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Quarto prisioneiro morre por negligência médica no Egito

Prisioneiros durante julgamento coletivo no Cairo, capital do Egito, 28 de julho de 2018 [Khaled Desouki/AFP/Getty Images]

Ahmed Abdel Moneim Qandil, 35 anos, tornou-se este mês a quarta pessoa a morrer em uma prisão egípcia devido a negligência médica.

Qandil, especialista em educação social e psicopedagogia, pai de dois filhos, detido anteriormente em 2015, recebeu um telefonema em 14 de janeiro de um oficial de segurança nacional requisitando-lhe que comparecesse a um procedimento de rotina para acompanhar sua situação, como já havia feito diversas vezes.

No entanto, ao invés de retornar para a casa desta reunião, Qandil desapareceu por cinco dias antes de ressurgir diante do promotor público, que ordenou sua prisão por quinze dias para investigações. Foi transferido então à Prisão Fayoum.

Qandil já sofria de problemas de saúde decorrentes da prisão, agravados pelo cigarro e pela falta dos remédios apropriados, apreendidos nas celas, conhecidas pelas condições precárias de alojamento e pouca ventilação.

Foi eventualmente levado ao hospital e, ao retornar, foi isolado em uma sala por cinco dias consecutivos, sem comida, água ou remédios.

Na última quinta-feira (20) sua saúde deteriorou-se ainda mais, resultando em óbito.

A morte de Qandil ocorre em meio a diversas campanhas humanitárias promovidas com o objetivo de alertar autoridades egípcias e a comunidade internacional sobre as condições cada vez piores dentro das prisões no Egito.

Em janeiro – sob as hashtags em árabe “celas frias” e “o frio é como o ferrão do escorpião” –, ativistas compartilharam denúncias de como oficiais das prisões egípcias efetivamente proibiram a entrada de cobertores, aquecedores e roupas de inverno nos centros de detenção, deixando prisioneiros submetidos ao frio severo desta época, o que exacerbou problemas de saúde já existentes.

Ainda em janeiro, o cidadão binacional egípcio-americano Mustafa Kassem tornou-se o primeiro americano a morrer nas prisões do Egito, após ser mantido em detenção preventiva, sem julgamento, na Prisão de Tora, por cinco anos e então condenado em julgamento coletivo.

Kassem, motorista de táxi em Nova Iorque, sofria de diabetes e doenças do coração e morreu de insuficiência cardíaca após lhe ser negado qualquer cuidado médico devido. Desde setembro de 2019, Kassem mantinha campanha de greve de fome, em protesto contra sua sentença, considerada injusta.

Não muito depois da morte de Kassem, o jornalista Mahmoud Abdel Majid Mahmoud também faleceu na Prisão de Tora – conhecida como Prisão do Escorpião –, após ser submetido a negligência médica, fome e frio.

Menos de uma semana após a morte de Mahmoud, o prisioneiro político Alaa El-Din Saad, 56 anos, morreu na Prisão de Burj Al-Arab, também sem atendimento médico apropriado.

Há relatos de diversos casos notórios de negligência médica nas prisões do Egito. Em junho de 2019, o ex-candidato a presidente Abdel Moneim Aboul Fatoul sofreu dois ataques cardíacos em menos de 24 horas.

“Isso é resultado das condições desumanas nas prisões e deliberados maus tratos”, afirmou Ahmed Aboul Fatouh, filho do prisioneiro político, na ocasião. “Meu pai pode morrer a qualquer momento.”

Segundo o Instituto para Estudos de Direitos Humanos do Cairo, estima-se que 917 prisioneiros morreram no Egito desde junho de 2013, incluindo 677 mortes devido a negligência médica e 136 mortes sob tortura.

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