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Pandemia e falta de recursos aumentam violência de gênero no Iêmen

Mulheres iemenitas pintam um mural na Universidade de Sanaa, diante da guerra em curso no Iêmen, em 15 de março de 2017 [Mohammed Hamoud/Agência Anadolu]
Mulheres iemenitas pintam um mural na Universidade de Sanaa, diante da guerra em curso no Iêmen, em 15 de março de 2017 [Mohammed Hamoud/Agência Anadolu]

A violência de gênero aumentou em 63% desde o início do conflito no Iêmen em 2015, alertaram grupos de assistência humanitária nesta segunda-feira (30), ao reiterar que a pandemia expôs os problemas de investimentos inadequados para serviços de proteção em zonas de guerra por todo o mundo.

Em âmbito global, ao menos 40 milhões de pessoas afetadas pela guerra estão sob risco de abuso, exploração e tráfico sexual, diante de programas de proteção “cronicamente subfinanciados”, declarou um relatório do Conselho para Refugiados da Noruega (NRC), em parceria com as Nações Unidas.

“Quando as pessoas não têm qualquer outra opção, tomam medidas desesperadas, que as põem em alto risco de abuso, exploração e tráfico sexual ou trabalho forçado”, declarou Suze van Meegen, diretora interina de advocacia do NRC, à agência Reuters.

“[Precisamos] de fato começar a falar sobre proteção e priorizar a proteção de civis, porque comida não é suficiente para manter as pessoas vivas”, reiterou van Meegen.

No Iêmen, mais de dois terços das meninas são forçadas a casamentos arranjados até os 18 anos de idade, situação agravada conforme a pandemia de covid-19 expõem feridas nacionais, segundo o relatório.

O documento informa que um quarto das famílias em grave situação de pobreza, no país assolado pela guerra, perdeu sua renda durante a pandemia, de modo que muitas recorrem ao casamento precoce como meio de subsistência.

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O conflito no Iêmen escalou em março de 2015, quando uma coalizão liderada pela Arábia Saudita interveio no país, a fim de restaurar o governo iemenita deposto pelo grupo houthi, ligado ao Irã, no final de 2014. Os houthis alegam combater um sistema corrupto.

Van Meegen comentou ainda que o conflito no norte da Etiópia, na região de Tigré, é outro exemplo claro da “necessidade urgente” de serviços de proteção, dado que quase 44.000 pessoas fugiram ao vizinho Sudão, após milícias etíopes atacarem alvos civis, segundo relatos.

Neste ano, a pandemia forçou 400 milhões de pessoas a depender de assistência humanitária. Segundo o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (UNOCHA), são precisos atualmente US$40 bilhões para financiar serviços como alimentação, saneamento e educação.

Em 2019, os serviços de proteção internacionais solicitaram US$1.8 bilhões para conceder apoio a 54 milhões de pessoas sob alto risco, mas o setor recebeu apenas 39% do valor requisitado, em particular, após cortes orçamentários decorrentes da pandemia.

Mulheres e meninas capturadas ou deslocadas pela guerra costumam ser mais vulneráveis a abuso, exploração e tráfico sexual, advertiu o relatório.

Na região de Sahel, na África Ocidental, um dos locais de maior crise humanitária em todo o mundo, onde 24 milhões de pessoas dependem de auxílio, segundo dados de 2020, mulheres e meninas passaram a se prostituir para sobreviver. O casamento infantil e a exploração sexual também estão em ascensão, declarou o NRC.

Em todo o mundo, quase 80 milhões de pessoas, equivalente a aproximadamente 1% da humanidade, sofreram deslocamento forçado até o fim de 2019, em virtude de guerras ou perseguição, segundo estimativas da ONU.

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