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ONU explora crianças palestinas para promover a propaganda de dois estados

Riyad Mansour, observador permanente do Estado da Palestina nas Nações Unidas, discursa no Conselho de Segurança da ONU, em 18 de dezembro de 2017 [Mohammed Elshamy/Agência Anadolu]

Há algo que a ONU e seus oficiais deveriam muito bem manter em mente ao pregar sobre o almejado processo de paz e promover a narrativa de segurança israelense: crianças palestinas não são objetos a serem explorados. Em um tempo no qual a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) enfrenta uma crise severa devido ao corte de recursos, além de alegações de má conduta contra membros de sua equipe, a última coisa que a ONU deveria estar fazendo é explorar as crianças palestina em nome da preservação da concessão obsoleta de dois estados.

No início deste mês, Nickolay Mladenov – Coordenador Especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio – compartilhou em sua página do Twitter uma foto sua ao lado de Rosemary DiCarlo – Secretária-Geral para Assuntos Políticos e do Processo de Paz – e de um grupo de jovens estudantes refugiadas em uma das escolas da UNRWA, na cidade de Ramallah, na Cisjordânia ocupada. “Tenho esperanças de que essas meninas cresçam e participem de eleições democráticas em um contexto no qual Israel e Palestina vivam lado a lado, em paz e segurança,” escreveu o diplomata.

O fato da narrativa colonial tratar Israel, paz e segurança como se fossem sinônimos não significa que não há contradições inerentes nessa retórica. A ONU, órgão colaborador desde antes da criação de Israel, evidentemente está ciente das discrepâncias, mas prefere coagir os palestinos a ciclos históricos de expropriação, o que inclui violações contra estudantes, ao lhes impor um processo de paz tendencioso no qual a existência de Israel é inquestionável, mesmo a custo de vidas palestinas.

O desejo de Mladenov para as crianças palestinas não está relacionado a lhes atribuir o direito de viver livremente em toda a Palestina histórica. Ao contrário, o representante da ONU exige nada mais que a subjugação perpétua e o esquecimento do legítimo direito de retorno do povo palestino. E qual seria a melhor maneira para doutrinar esse viés às jovens gerações, segundo os padrões alucinatórios da ONU, senão por tal comportamento?

Entretanto, os palestinos têm memória e esta memória é política. Será que Mladenov chegou a ouvir as narrativas das crianças refugiadas palestinas? Será que Mladenov e a ONU realmente esperam que as futuras gerações de palestinos explorem a si mesmas em nome dos planos coloniais de Israel? Como os oficiais da ONU são capazes de reconciliar a ideia de democracia com o colonialismo inerente ao paradigma de dois estados, solução tão desejada para ser imposta aos palestinos pela comunidade internacional?

Um passo além deste último tópico, dado que ONU sabe muito bem que a hipótese de dois estados é obsoleta, portanto tenta justificar o fato de que tais crianças palestinas, ao lado de muitas outras, serão testemunhas de novos avanços da apropriação colonial por Israel. O legado de Mladenov a esse grupo de estudantes será nada senão uma fotografia promocional tirada com fins de propaganda da ONU; enquanto isso, no plano de fundo, famílias palestinas são permanentemente separadas e desapropriadas por Israel.

A farsa da ONU não é estonteante; as Nações Unidas colocam em risco a vida do povo palestino e tentam macular estudantes para que consintam com este processo. Tagarelar sobre eleições democráticas enquanto contempla a perpetuação do colonialismo é no mínimo vil, sobretudo ao envolver estudantes na propaganda da ONU. Então, que deem fim à retórica da esperança, uma ilusão que compactua efetivamente com a eliminação dos direitos palestinos. Mladenov jamais pretendeu que as vozes dos estudantes palestinos chegassem à comunidade internacional. Sua foto promocional fala bem alto sobre a coação da ONU para silenciá-los. No que se refere às crianças palestina que enfrentam um status perpétuo de refúgio, torna-se claro que a ONU não poderia ser mais baixa.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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