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Abuso sistemático em escolas islâmicas do Sudão é revelado pela BBC

Milhares de estudantes sudaneses foram sistematicamente acorrentados, agredidos e torturados nas escolas islâmicas do país africano, conhecidas como khalwas [Screenshot/BBC]
Milhares de estudantes sudaneses foram sistematicamente acorrentados, agredidos e torturados nas escolas islâmicas do país africano, conhecidas como khalwas [Screenshot/BBC]

Milhares de estudantes foram sistematicamente acorrentados, agredidos e torturados nas escolas islâmicas do Sudão, conhecidas como khalwas, revelou uma investigação da filial em árabe da rede BBC News.

A denúncia ocorre após o repórter Fateh Al-Rahman Al-Hamdani, ex-estudante do sistema islâmico, filmar secretamente suas visitas a 23 escolas khalwas em todo o Sudão, no período de 18 meses, para documentar o abuso cotidiano.

As khalwas são escolas religiosas tradicionais no Sudão, onde as crianças são ensinadas a memorizar o Alcorão. Há mais de 30.000 escolas do tipo no Sudão, tipicamente administradas por sheikhs que fornecem alimentação e abrigo aos estudantes, gratuitamente.

Os registros de Al-Hamdani dentro das instituições islâmicas mostram crianças desnutridas em ambientes insalubres, forçadas a dormir no chão, mesmo em condições de calor escaldante.

Muitos dos alunos, alguns tão jovens quanto cinco anos de idade, são acorrentados e espancados pelo menor dos erros. Os sheikhs, destaca Al-Hamdani, agem com impunidade.

O documentário concentrou-se nas histórias de Mohamed Nader e Ismail, dois meninos de 14 anos, aprisionados e torturados por cinco dias consecutivos, sem comida ou água, na escola islâmica Al-Khulafaa Al-Rashideen.

Os meninos, visitados pelo documentarista no hospital, foram espancados quase até a morte.

Quando contestado sobre os abusos, em entrevista à BBC, o diretor da instituição, sheikh Hussein, confessou ter encarcerado, acorrentado e agredido os meninos em sua khalwa. Em seguida, admitiu o erro ao prendê-los, mas alegou que as práticas são “repletas de benefícios”.

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O sheikh Hussein negou qualquer acusação de abusos sexuais, incluindo estupro, em sua escola. Contudo, Mohamed Nader, uma das vítimas, contou à BBC que a prática é generalizada e que testemunhou o estupro de meninos por estudantes mais velhos.

Quatro pessoas, incluindo três professores e o sheikh Hussein foram acusados pelo caso de Ismail e Mohamed, mas libertados em seguida sob fiança, à espera de julgamento. O diretor, porém, morreu em um acidente de carro neste ano.

As acusações contra o sheikh Hussein foram retiradas. Seu irmão assumiu a khawla e alegou que agressões contra os estudantes não serão toleradas por sua gestão.

Autoridades sudanesas costumam demonstrar lentidão para agir em casos relativos aos responsáveis pelas khawlas no país. Entretanto, há esperanças de que a deposição do longevo ditador Omar Al-Bashir, em 2019, traga às famílias chances maiores para obter justiça.

Segundo autoridades locais, o Ministério de Assuntos Religiosos do Sudão está avaliando o estado das 30.000 khawlas no país, mas reiterou ser impossível “solucionar um problema causado por 30 anos do antigo regime, do dia para a noite.”

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