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Biden imita Clinton ao abraçar o lobby sionista

Então Vice-Presidente dos Estados Unidos Joe Biden ao lado da ex-Secretária de Estado Hillary Clinton, durante cerimônia em homenagem a Harry Reid, líder da minoria democrata no Senado, no Capitólio, em Washington DC, 8 de dezembro de 2016 [Mark Wilson/Getty Images]
Então Vice-Presidente dos Estados Unidos Joe Biden ao lado da ex-Secretária de Estado Hillary Clinton, durante cerimônia em homenagem a Harry Reid, líder da minoria democrata no Senado, no Capitólio, em Washington DC, 8 de dezembro de 2016 [Mark Wilson/Getty Images]

O futuro que os Estados Unidos planejaram à Palestina já está determinado, não importa se Trump for reeleito ou se Joe Biden poderá substituí-lo na Casa Branca, após as eleições de 3 de novembro. Contudo, é Biden, com uma vantagem considerável nas pesquisas nacionais, com quem os líderes palestinos buscam instituir diálogo na esperança de que Washington atenue suas políticas pró-Israel. Os palestinos talvez estejam otimistas demais.

Trata-se de um cenário familiar ao Partido Democrata. Há quatro anos, seus adeptos viram sua candidata presidencial Hillary Clinton abraçar o lobby sionista durante a campanha eleitoral. Clinton, de fato, jamais escondeu seu apoio ao estado da ocupação. Biden dificilmente reverterá suas próprias décadas de apoio contundente a Israel.

Em 2010, então como Secretária de Estado, Hillary Clinton discursou na conferência do Comitê de Assuntos Públicos Estados Unidos-Israel (AIPAC), proeminente grupo de lobby sionista, apesar de estar muito bem informada sobre os abusos e agressões cometidos pela ocupação contra a população da Palestina histórica, ano após ano. Como parte de seu manifesto, o AIPAC “exorta todos os membros do Congresso a apoiar Israel via assistência internacional, parcerias públicas, esforços conjuntos antiterrorismo e promoção de uma solução negociada de dois estados – um estado judaico de Israel e um estado desmilitarizado da Palestina”.

Sidney Blumenthal, cujos e-mails lotavam a caixa de entrada de Clinton, compartilhou com ela diversos artigos sobre política no Oriente Médio, muitos assinados por seu filho Max, que não apenas denunciavam os crimes de guerra cometidos por Israel, como também descreviam o sistema discriminatório como estado de apartheid, com diversas razões bem elaboradas para tanto. Em referência ao atentado brutal de 2010, cometido por Israel contra a Flotilha da Liberdade a Gaza, Blumenthal comentou sobre um texto de seu filho: “Max Blumenthal, que agora cobre Israel, está escrevendo um livro sobre a crise da democracia no país, com detalhes da imprensa israelense de como o ataque foi planejado e aprovado com antecedência e como o governo Netanyahu mobiliza apoio, além de suas consequências internas”.

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Na véspera do discurso à AIPAC, Blumenthal enviou a Clinton uma postagem de blog escrita por Uri Avnery, sob o título “The Doomsday Weapon” (“A Arma do Juízo Final”), na qual o autor acusava o “governo de ultradireita em Jerusalém” de tratar o Presidente dos Estados Unidos Barack Obama – chefe de Clinton, na ocasião – com “desprezo debilmente velado”. Clintou instruiu então um funcionário a imprimir cinco cópias do artigo, “sem o cabeçalho de Sid”, e ainda assim compareceu ao evento da AIPAC, no qual discursou e aclamou o grupo sionista e o estado da ocupação.

“Nosso compromisso com a segurança e o futuro de Israel é absolutamente sólido, inabalável, permanente”, insistiu Clinton, ovacionada de pé pelo público presente de 7.500 ativistas pró-Israel. Os conselhos de Blumenthal de que Clinton deveria pressionar Netanyahu sobre os planos de expansão de um assentamento ilegal em Jerusalém Oriental foram ignorados. Segundo Clinton, nada disso tratava-se de “orgulho ferido … [mas sim] sobre chegar à mesa, criar e proteger uma atmosfera de confiança e permanecer ali até concluir o trabalho.”

Então Vice-Presidente dos Estados Unidos Joe Biden ao lado da ex-Secretária de Estado Hillary Clinton, durante cerimônia em homenagem a Harry Reid, líder da minoria democrata no Senado, no Capitólio, em Washington DC, 8 de dezembro de 2016 [Mark Wilson/Getty Images]

Então Vice-Presidente dos Estados Unidos Joe Biden ao lado da ex-Secretária de Estado Hillary Clinton, durante cerimônia em homenagem a Harry Reid, líder da minoria democrata no Senado, no Capitólio, em Washington DC, 8 de dezembro de 2016 [Mark Wilson/Getty Images]

A AIPAC é uma plataforma que o Senador Bernie Sanders, que é judeu, recusou-se a comparecer quando pré-candidato, neste ano, pois a organização concede a seus ativistas a abertura para “expressar intolerância e opôr-se a direitos básicos do povo palestino”. Segundo Sanders, a AIPAC faz um desserviço a palestinos, israelenses e americanos.

Clinton retornou ao palco da AIPAC em 2016, agora como favorita na corrida para obter a indicação democrata às eleições presidenciais daquele ano, e prontamente condenou o movimento da sociedade civil palestina de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS). Em seu discurso, Clinton descreveu o BDS como “alarmante” e caracterizou ativistas como antissemitas que “agridem” estudantes judeus nas universidades.

“Eu alerto há algum tempo”, prosseguiu Clinton. “Como escrevi no último ano em carta ao líderes das maiores organizações judaico-americanas, temos de nos unir para reagir ao BDS. É por isso que sinto fortemente que a América jamais pode manter-se neutra no que se refere à segurança e sobrevivência de Israel. Não podemos ser neutros quando foguetes caem sobre bairros residenciais, quando civis são esfaqueados nas ruas, quando homens-bomba matam inocentes. Algumas coisas não são negociáveis – e qualquer um que não entenda isso não pode ser nosso presidente”.

Nos últimos anos, a AIPAC promoveu legislações anti-BDS de forma bastante agressiva, incluindo leis estaduais projetadas para obstruir recursos às universidades que adotarem resoluções de desinvestimento sobre empresas que se beneficiam da ocupação israelense de terras palestinas. Tudo isso ignora o fato de que o BDS é uma campanha estratégica absolutamente pacífica, que não defende a violência de modo algum.

Embora o apoio a Israel seja historicamente forte em ambos os principais partidos políticos dos Estados Unidos, a AIPAC passou a inclinar-se cada vez mais aos republicanos. Não obstante, assim como Clinton, o ex-vice-presidente Biden ainda escolheu discursar na conferência anual do maior grupo de lobby israelense em solo americano, em março, para dizer que não pretende impor quaisquer condições aos recursos enviados a Israel. Ao contrário, Biden também voltou suas armas às vítimas das violações israelenses contra as leis e convenções internacionais.

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“Os palestinos precisam erradicar a incitação na Cisjordânia – erradiquem-na. Precisam dar fim aos ataques de foguetes a partir de Gaz – basta”, declarou Biden. “Precisam aceitar de uma vez por todas a realidade e direito de assegurar um estado judaico e democrático de Israel no Oriente Médio.”

Recentemente, Biden escolheu sua ex-rival democrata Kamala Harris como candidata à vice-presidente em sua chapa eleitoral. Harris fora descrita previamente como “defensora ferrenha” de Israel e também discursou à AIPAC, em 2017, pouco depois de assumir mandato no Senado. Questionada pelo New York Times, em 2019, se considerava que Israel cumpria padrões de direitos humanos internacionais, respondeu: “De modo geral, sim”.

Apesar dos alertas e das imagens dos graves abusos de Israel, cientes da habilidade da AIPAC de mover a política americana a direções perigosas, os democratas ainda preservam o papel de líderes de torcida para o estado da ocupação. Votos e doações eleitorais significam mais aos candidatos à presidência dos Estados Unidos do que os direitos humanos. É por isso que o futuro da Palestina e seu povo mantém-se ameaçado não importa quem vença em 3 de novembro. Mesmo com Biden na Casa Branca, os palestinos permanecerão abandonados e o roubo de suas terras pela colonização israelense continuará a acelerar-se. Neste sentido, Biden seria continuidade de Trump, ainda abraçado ao lobby sionista.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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