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Imigrantes africanos no Marrocos esperam ajuda diante da crise de coronavírus

Forças de segurança ordenam habitantes a ficar em casa após declaração de estado de emergência diante do novo coronavírus (covid-19), em Rabat, Marrocos, 21 de março de 2020 [Jalal Morchidi/Agência Anadolu]

Milhares de imigrantes africanos sem renda devido à ordem de isolamento no Marrocos, diante da pandemia de coronavírus, podem ficar sem dinheiro para comida e bens fundamentais em um futuro próximo. Grupos de direitos humanos reivindicaram que o governo lhes ofereça a mesma ajuda financeira prometida a cidadãos marroquinos. As informações são da agência Reuters.

O país norte-africano impôs isolamento de um mês, ao restringir o movimento a compras de alimentos ou remédios e a equipes responsáveis por trabalhos considerados essenciais. O país registrou 761 casos de coronavírus e 47 mortes.

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Saddou Habi, de 30 anos, que chegou ao Marrocos da Guiné há dois anos e decidiu ficar ao invés de prosseguir à Europa, após conseguir um emprego em um restaurante, afirmou que suas reservas financeiras devem se esgotar em dez dias.

“Estou ajudando meus quatro companheiros que dividem comigo o apartamento e que estão em situação financeira ainda pior do que a minha”, relatou Habi. “Estamos respeitando todas as medidas para conter a propagação do coronavírus, mas precisamos de ajuda urgente para superar estes tempos difíceis.”

O governo prometeu apoio mensal de aproximadamente US$120 para residências nas quais o principal provedor perdeu trabalho na economia informal devido ao isolamento.

Até então, a ajuda está destinada a pessoas com um documento de “serviço de saúde gratuito”, disponível apenas a cidadãos marroquinos. O governo planeja estender o auxílio a pessoas que não possuem o documento, mas não afirmou se incluirá imigrantes.

O estado também pagará aproximadamente US$200 por mês para trabalhadores de empresas privadas registrados no sistema de previdência pública.

Entretanto, deixa sem qualquer ajuda a grande maioria dos 50.000 imigrantes que obtiveram permissão de residência oficial no país desde 2013. O número muito maior de imigrantes não-registrados, muitos dos quais estão desabrigados ou tentam passar do Marrocos à Europa, tem ainda menos chance de qualquer assistência.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos e a Associação Marroquina para Direitos Humanos reivindicaram auxílio do governo neste contexto de dificuldades. O Ministério das Finanças não respondeu quando questionado se imigrantes poderiam se tornar elegíveis à ajuda estatal.

‘Temos de mostrar solidariedade’

Habi entrou com pedido de residência oficial, mas ainda aguarda resposta. Ele vive em Hay Nahda, distrito pobre de Rabat, onde as casas são construídas de blocos de cimento cru comprimidos uns contra os outros.

Grupos de direitos humanos locais e organizações filantrópicas distribuíram alimentos nos distritos mais pobres, tanto a cidadãos marroquinos quanto estrangeiros, mas o isolamento tornou essa distribuição de suprimentos cada vez mais difícil.

As condições de vida são ainda piores para indivíduos desabrigados de origem subsaariana no norte do Marrocos, perto das províncias espanholas de Ceuta e Mellila, onde imigrantes costumam tentar atravessar um alto emaranhado de cercas de arame farpado para chegar à Europa.

A maioria dos imigrantes trabalha na informalidade, mal ganhando o suficiente para suprir necessidades básicas e cotidianas, relatou Ousmane Ba, imigrante senegalês que lidera um grupo comunitário local.

O governo precisa fazer mais para abrigar os imigrantes desabrigados que vivem nas florestas no norte do Marrocos e ajudá-los a evitar o contágio, reiterou Ba, por telefone, da cidade de Nador, perto de Melilla.

Até então, o governo deslocou mais de 3.000 desabrigados, incluindo imigrantes, a abrigos estabelecidos em escolas, estádios esportivos e outros edifícios, durante o período de isolamento.

“Estamos todos no mesmo barco diante da tempestade do coronavírus. Temos de mostrar solidariedade uns com os outros para que todos sejamos resgatados”, concluiu Ba.

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