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Água, ideologia e amizade com embaixador aproximam Bolsonaro e Netanyahu

Embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley. [Marcos Corrêa/Presidência da República]

No início de fevereiro, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, publicou um post em seu twitter afirmando que uma fábrica israelense será construída no Brasil para extrair água do ar. Segundo ele, trata-se de “mais uma via de enfrentamento da falta de água no Nordeste, além da dessalinização, poços artesianos e [Rio] São Francisco.”

O uso da tecnologia para extrair água do ar não foi confirmado pelo embaixador de Israel no Brasil, que no entanto indicou o interesse dos países em negócios da água, em entrevista no último sábado (15) ao jornal Gazeta do Povo. “Na visita do presidente [Bolsonaro] a Israel em abril [de 2019], um dos temas foi a cooperação em água. Já tem alguns equipamentos do Nordeste que destilam a água do rio, dos poços salgados… Agora, estamos trabalhando nessa intenção de abrir uma usina. Tem que saber como será o pedido, o tamanho, alguns detalhes a resolver. Mas basicamente a notícia está certa.”

A entrevista destacou a amizade entre embaixador e presidente como facilitador da aproximação entre os governos. “Além de demonstrar afinidade ideológica com o presidente, Shelley é amigo pessoal de Bolsonaro desde 2017” , informou o jornal, lembrando que a relação inclui idas a estádios de futebol e simpatia do israelense pelos familiáres do presidente. “Agora chegou um governo racional, que está pensando sobre o povo, não sobre a política.” – disse Shelley sobre a administração Bolsonaro.

Entre outras declarações, o embaixador israelense disse que são falsas as ameaças do mundo árabe ao Brasil em razão de ter aberto um escritório de negócios com Israel em Jerusalém, passo que Bolsonaro diz ser o início de um processo de transferência da embaixada brasileira para a cidade que os palestinos tẽm como sua capital. “”Eu não vi nenhuma influência dos países árabes na relação entre Brasil e Israel. Ao contrário. Quando os países sabem que o objetivo da relação comercial é fazer negócio, não têm que ser contra. Eles falam: “Ah, se você vai abrir o escritório em Jerusalém, vamos cortar negócios com vocês.” E o que acontece? Nada. Abrimos uma embaixada da Guatemala [em Jerusalém] e disseram: “Ah, a Guatemala vai quebrar… O terror…” O que aconteceu? Nada. Abriu uma embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém. O que aconteceu? Nada! São ameaças falsas.”

O embaixador avalia que existam hoje mais de 300 empresas de Israel atuando no Brasil. Tem projetos entre os governos em segurança pública, tecnologia (como drones e satélites), agricultura, o da água… Mas esse é só o primeiro ano que tem um governo [no Brasil] alinhado ao governo [de Israel]”

Sobre a relação da comunidade judaica brasileira com Bolsonaro, muitas vezes crítica ao governo, o embaixador diz que “”quando as pessoas se manifestam contra um governo que é muito bom na relação com Israel, isso é uma coisa feia” e que “agora, nesse período, ninguém tem do que reclamar. Ao contrário, tem que lançar flores para o governo [Bolsonaro].”

De fato, o governo brasileiro tem apoiado Israel ativamente e ostensivamente, inclusive no plano internacional. Na sexta-feira (14), encaminhou pedido ao Tribunal Penal Internacional (TPI ou Corte de Haia) para tornar-se Amicus Curiae no processo em que Israel é acusado por crimes da ocupação contra o povo palesino. Para o governo de Bolsonaro, o processo é uma politização da Corte.

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