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Visita de Príncipe Charles à Palestina nos ajuda a manter foco na solução do conflito

Príncipe Charles, do Reino Unido, em visita ao museu memorial do Holocausto, em Jerusalém, 23 de janeiro de 2020 [Abir Sultan/AFP/Getty Images]

É com grande orgulho e muito entusiasmo que a Palestina receberá amanhã Sua Alteza Real, Charles, Príncipe de Gales.

Príncipe Charles será o mais alto membro da família real britânica a visitar os territórios palestinos ocupados, ao chegar a Belém, na Cisjordânia, onde deverá encontrar o Presidente Mahmoud Abbas.

Trata-se do segundo membro da família real a fazê-lo em apenas dois anos. Seu filho, Príncipe William, visitou a Palestina em 2018. Sua visita deixou uma impressão contundente, quando o William declarou aos palestinos: “Vocês não foram esquecidos.”

A visita do Príncipe Charles salienta esta mensagem e ocorre em um momento histórico nas relações do Reino Unido com a Palestina e o resto do mundo.

Em 2016, o povo do Reino Unido tomou a decisão de deixar a União Europeia, decisão reafirmada nas últimas eleições gerais britânicas. Entre as muitas consequências desta decisão está a questão de qual papel o Reino Unido irá impor a si mesmo dentro da arena internacional após o Brexit.

Manifestantes pró-Brexit reúnem-se em manifestação na Praça do Parlamento, enquanto os parlamentares debatem sobre o acordo para a saída britânica da União Europeia, antes de votá-lo pela terceira vez, em Londres, Reino Unido, 29 de março de 2019 [Tayfun Salci/Agência Anadolu]

Com um papel global histórico que vem de séculos, países em todo o mundo passaram a esperar de Londres uma postura ponderada sobre os assuntos do mundo e um senso inato de justiça.

Tais atributos nunca foram tão importantes.

O Reino Unido exerceu um papel fundamental na construção da ordem internacional baseada no pós-Segunda Guerra Mundial, estabelecida não somente para garantir que jamais vemos novamente os mesmos horrores, mas também para espalhar a paz e a prosperidade em todo o mundo, com base na igualdade perante a lei.

Tais princípios da lei internacional sustentar o nosso próprio sentido de civilização.

Entretanto, estão sob ameaça; não apenas de estados párias e agentes não-estatais, mas também de governos que, a despeito das violações, buscam reafirmar a defesa destes princípios.

Nenhum lugar está sob ameaça mais óbvia do que os territórios ocupados de Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Gaza. Aqui, uma ocupação militar ilegal dura por mais de meio século. Hoje, ainda se expande – não diminui –, apesar das diversas resoluções da ONU e de quase trinta anos de processos de paz.

Transgressões claras da lei internacional estão se intensificando. Estas incluem a construção de assentamentos coloniais nos territórios ocupados, o cerco a Gaza e a negação dos direitos mais básicos da população nativa palestina.

Temos um primeiro-ministro israelense que promete publicamente anexar porções do território ocupado, em contradição direta à lei internacional.

De fato, com a mudança de posição oficial de Washington em relação às questões majoritárias dos assentamentos, o princípio fundamental internacional de rejeitar a aquisição de território à força tornou-se cada vez mais negligenciado para acomodar a atual conjuntura.

Assentamentos judaicos perto de Nablus, na Cisjordânia ocupada, em 10 de fevereiro de 2015 [Nedal Eshtayah/Apaimages]

Deixe-nos ser claros: o governo de Israel não procura qualquer tipo de solução razoável baseada em direitos iguais. Ao contrário, busca impor uma situação na qual Israel toma a terra, mas trata seus nativos palestinos como forasteiros. Isso não é – e não pode ser – aceitável a qualquer país no mundo moderno. Muito menos o Reino Unido, com seu papel único na Palestina; seu sistema legal consagrado pelo tempo e sua posição como criador e fiador de uma visão global capaz de compreender todos os povos como iguais, tanto em direitos quanto na lei.

Há sempre modos de firmar o barco e colocá-lo em curso a uma solução pacífica. De fato, o caminho é bem compreendido; as instituições para que seja implementado existem e o quadro legal está estabelecido há muito tempo.

A paz entre palestinos e israelenses é peça-chave para a paz no Oriente Médio. E a paz na região, como entende o Reino Unido melhor do que ninguém, é crucial para a paz mundial.

O Reino Unido encontra-se diante de uma escolha complexa após o Brexit. Pode ser compelido por outras forças a abandonar a ordem global, à qual tanto dedicou-se a estabelecer; ou pode retomar sua posição histórica como defensor do sistema de direitos internacionais, em um momento no qual este apresenta-se sob sério risco de colapso.

A visita do Príncipe Charles à Palestina não trata-se, evidentemente, de política. Representa a visita do mais alto membro da realeza britânica desde a Declaração de Balfour, em 1917. Tal declaração fatídica levou diretamente à expropriação ainda em curso das terras, da pátria e dos direitos palestinos.

Londrinos marcam os cem anos desde a Declaração de Balfour em protesto para reconhecer a opressão sofrida ainda atualmente pelos palestinos e exigem um pedido de desculpas formal do governo britânico, em Londres, Reino Unido, 4 de novembro de 2017 [Jehan Alfarra/Monitor do Oriente Médio]

A visita, portanto, oferece uma oportunidade para restabelecermos nosso foco na solução de uma das maiores fontes de descontentamento e angústia no mundo hoje. A Palestina e o Reino Unido reconheceram Israel. É hora do Reino Unido reconhecer o voto do Parlamento de 2014 e reconhecer também o Estado da Palestina.

Reconhecimento, no entanto, não substitui o processo de paz. Não obstante, deverá agir para preservar a visão de dois estados que é – e continua a ser, sob o Primeiro-Ministro Boris Johnson – a política oficial britânica.

A paz é possível. Seus parâmetros são bem conhecidos. Tudo que precisamos é de respeito às lei e compromisso com uma visão de paz que renove as esperanças de milhões de pessoas por todos os lados.

As opiniões expressadas neste artigo pertencem ao autor e não necessariamente refletem a política editorial do Monitor do Oriente Médio.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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