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A maior esperança da Palestina está em seu povo

Menina com as cores da Palestina pintadas no rosto, durante protesto em Gaza, 11 de dezembro de 2016 [Ali Jadallah/Agência Anadolu]
Menina com as cores da Palestina pintadas no rosto, durante protesto em Gaza, 11 de dezembro de 2016 [Ali Jadallah/Agência Anadolu]

No 75° aniversário de fundação das Nações Unidas, o líder da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas teve a oportunidade de introduzir um poderoso discurso, a fim de conceder apoio efetivo a uma mudança na política palestina. Contudo, recusou-se a fazê-lo. Ao contrário, a crítica suave de Abbas à organização internacional foi adoçada por mais outro compromisso com a “espera”, ao invés do trabalho para construir uma alternativa palestina, capaz de encerrar décadas de fracasso diplomático internacional.

A Resolução 2621 da ONUdeclara toda a continuidade do colonialismo, em todas as suas formas e manifestações, como crime em violação à Carta das Nações Unidas, à Declaração sobre a Concessão de Independência a Países e Povos Coloniais e aos princípios da lei internacional.” Também reafirma “o direito inerente dos povos coloniais de lutar por todos os meios necessários à disposição contra as potências coloniais, a fim de cumprir suas aspirações por liberdade e independência.”

Esta é a teoria. Na prática, a ONU admitiu a filiação de Israel, flagrante estado colonial – apesar de jamais respeitar quaisquer condições para ser membro da entidade internacional – e continua a defendê-lo, ao impor o consenso de dois estados, projetado para preservar Israel e sua narrativa de segurança.

No discurso de Abbas, gravado à ONU, não houve sequer uma única referência ao direito legítimo do povo palestino de resistir ao colonialismo. Ao referir-se à Palestina como “o maior dos testes à ordem e credibilidade internacional”, Abbas prosseguiu ao alegar que os palestinos “continuarão a aguardar que a ONU cumpra sua responsabilidade para conquistar uma solução pacífica sobre a questão palestina.” Tudo isso, segundo Abbas, pois os palestinos “puseram sua esperança nas Nações Unidas.”

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Os palestinos são coagidos a atuar em um roteiro internacional que efetivamente elimina seus direitos políticos; além disso, sua liderança recusa-se a opor-se ao status quo. Sugerir mais outra conferência internacional de paz parece ser o único trunfo, embora ineficaz, que Abbas possui. Tendo em mente que a Autoridade Palestina não renunciará a sem comprometimento com a moribunda solução de dois estados, por que então Abbas poderia esperar uma nova abordagem da comunidade internacional, em particular quando Estados Unidos optaram por priorizar acordos de normalização entre estados árabes e Israel? Tais ações aproximam a região do resto do mundo, ao menos na promessa de suposto apoio à Palestina, enquanto materializam alianças políticas com o estado colonial.

Não é como se a ONU fosse alterar seu tom meramente devido aos apelos de Abbas para que permaneça comprometido a planos que, na realidade, prejudicam o povo palestino. Não houve sequer uma ocasião na qual a Autoridade Palestina fez uso da lei internacional senão como discurso, à medida que Israel e a comunidade internacional acumula impunidade sobre violações políticas cotidianas impostas à população civil da Palestina ocupada.

A Autoridade Palestina cumpre seu papel como extensão da comunidade internacional de de Israel ao suprimir as vozes palestinas. Enquanto isso, a ONU também é solícita a tamanhas violações, ao invés de efetivamente cumprir sua missão estabelecida por suas próprias cartas e resoluções. É abominável sugerir, como fez Abbas, que os palestinos puseram sua esperança na ONU. Tal subjugação deliberada é nada mais que admissão de derrota, a qual os palestinos jamais concederão. Entretanto, há uma necessidade urgente de denunciar a duplicidade das organizações internacionais e um imperativo ainda maior para os palestinos de unirem-se a uma liderança que de fato aproxime o povo da vida política. A Autoridade Palestina fracassou em ambos os casos, na verdade, como pretendia a ONU, nesse tempo todo. A maior esperança da Palestina está em seu povo.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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