Arábia Saudita coage negócios locais a evitar comércio com a Turquia, a fim de promover boicote

Átrio antigo com diversas lojas e comércios de bens tradicionais, em Istambul, Turquia, 30 de março de 2014 [Miguel Virkkunen Carvalho/Flickr]

A Arábia Saudita está impondo pressão a negócios locais para que evitem comercializar com a Turquia e suas indústrias, da tentativa de promover um boicote não oficial. A apreensão de caminhões com produtos turcos incitou tensões entre os dois países.

Segundo informações concedidas por oficiais turcos à rede Middle East Eye, a Arábia Saudita está impedindo caminhões com frutas e vegetais provenientes da Turquia de atravessar sua fronteira.

“Autoridades relevantes contactaram os sauditas sobre a questão”, declarou um oficial, em condição de anonimato. “A ministra do comércio [Ruhsar Pekcan] já realizou um telefonema para sua contraparte saudita”.

O jornal turco Dunya também relatou que o governo saudita contactou negócios individuais para coagí-los a não comercializar com empresas turcas ou comprar qualquer produto fabricado na Turquia. A monarquia ameaçou impor multas a empresas que ignorem a ordem.

“[A Arábia Saudita] não pode revelar oficialmente sua política devido a sanções da Organização Mundial do Comércio [OMC]”, prosseguiu a reportagem. “[Mas] não é permitido vender sequer bens turcos provenientes da Alemanha porque não querem nada que tenha o selo Made in Turkey.”

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A monarquia também revogou contratos de trabalho com cidadãos turcos especializados, que operavam no país do Golfo. A Turquia considera a possibilidade de registrar uma queixa formal à OMC e buscar indenização, caso a política se mantenha.

 

No decorrer dos últimos anos, relações entre Turquia e alguns estados do Golfo, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, tornaram-se tensas devido há divergências sobre objetivos e iniciativas em política internacional.

A Turquia apoia a oposição na Síria e o governo reconhecido pela ONU na Líbia, por exemplo. A Arábia Saudita e seus aliados regionais têm relações melhores com o regime sírio de Bashar al-Assad e apoia efetivamente o general renegado Khalifa Haftar no estado norte-africano.

Outra questão que representa crise nas relações entre Ancara e Riad é o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, radicado nos Estados Unidos, em outubro de 2018, executado dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul.

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A Arábia Saudita nega qualquer responsabilidade oficial sobre o crime, ao culpabilizar agentes que operaram clandestinamente. A Turquia, no entanto, apresentou evidências que demonstram ordem direta do príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman, para realização do ataque.

No início de julho, autoridades da Turquia puseram vinte suspeitos sauditas no banco dos réus, acusados de participar da equipe que assassinou Khashoggi.

Exemplos triviais dessa rivalidade foram testemunhados, por exemplo, quando o príncipe Faisal bin Bandar bin Abdulaziz recusou-se a tomar café turco, durante um evento em 2019. O príncipe Abdullah bin Sultan al Saud também convocou um boicote à Turquia e seus produtos, até que “Ancara reveja suas políticas relativas ao reino”.

Em outro incidente no último ano, Riad impediu a passagem de dezenas de caminhões turcos carregando produtos têxteis e químicos, na fronteira saudita. Autoridades sauditas também alteraram o termo “Império Otomano” para “ocupação otomana” em livros didáticos e removeram uma placa de rua em Riad, que homenageava o sultão otomano Suleiman, o Magnífico.

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