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Quem venceu a batalha de balões incendiários em Gaza: Israel ou a resistência?

Palestinos de Gaza retomam voos de balões incendiários a Israel [Agência Anadolu]
Palestinos de Gaza retomam voos de balões incendiários a Israel [Agência Anadolu]

O Movimento de Resistência Palestina Hamas anunciou na noite de segunda-feira (31) o fim de um novo período de tensão na fronteira. Ao agradecer mediação do Egito e Catar para chegar a um acordo com Israel, o Hamas ressaltou ter vencido uma nova batalha contra o estado de ocupação.

Ismail Haniyeh, chefe do Gabinete Político do Hamas, fez o anúncio em Doha, capital catariana, onde encontra-se no momento. Haniyeh ressaltou que a mediação foi “frutífera” e que os esforços “leais” do Catar devolveram certa tranquilidade ao território costeiro sitiado, após um mês de “contínuas violações e agressões israelenses”.

O líder do Hamas insistiu que a resistência palestina teve êxito contra a ocupação, a fim de recuperar a estabilidade e conseguir mais benefícios do que angariados nos acordos prévios com o estado sionista. Analistas palestinos elogiaram os líderes da resistência por suas conquistas e agradeceram ao povo palestino por sua paciência e apoio à resistência.

O premiê israelense Benjamin Netanyahu saudou a decisão da resistência de interromper os voos de balões incendiários através da fronteira nominal, em direção a assentamentos ilegais israelenses, contudo, ao clamar vitória própria em nome de Israel. Netanyahu afirmou que, assim, conseguiu reconquistar tranquilidade aos colonos israelenses no entorno de Gaza, sem derramar sangue. No entanto, autoridades e escritores israelenses contestaram sua versão, ao argumentar que Netanyahu e seu exército perderam a batalha.

A família de Hadar Goldin, soldado israelense desaparecido em Gaza, emitiu um dos primeiros comentários duramente críticos sobre o novo cessar-fogo. “Mais uma vez, o governo israelense se rende ao terrorismo [sic] e deixa as famílias dos soldados desaparecidos sem resposta”, declarou a família do soldado à mídia local.

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Em artigo no jornal israelense Yedioth Ahronoth, o jornalista Ron Ben-Yishai escreveu que o governo israelense não havia conquistado absolutamente nada e não seria capaz de manter a paz na fronteira por muito tempo. “Na falta de um acordo abrangente e de longo prazo, não haverá cessar-fogo extendido”, alegou o comentarista israelense. “O acordo não trouxe trégua.”

Ben-Yishai prosseguiu ao zombar do cessar-fogo: “Há falta de gás hélio em todo o mundo; em Gaza, porém, há o suficiente. A próxima rodada de tensão é apenas uma questão de tempo.” O gás hélio é utilizado pelos palestinos para inflar os balões incendiários. Em “solidariedade” a famílias de soldados desaparecidos em Gaza, prosseguiu: “Israel não fez nenhum esforço para devolver os prisioneiros de Gaza … Eles foram mencionados nas conversas, mas Israel não pôde pressionar o Hamas”.

O jornalista Tal Lev-Ram, do jornal Maariv, foi igualmente desdenhoso e sugeriu tratar-se de uma enorme derrota para o exército israelense. “O exército mais forte do Oriente Médio sofre de uma grave crise, pois precisou publicar um vídeo de um ataque a bomba somente para provar que alcançou uma vitória na rodada dos balões.”

Israel executa ataques aéreos em Gaza, em resposta a pipas [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

Israel executa ataques aéreos em Gaza, em resposta a pipas [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

O escritor israelense Noam Amir, do jornal Makor Rishon, demonstrou indignação com a alegação de vitória do governo israelense. “Usando as armas mais primitivas … a organização mais fraca do Oriente Médio conseguiu desequilibrar Israel e levá-lo a um estado de loucura.” O Hamas, declarou Amir, simplesmente recusou-se a enfrentar este desequilíbrio. “Com suas armas primitivas, conseguiu arrastar Israel para uma batalha de consciência pública, que terminou novamente com Israel contendo a realidade no sul e restaurando os privilégios ao Hamas, enquanto abstém-se de enfrentá-lo.”

O Ministro do Interior de Israel Aryeh Deri afirmou tratar-se de uma nova derrota para o governo israelense, pois fracassou ao recuperar soldados desaparecidos. “Havia uma chance. Nós a perdemos.” Deri ainda criticou seus colegas de governo por permitirem o envio de ajuda humanitária a Gaza, como parte do acordo.

Sem surpresa alguma, o ex-ministro das Relações Exteriores e Defesa Avigdor Lieberman criticou Netanyahu devido ao cessar-fogo. Lieberman reclamou de “anos e anos de esquecimento sobre os desaparecidos e prisioneiros israelenses”.

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Segundo Amir Bohbot, do site de notícias Walla, a rodada de tensão terminou com uma grande derrota para Israel e uma vitória retumbante para o Hamas. Após o acordo, argumentou, “o Hamas continua a minar a segurança no oeste do Negev” e o exército israelense continua a carecer de qualquer estratégia para efetivamente derrotar o movimento. “[O Hamas] segue construindo seu poder, preparando-se para a próxima guerra, sem qualquer obstáculo”.

Em resumo, é fato que o Hamas não é mais forte que o Exército de Israel. O estado sionista tem um dos exércitos mais fortes e mais bem equipados do mundo, bem como mais de duzentas ogivas nucleares. É necessário um verdadeiro senso de comprometimento para derrotar tal força, além da ciência de lutar por uma causa justa, amparada pelo direito internacional. A principal arma do Hamas e de outros grupos de resistência é o direito legítimo do povo palestino às suas terras, onde Israel cometeu seus crimes e conduziu limpeza étnica contra a população nativa, a fim de ocupar a região com colonos ilegais que não têm qualquer direito ou ligação com a Palestina histórica.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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