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Propaganda sobre a precisão israelense tenta justificar o massacre de inocentes

Mulheres palestinas sentam-se sobre os escombros de suas casas, bombardeadas por forças israelenses, à medida que a crise se intensifica entre Gaza e Israel, na cidade de Khan Yunis, Faixa de Gaza, 13 de novembro de 2019

As Forças de Defesa de Israel (FDI), cujo nome é absolutamente equivocado, e seus apoiadores irritam-se bastante quando membros do quinto maior exército do mundo são acusados de atacar deliberadamente mulheres e crianças inocentes. Seus porta-vozes emitem negações contundentes a todo o mundo, mesmo embora a indignação a tais mortes seja exatamente o que se espera como consequência direta dos disparos sistemáticos de explosivos de alta performance contra áreas civis densamente povoadas.

Mesmo durante os bombardeios, a propaganda israelense funciona a todo vapor. Um tuíte compartilhado na página da FDI ontem (13) anunciou dramaticamente: “URGENTE: Acabamos de atingir o comandante da Jihad Islâmica em Gaza, Baha Abu Al-Ata, diretamente responsável por centenas de atentados terroristas contra soldados e civis israelenses. Seu próximo ataque era iminente.” Logo em seguida, outra postagem alegou que o ataque letal foi um “golpe de precisão”.

A alegação é discutível. O que a equipe de hasbara (propaganda) da FDI não mencionou é o fato de que, ao alvejar Abu Al-Ata, o exército da ocupação também matou sua esposa e feriu seriamente quatro de seus filhos e um vizinho. Não há nada de “preciso” ou “cirúrgico” sobre este ataque; pode-se dizer que é um crime de guerra.

Ao atirar arbitrariamente mísseis Hellfire – “utilizados em diversos assassinatos de indivíduos de destaque,” segundo o Wikipedia – e chamadas bombas inteligentes contra áreas civis é evidente que resultará na morte de civis. Civis não-combatentes não recebiam qualquer proteção até a Segunda Guerra Mundial, razão pela qual o Artigo 33 da Convenção de Genebra de 1949 foi estabelecido. Segundo esta cláusula, ninguém pode ser punido por um ofensa que não cometeu pessoalmente. Represálias contra pessoas protegidas pela lei internacional e suas propriedades são, portanto, proibidas.

Agora, temos de nos sentar e testemunhar obscenidades gêmeas, não somente por Israel ignorar as Convenções de Genebra e sistematicamente assassinar civis, mas também quando lobistas pró-Israel decidem defender tais ações. Dentre os muitos tuítes compartilhados em apoio aos ataques militares, um que conquistou minha atenção é de autoria de Josias Terschürehn, diretor de relações públicas de uma ong alemã. Terschüren contestou-me quando ousei destacar que não havia nada de cirúrgico neste ataque contra uma área civil.

“Aparentemente ninguém, exceto o terrorista alvo e sua esposa, morreu neste ataque preciso e dois de seus filhos foram gravemente feridos,” alegou Terschüren. “Mas isso pode acontecer e já aconteceu com outras famílias de terroristas. Nenhum civil foi ferido.”

Segundo o ponto de vista de Terschüren, portanto, nem a esposa de Abu Al-Ata, sequer seus filhos, podem ser considerados civis inocentes; não passam, para ele, de membros de uma “família terrorista”.

Bahaa Abu Al-Ata, comandante da Jihad Islâmica, e sua esposa foram mortos por um ataque aéreo israelense contra sua casa, na Faixa de Gaza, em 12 de novembro de 2019 [Mohammed Asad/Monitor do Oriente Médio]

Ao ser contrariado, o diretor de relações públicas da “Initiative 27 Januar” – ong de caráter humanitário sobre temas do Holocausto, com sede em Berlim – respondeu-me: “Referia-me à sua crítica de que os ataques a Israel são executados contra áreas densamente povoadas. Tudo que quero dizer é que, fora seus familiares, nenhum outro civil foi atingido. Embora infeliz, não é algo incomum no caso de familiares de terroristas.”

Não tenho certeza se Terschüren, que descreve a si mesmo como “conservador” e “cristão”, tem a intenção declarada de promover tal propaganda falaciosa ou se é mais uma vítima da própria propaganda israelense, pois esta é uma arma que a FDI usa e abusa com enorme habilidade.

Considere isto, por exemplo: “Nesta manhã, matamos o comandante da Jihad Islâmica em Gaza,” compartilhou ontem a FDI em sua página do Twitter. “Essa é a razão pela qual deveriam se preocupar,” reiterou. O vídeo que acompanha a postagem é composto por registros de ataques terroristas, como o 11 de setembro e os atentados em Bombaim, Manchester, Paris, Suécia, Indonésia e Nigéria, nenhum dos quais com qualquer relação com a luta palestina. Tentar relacionar grupos de resistência palestina a ataques terroristas transnacionais em outros lugares do mundo é meramente desonesto. A resistência não é um braço da Al-Qaeda ou do Daesh (Estado Islâmico), não importa quantas vezes a FDI e seus lacaios de Israel tentem nos convencer do contrário. Simplesmente não é verdade.

Tais declarações, no entanto, são esperadas de um país que não é capaz de justificar seu próprio terrorismo de estado senão dessa maneira. “Mentiras, malditas mentiras e propaganda israelense,” como disse Mark Twain, conforme atribuído. Infelizmente, a propaganda parece funcionar, a julgar pelas redes sociais; aqueles que se identificam por um sentimento antipalestino caem em seu anzol, provavelmente porque tal retórica é eficiente em incitar seu próprio racismo e ódio inerentes.

A FDI esteve bastante ocupada com diversos outros “golpes cirúrgicos” desde a morte de Abu Al-Ata e sua esposa. A taxa de mortes, à medida que escrevo, está em 23 palestinos, dos quais somente doze foram “confirmados como membros de grupos terroristas,” segundo os lobistas pró-Israel. Os ataques não foram tão cirúrgicos afinal.

Talvez, os dezoito inocentes pegos nesse entremeio fossem esposas e filhos de “terroristas”. Assim, tudo certo, segundo os apologistas iludidos e cegos dos crimes de guerra de Israel. Seus sofismas para justificar o assassinato de homens, mulheres e crianças inocentes é de fato repulsivo.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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