Autoridade Palestina imita a política convencional e viola os direitos do povo palestino

Nos últimos tempos, a imprensa lucrou consideravelmente ao apontar os abusos grosseiros do Presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Entretanto, não foi capaz ainda de dar atenção às conexões dentre tais abusos que o levaram aos últimos apelos proferidos na Assembleia Geral da ONU, para que os estados árabes normalizem relações com Israel. Líderes árabes, é claro, não precisam de Trump para encorajá-los a tanto; a Iniciativa de Paz Árabe, por exemplo, endossa esse absurdo. Mais recentemente, a Conferência de Varsóvia, realizada em fevereiro de 2019 e promovida pelos Estados Unidos, mostrou-se mais um esforço diplomático a fim de normalizar o estado ocupante.

O resultado é que Trump tem autorização para avançar em seu conluio com Israel, desimpedido e impune. Conforme prosseguiam os comentários sobre o assunto na Assembleia Geral da ONU, tornava-se claro que a Autoridade Palestina (AP) não parece opor-se à sua participação nesta farsa. Após o discurso de Trump, o Ministério de Relações Internacionais da Autoridade Palestina divulgou uma declaração na qual priorizava as palavras de Trump à realidade da colonização israelense em curso sobre a Palestina.

A agência de notícias Wafa destacou: “Enquanto Trump realizava seu discurso, Israel executava prisões em massa nos territórios ocupados de Jerusalém e da Cisjordânia, além de demolir casas palestinas.” A declaração da AP considerou que a perspectiva apresentada por Trump “avaliza o estímulo para que as autoridades da ocupação cometam mais e mais atrocidades e violações contra nosso povo.” Tais violações, reiterou a Autoridade Palestina, vão contra o consenso internacional, resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas e declarações do líder palestino Mahmoud Abbas.

É possível que a Autoridade Palestina tenha ido tão baixo ao ponto de destacar a luta palestina contra a violência colonial ao meramente condicioná-la ao discurso de Trump? Em primeiro lugar, a luta anticolonial palestina tem história suficiente para sobreviver por mérito próprio. Em segundo lugar, Israel viola os direitos palestinos independente das declarações de Trump nas Nações Unidas. De fato, a Autoridade Palestina não obteve quaisquer vantagens políticas para os palestinos com tais declarações.

Além disso, por meio da cumplicidade entre a Autoridade Palestina e Israel, as violações sistemáticas contra civis palestinos são perpetradas diariamente. É preciso lembrar à liderança da AP como seus oficiais auxiliaram Israel na perseguição e captura do intelectual palestino Basel Al-Araj, por exemplo? E quanto à exploração de Khan Al-Ahmar e dos protestos da Grande Marcha do Retorno, onde formas de resistência sofreram abusos para se tornarem vantajosas à sua própria propaganda política? Ou mesmo a colaboração dos serviços de segurança da Autoridade Palestina com a CIA americana, em coordenação de segurança com Israel, executando torturas em prisões da autoridade antes mesmo de entregar os prisioneiros palestinos ao estado ocupante? De fato, a Autoridade Palestina fez tanto para violar os direitos palestinos que é possível equipará-la às ações rotineiras de Israel e Estados Unidos.

Forças israelenses agridem palestinos à medida que os expulsam de suas casas, na aldeia de Khan Al-Ahmar, em Jerusalém, 4 de julho de 2018 [Issam Rimawi/Agência Anadolu]

É possível, talvez, que a Autoridade Palestina absolveu a si mesma outra e outra vez, ao pedir por uma conferência de paz internacional “a fim de supervisionar as negociações entre israelenses e palestinos à luz do fracasso dos Estados Unidos como mediador honesto”? Dada a flagrante corrupção política tanto em Israel quanto na AP, que mediação honesta pode ser tanto desejada pela liderança palestina em termos de negociação, a menos que condicione o papel dos palestinos à insustentável concessão da solução de dois estados, a qual dá cobertura a Israel para que mantenha a colonização sobre os territórios palestinos? Efetivamente, a Autoridade Palestina continua a imitar políticas convencionais a este respeito.

A Autoridade Palestina possui um histórico de colaboração com Israel desde sua criação como representante político do povo palestino, outorgada pelos acordos de Oslo, na década de 1990. A estratégia supersaturada e ineficaz de apontar dois cenários distintos – discursos e violações – não faz sequer cócegas ao projeto de Trump, tampouco cria a menor proeminência para o povo palestino na arena internacional. Mais uma vez, a AP expôs sua duplicidade, ao reafirmar sua recusa em proteger os direitos palestinos no processo político.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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