose/ AFP via Getty Images] - Á esquerda, o senador republicano Ted Cruz em 26 de outubro de 2020 [Olivier Douliery/ AFP via Getty Images]
À direita, o vice-líder geral da Irmandade Muçulmana Ibrahim Munir em 14 de julho de 2013 [Ozan Kose/ AFP via Getty Images] - Á esquerda, o senador republicano Ted Cruz em 26 de outubro de 2020 [Olivier Douliery/ AFP via Getty Images]

Hoje, 4 de dezembro de 2020, é a data fixada pelo judiciário italiano para processar cinco membros das forças de segurança do golpe militar egípcio que sequestraram o estudante italiano Guilio Regeni de uma das ruas do Cairo em 25 de janeiro de 2016.

Eles lidaram com ele da mesma forma com que tratam os cidadãos egípcios que se opõem às políticas do golpe. Eles o torturaram até a morte e depois se desfizeram de seu corpo nos arredores do Cairo.

Este dia, 4 de dezembro de 2020, foi aguardado de perto pela mídia internacional, organizações de direitos humanos e instituições legais. Mas o fato foi  ofuscado nos Estados Unidos por uma exigência do senador Ted Cruz, ex-candidato presidencial, ao Congresso,  para que a Irmandade Muçulmana no Egito seja incluída em sua lista de organizações terroristas.

Esta surpresa inesperada desviou a atenção do julgamento internacional que ocorre na Itália.

Com grande pesar, o senador americano anunciou que sua acusação à Irmandade é baseada no que vários aliados da América no mundo árabe têm afirmado há algum tempo.

O senador Cruz deve ser lembrado dos relatórios de organizações internacionais de direitos humanos que apontam para as graves violações do golpe militar no Egito e seus apoiadores (que retiraram do poder o presidente eleito, Mohamad Mursi). Eles testemunham as terríveis violações dos direitos humanos e abusos que, em muitos casos, incluíram assassinatos extrajudiciais, como exemplificado no caso do estudante italiano Guilio Regeni.

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O senador Cruz e alguns de seus colegas que apóiam sua demanda do Partido Republicano devem ser lembrados ainda que a confiança em representar seu povo exige que voltem a olhar os resultados da investigação internacional conduzida pelo Reino Unido – da qual os EUA participaram – sobre as acusações levantadas contra a Irmandade Muçulmana pelo golpe militar no Egito e seus apoiadores. Eles confirmaram que a Irmandade não se envolve em terrorismo e que seus princípios são, de fato, uma barreira contra o extremismo.

É nosso direito questionar o momento escolhido para essa demanda em relação ao que está acontecendo em Roma. Notamos que o senador Cruz e seus colegas que o apoiam são todos republicanos, como o presidente Donald Trump , que até agora não acedeu à demanda de levar em conta as políticas delineadas pelo Departamento de Estado e suas agências, bem como as recomendações do Congresso.

Depois de várias sessões sobre as condições no Egito e a condução do golpe militar, alguns senadores, incluindo John McCain, Lindsey Graham e Marco Rubio e membros da Câmara dos Representantes exigiram que o golpe egípcio fosse responsabilizado e que a ajuda americana ao Egito fosse condicionada seu histórico de direitos humanos.

Talvez o maior testemunho da posição do Congresso dos Estados Unidos (Senado e Câmara dos Representantes) em relação à condução do golpe militar, que acusa opositores pacíficos de terrorismo, foi visto na audiência do Congresso de 24 de julho de 2018 na presença de Ileana Ros- Lehtinen, presidente do Subcomitê para o Oriente Médio e Ásia Central. Ela expôs de forma persuasiva os abusos dos direitos humanos causados ​​pelo golpe militar no Egito e sua conduta de tortura e execuções extrajudiciais.

Senador Cruz, dê à justiça o devido direito.

Ibrahim Munir

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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