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No Dia da Nakba, seminário aponta desafios da luta palestina

Seminário promovido pelo Monitor do Oriente Médio (MEMO) e o Fórum-Latino Palestino. Em 15 de Maio de 2018. [Frame do Zoom]

A situação dramática dos palestinos que vivem sob controle israelense, os milhares em prisões e os milhões que estão hoje em campos de refugiados foi  lembrada  neste dia 15, no seminário realizado pelo Monitor do Oriente Médio (MEMO) e o Fórum-Latino Palestino, para lembrar o 72º aniversário da Nakba – “a data  mais importante do calendário da luta palestina” como descreveu  a deputada  Júlia Argentina, que moderou o debate intitulado Sionismo e a limpeza étnica da Palestina.

A Nakba de 1948, lembrou Julia,  foi o primeiro momento em que os palestinos foram obrigados a deixar seus territórios, devido à destruição de 500 aldeias para a instalação do Estado de Israel, resultando na época em mais de 800 mil em situação de refúgio.

Foi o  início de uma colonização sem precedentes, que afeta palestinos espalhados pelo mundo até hoje, explicou a antropóloga, professora do Departamento de Psicologia da FFCLRP/ USP, Francirosy Campos Barbosa,

Os que chegaram ao Brasil em 2017, por exemplo, ” jamais conheceram outra vida senão como refugiados, nascidos em campos … com sucessivas perdas familiares e de direitos fundamentais, além de constante pressão psicológica.”  Francirosy  lembrou a queixa de um refugiado na cidade paulista de Mogi das Cruzes que não conseguia superar a insônia: E isso porque “no meu campo de refugiados não existia silêncio.”, ele relatara.

A Nakba é nosso presente

Em uma das mais de quinhentas cidades destruídas pela Nakba, uma pequena aldeia chamada Qaqun, vivia o pai da jornalista brasileira Soraya Misleh.  Obrigado a fugir junto com todos os moradores de Qaqun, ele acabou chegando ao Brasil, onde formou família. Como todos que saíram levando as chaves reais ou simbólicas de suas casas, ele nunca deixou de esperar por seu direito de retorno, um sonho que agora é a luta da filha.

“A Nakba não é nosso passado, é nosso presente todos os dias. É o presente de nossos pais que vão morrer longe de sua terra. É o presente de palestinos em campos de refugiados (que dizem) essa terra é minha e não vão desistir jamais.”- afirmou Soraya no seminário.

Não desistir, para quem permanece na Palestina, significa enfrentar a pressão liderada pelos Estados Unidos de Donald Trump, com seu Acordo do Século, que não recua sequer em meio à pandemia do coronavírus.

Dia da Nakba, em 1948 [Carlos Latuff/Monitor do Oriente Médio]

Soraya lembrou que, indiferente à morte de milhares de americanos e ao sofrimento de palestinos expostos ao surto de covid-19, o secretário de Estado Mike Pompeu não deixou de viajar a Israel para discutir com o novo governo de Ben Gantz e Benjamin Netanyahu a anexação da Cisjordânia

O avanço da ocupação

Mesmo na pandemia, prosseguem os assentamentos ilegais nos territórios ocupados para além dos limites que foram estabelecidos em 1967, na chamada guerra de seis dias,

Hoje, os palestinos em Cisjordânia e Gaza controlam apenas 9% da Palestina histórica – disse o advogado Abdullatif Khader. O restante é controlado por imigrantes judeus sionistas provenientes da Europa, Estados Unidos, Rússia e outras parte dos mundo, disse ele, estimando que existam  mais de 80.000 residentes em assentamentos exclusivamente judaicos na Palestina ocupada.

Esses assentamentos  são o motor da ocupação, explicou a legisladora María Cristina Heredia Altamente militarizados, com atividades típicas dos colonos,  como agricultura e construção de estradas,  eles são estratégicos para Israel. Instalam estruturas para validar a ocupação, promovem transferência demográfica.

Além disso, mercadorias produzidas ilegalmente, nos assentamentos, são comercializadas e alimentam sua economia, enquanto o povo de Gaza é impedido do acesso a bens, alimentos e serviços fundamentais, tendo infraestrutura e empregos destruídos.  “Não há dúvida de que se trata de uma limpeza étnica, um genocídio contra a população palestina.”, diz ela. lembrando que as resoluções da ONU nunca são cumpridas.

A ativista Maria Luz Presa, cuja organização fez várias viagens à Palestina ocupada, diz que não é possível testemunhar a ocupação e sair do mesmo modo que se entra. Para quem conhece a realidade palestina, ela explica que ficam dois imperativos: um ético e um político.

O imperativo ético é de contar o que foi visto. O imperativo político é o de alcançar uma nova realidade.  Especialmente é preciso desfazer mitos, entre eles o de que se trata de um conflito religioso ou alimentar a crença de que a comunidade internacional oferecerá uma saída apenas com leis e consensos internacionais.

Para ela, são necessárias ações mais contundentes e de resistẽncia organizada. Por exemplo, ela explica que é preciso combater o  avanço da extrema-direita e a relação com o sionismo na América Latina

Desafios da solidariedade

Os eventos antidemocráticos do presidente brasileiro,  Jair Bolsonaro. que ergue bandeiras dos EUA e Israel em ações que ignoram ou agravam a crise de coronavírus no país, foram lembrados pelo ativista da Frente em Defesa do Povo Palestino, Fábio Bosco, como alvos da resistência.

A despeito da solidariedade entre os povos de vários países, governos de direita procuram alinhar-se a Israel e sufocar a luta  palestina.

Além da ocupação, do cerco e da pandemia, a resistência palestina se ressente hoje do afastamento de governos árabes,.

Fábio Bosco contabilizou, entre os 22 países da Liga Árabe, dezenove que hoje estão em processo de normalização  das relações com o estado de Israel, criando rupturas na solidariedade internacional.

Entre estes estão a Arábia Saudita, com prisões políticas de palestinos, o Egito, no cerco à Gaza, a Síria, com vigilância e perseguições e o Líbano, que fechou as portas ao retorno de palestinos refugiados em meio à pandemia. “É preciso cobrar especialmente o Hezbollah para rever essa política do governo libanês” – alertou.

Há várias formas de solidariedade com o povo palestino, lembrou Fábio, que enumerou campanhas que podem ser fortalecidas e unificadas, especialmente a do movimento internacional por Boicote, Desenvolvimento e Sanções (BDS) contra o apartheid israelense.  Há campanhas em curso pela libertação dos presos políticos palestinos, pelo fim do cerco à Gaza, pelo direito de retorno, em defesa de al-Quds (Jerusalém), contra o Acordo do Século, entre outras que entrelaçam ações de resistência pelo mundo.

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