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Palestinos estão presos entre a ‘espera’ e a ‘possibilidade’ da anexação

Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu e Federica Mogherini, líder de política externa da União Europeia, apertam as mãos durante coletiva de imprensa no Conselho Europeu, em Bruxelas, Bélgica, 11 de dezembro de 2017 [Emmanuel Dunand/AFP/Getty Images]
Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu e Federica Mogherini, líder de política externa da União Europeia, apertam as mãos durante coletiva de imprensa no Conselho Europeu, em Bruxelas, Bélgica, 11 de dezembro de 2017 [Emmanuel Dunand/AFP/Getty Images]

A despeito dos sucessivos apelos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) para que a União Europeia vá além da retórica e aja efetivamente contra a anexação israelense, que tanto assombra a Cisjordânia ocupada, o chefe de Relações Exteriores da Europa Josep Borrell preferiu convidar o chanceler israelense Gabi Ashkenazi a Bruxelas, para uma reunião com ministros de política internacional do bloco.

“Enquanto a comunidade internacional se preocupa com a ‘possibilidade’ da anexação, Israel está implementando seus esquemas em campo, sem qualquer interferência”, afirmou Hanan Ashrawi, membro do Comitê Executivo da OLP. Os planos israelenses para expandir a construção colonial em Jerusalém Oriental levaram aos comentários de Ashrawi, conforme políticos da União Europeia adotam táticas de mitigação, ao abandonarem seu poder de agir tanto moral quanto politicamente, e optarem a escrever meras “notas de repúdio” ao Ministério de Relações Exteriores de Israel.

Seria estarrecedor compreender que tais atitudes desdenhosas em relação aos palestinos e à Palestina ocupada não encontram a devida rejeição da Autoridade Palestina, exceto pelo fato de que a própria Autoridade Palestina permanece sob encantos de promessas fúteis, em lugar de qualquer ação política.

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A União Europeia, não obstante, adota atitudes condescendentes em relação a Israel e seus planos de anexação. Em telefonema com Ashkenazi, Borrell reiterou o “compromisso inequívoco” do bloco à segurança de Israel, que descreveu como “não negociável para a União Europeia”.

Deste modo, as acusações de Ashkenazi contra a União Europeia, de que adota uma “diplomacia de megafone”, são falaciosas. Este tipo de diplomacia é reservada aos palestinos e encorajada pela colaboração acomodada da Autoridade Palestina. O chanceler israelense fez tais comentários em maio último, quando Borrell declarou que a União Europeia “espera continuar a trabalhar com o novo governo israelense de modo construtivo e abrangente”. Em outras palavras, o bloco europeu deverá garantir que, caso Israel queira construir novos assentamentos e normalizar a anexação porvir, permanecerá ao lado do estado sionista, em nome de sua narrativa de segurança – contudo, inteiramente falsa.

Caso a União Europeia realmente desejasse frustrar a anexação, Ashkenazi então seria convocado a uma reunião com ministros europeus para que estes destacassem as consequências efetivas potencialmente tomadas contra o estado da ocupação. Como garantiu sucintamente Ashkenazi, porém, a União Europeia alimenta-se da possibilidade, assim como Israel, o que torna o bloco e a presença colonial na Palestina aliados diplomáticos que de fato trabalham em conjunto.

A União Europeia sabe que a espera, tão solicitada aos palestinos pela comunidade internacional, levou a uma situação quase irreversível. A diplomacia internacional normalizou a demora, ao ponto de conivência plena a ações políticas tomadas por potências globais contra estados e populações que anseiam o acesso e a implementação de seus direitos legítimos, tanto políticos quanto legais. Somente sob esta lógica, escrever uma nota de repúdio ao Ministério de Relações Exteriores de Israel pode até ser descrito como ação, apesar da disparidade nas relações diplomáticas da União Europeia com Israel e Palestina. Afinal, tomar as manchetes de jornais israelense propagandeia a insatisfação israelense e, principalmente, a ilusão de ação. E nada mais importa, no que se refere aos interesses de Israel e da União Europeia.

Diante da atual diplomacia internacional, desconsidere o comprometimento da solução de dois estados e a narrativa de paz da União Europeia, e os palestinos terão ao menos uma voz que não seja maculada por imposições externas. Caso a narrativa colonial de Israel seja adotada displicentemente pela comunidade internacional, então não há razão alguma para que a liderança palestina não priorize e mantenha as próprias narrativas palestinas. Entretanto, a questão do comprometimento da Autoridade Palestina, mesmo diante da “espera”, permanece. Os esforços palestinos na diplomacia refletem-se apenas em táticas ineficazes empregadas pelo bloco europeu.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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