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Quem quer que vença a eleição de Israel, palestinos sabem que não fará diferença

O primeiro-ministro israelense e líder do partido Likud, Benjamin Netanyahu, e sua esposa Sara Netanyahu votam durante as eleições israelenses, em uma seção eleitoral em Jerusalém. Em 17 de setembro de 2019 [Haim Zach/Agência Anadolu]

A eleição geral de Israel terminou e Benjamin Netanyahu não conseguiu obter a maioria no 22º Knesset. Foi um tapa na cara e uma decepção vergonhosa para ele, após semanas de incitação contra os palestinos, incluindo cidadãos árabes de Israel, em uma campanha eleitoral assustadora.

Em meio a toda a incerteza, o que sabemos como certo é que quem liderar o próximo governo israelense não terá como objetivo encerrar as sete décadas de colonização israelense da histórica Palestina, nem encerrar os 52 anos de controle militar em curso na Cisjordânia ocupada, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. O próximo primeiro ministro não defenderá a paz com palestinos oprimidos que aspiram à autodeterminação e liberdade; nem ele – quase certamente será um homem – se desculpará pela limpeza étnica que ocorreu em 1948 e pela freqüente expulsão e desapropriação ao longo de muitos anos. Ele não desmantelará os assentamentos ilegais ou postos avançados em toda a Cisjordânia ocupada, nem interromperá os ataques dos colonos e a terrível discriminação e políticas racistas, leis e práticas racistas que visam os palestinos.

O destino dos palestinos está ligado aos rumos de Israel. Muitos deles acompanharam a campanha eleitoral e aguardam o resultado com grande interesse. Todos concordam, no entanto, que os candidatos e oficiais israelenses são simplesmente lados diferentes da mesma moeda.

A liderança oficial palestina, natualmente, também acompanhou com interesse, enfatizando que a Autoridade Palestina está procurando um parceiro genuíno para a paz, que esteja disposto a terminar a ocupação militar e acredite na solução de dois estados. Isso, no entanto, já é algo morto e enterrado aos olhos da maioria dos palestinos comuns.

“As eleições israelenses eram a disputa entre manter o status quo ou fortalecer o apartheid”, twittou Saeb Erekat, secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina. “Para que a paz prevaleça, o próximo governo precisa entender que não haverá paz nem segurança sem acabar com a ocupação: a Palestina próxima às fronteiras de Israel em 1967”.

O secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina, Saeb Erekat. Em 11 de setembro de 2018 [Ahmad Gharabli/AFP/Getty Images]

A AP precisou responder à acusação de Netanyahu de que estava interferindo na eleição de Israel. “As acusações de Netanyahu e alguns membros do Likud da interferência da AP nas eleições de Israel são falsas”, escreveu o chefe da Autoridade Geral de Assuntos Civis no Twitter. “Isso justifica a continuação da campanha raivosa contra a AP e seus líderes. Consideramos essas eleições um assunto interno de Israel e esta é a nossa posição consistente e clara. ”

No entanto, declarações conflitantes surgiram quando o ministro das Relações Exteriores da Palestina, Riyad Al-Maliki, disse que a Autoridade Palestina está pronta para o diálogo com qualquer futuro líder israelense. Poucas horas depois, o presidente Mahmoud Abbas disse que seria contra qualquer novo governo israelense liderado por Benjamin Netanyahu.

Penso que o que se quis dizer aqui é que a Autoridade Palestina está disposta a voltar à mesa de negociações com qualquer primeiro ministro, até o próprio Netanyahu, se ele mudar seu curso de ação e políticas em relação aos palestinos. “Quem for capaz de formar um governo, estamos prontos para sentar com ele para reiniciar as negociações”, explicou Al-Maliki.

Por seu lado, todos os grupos de resistência palestinos concordaram que não esperam nada de bom de nenhum dos principais candidatos, independentemente de quem chefie o próximo governo. Seja Benny Gantz, Avigdor Lieberman ou Netanyahu novamente, todos eles querem esmagar o moral palestino, a resolução, o espírito de resistência e a identidade nacional. “Todas as autoridades israelenses são hostis aos palestinos”, destacou o vice-chefe do Bureau Político do Hamas, Mousa Abu Marzook.

Ao longo dos anos, políticos e generais israelenses convenceram a sociedade israelense sistematicamente de que todos os palestinos, incluindo pragmáticos, esquerdistas e secularistas que acreditam em paz e luta não violenta, como Abbas, sempre serão uma ameaça existencial para o futuro de Israel. Netanyahu – descrito por alguns como “Sr. Segurança” – sempre suspeitou de traição dos muçulmanos árabes israelenses e cristãos do Knesset, porque simplesmente não são judeus nem sionistas, ou se não concordam com todas as suas políticas.

O primeiro-ministro israelense que serviu por mais tempo não poupou esforços para provocar medo e sentimentos anti-árabes. No entanto, a Lista Conjunta – composta por quatro partidos árabes e liderada por Aymen Odeh – é agora o terceiro maior partido no parlamento após esta eleição. Essa nova realidade é o pesadelo de Netanyahu; é um divisor de águas, já que agora temos legisladores árabes que podem ter uma presença efetiva no Knesset e ser catalisadores de mudanças.

Ayman Odeh, membro do Knesset e chefe da Lista Conjunta

Não há dúvida de que esse resultado eleitoral é uma derrota pessoal para Netanyahu, o “mágico” que usa truques e retórica populista racista para permanecer no poder, não importa o que for necessário. Em uma tentativa final de permanecer como primeiro-ministro, ele continuou a incitar contra a Lista Conjunta, que representa uma comunidade de quase dois milhões de cidadãos árabes israelenses. “Existem apenas duas opções”, disse ele aos eleitores, “um governo liderado por mim ou um governo perigoso que depende de partidos árabes”.

Enquanto Israel sustenta ser apenas o “estado-nação do povo judeu”, não pode se chamar democracia secular, especialmente quando impõe o Apartheid e discrimina seus cidadãos não-judeus. A menos que e até que direitos iguais sejam concedidos a todos, independentemente de religião, raça e etnia, não pode ser uma democracia. No entanto, essa mudança não ocorrerá sem a pressão internacional para que Israel respeite a lei internacional e seja responsabilizado.

Enquanto os israelenses esperam para ver quem liderará o próximo governo, os palestinos, que foram decepcionados pela comunidade internacional e pelos regimes árabes, perderam a esperança de que a paz seja alcançável. Quem quer que seja o próximo primeiro ministro, os palestinos sabem que isso não fará diferença para eles.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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