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Aumento de preços atinge o Sudão durante feriado islâmico

Menino sudanês cuja família recebe ajuda financeira humanitária da comunidade internacional é visto em Cartum, Sudão, 9 de julho de 2020 [Ashraf Shazly/AFP/Getty Images]
Menino sudanês cuja família recebe ajuda financeira humanitária da comunidade internacional é visto em Cartum, Sudão, 9 de julho de 2020 [Ashraf Shazly/AFP/Getty Images]

O grande aumento nos preços dos alimentos no Sudão, Norte da África, transformou a alegria de um dos maiores feriados islâmicos em sofrimento e pesar.

Esforços recentes do governo sudanês para aumentar salários não foram capazes de imputar mais dinheiro às famílias, para que comprassem os tradicionais cordeiros utilizados nos ritos de sacrifício do feriado de Eid al-Adha – ou Festa do Sacrifício.

Outros gastos incluem roupas novas para as crianças e outros familiares, mas mesmo bens de necessidade essencial foram afetados pelos preços.

O país enfrenta fome generalizada, segundo a ONU e ongs internacionais.

Diminuição do poder de compra

Comerciantes de cordeiro, roupas, brinquedos infantis e outros itens, que costumam aumentar preços às vésperas do feriado alertam que a demanda está baixa.

Hassan Abdul Azim, que vende cordeiro, afirmou que o poder de compra declinou gravemente à medida que subiram os preços. “Criamos essas ovelhas por muito tempo, em nossas aldeias, e as trouxemos para Cartum para vendê-las, mas o poder de compra está baixo demais!”

“Enfrentamos um grande dilema e podemos perder muita coisa, porque o poder de compra está baixo, mas não temos como abaixar os preços porque temos gastos altos, como tratamento médico do rebanho, transporte e outras despesas”, prosseguiu.

Mahmoud Adam, comerciante do setor pecuário no mercado popular de Omdurman, advertiu que há outra razão para o aumento nos preços de produtos de origem animal: a retomada da exportação destes itens para os países do Golfo.

“A alta demanda por produtos pecuários sudaneses nos países do Golfo – em particular, na Arábia Saudita – elevou a demanda e, deste modo, aumentou os preços nos mercados locais”, declarou Adam.

Inflação

Uma fonte no Ministério das Finanças do Sudão afirmou que o governo deixou de pagar muitos salários no setor público em julho, especialmente nos estados fora de Cartum, capital do país.

O oficial, em condição de anonimato, por restrições a falar com a imprensa, reiterou que a falta de dinheiro vivo em circulação agravou a situação. Contudo, prometeu que a carência logo será compensada.

“O governo está fazendo seu melhor para pagar os salários do mês de julho, mas há outros compromissos para compra de ouro de pequenos comerciantes, a fim de fortalecer a moeda”, alegou a fonte. “Também temos de cobrir necessidades de importação de remédios e outras commodities básicas”

O economista sudanês Mohamed Abdul Aziz afirmou que grandes eventos sociais (o feriado, por exemplo) evidenciam o fracasso do governo em prover necessidades básicas à população e que aumentar salários não seria capaz de solucionar o problema.

Abdul Aziz relatou à agência Anadolu que o governo precisa abordar uma série de problemas na economia integrada, incluindo inflação superior a 100%.

“A inflação cresce constantemente; a moeda local perde valor … o aumento de salários seria, portanto, absorvido pelo mercado, sem diferença alguma”, concluiu o economista. “O governo precisa monitorar e controlar o mercado, além de adotar políticas mais integradas para superar a crise”.

A taxa de inflação em junho alcançou 136%, com preços bastante elevados no mercado local.

No mesmo mês, uma conferência de doadores internacionais prometeu conceder US$2 bilhões em assistência urgente para que o Sudão supere a grave crise econômica que herdou da era do longevo ditador Omar al-Bashir.

Análise por Ali H.M. Abo Rezeg, para agência Anadolu.

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