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Protestos na Argélia continuam em meio a prisões e forte repressão

Manifestantes argelinos marcham e exibem cartazes em protesto de massa contra o então presidente Abdelaziz Bouteflika, na capital Argel, em 29 de março de 2019 [AFP/Getty Images]

As forças de segurança da Argélia iniciaram ontem uma campanha de prisões na cidade de Argel, capital do país, após enormes manifestações sobrevirem às orações de sexta-feira.

Os argelinos saíram para protestar pela 19ª sexta-feira consecutiva. Os manifestantes exigem uma mudança do regime após a renúncia do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika, em abril deste ano.

Os manifestantes suportaram o calor intenso e a alta presença das forças de segurança, em particular na capital, onde a polícia executou diversas prisões. As forças de segurança foram vistas em uniforme oficiais e à paisana na Praça dos Correios, epicentro da cidade, ponto de encontro para manifestantes desde o início dos protestos em 22 de fevereiro.

A polícia prendeu ao menos sete pessoas após checar suas identidades e confiscar seus celulares na Rua Hassiba Ben Bouali. Na Rua Didouche Mourad, oficiais de segurança vestidos como civis prenderam dois jovens na Universidade de Argel e os levaram em carros de polícia sem fornecer qualquer informação sobre o motivo da prisão, conforme os relatos de testemunhas oculares.

Por volta do meio-dia, centenas de manifestantes começaram a se reunir perto da Universidade de Argel devido a um cerco executado pelas forças policiais, que os empurraram à calçada a fim de dar passagem aos veículos. Os manifestantes, então, iniciaram uma marcha, que durou somente alguns metros antes de ser interrompida pela polícia.

Os manifestantes gritavam palavras de ordem como “Não queremos, não queremos um governo militar novamente”, “Estado civil e não militar” e “Gaid Salah, renuncie”, além de reivindicar uma transição que consiga romper com a estrutura do regime ainda antes das eleições presidenciais. A pauta vem em resposta aos comentários de Gaid Salah, Chefe do Exército. Salah afirmou recentemente que aqueles que exigem um período transicional desejam somente “proteger a corrupção”.

Desde a renúncia do ex-presidente Abdelaziz Bouteflika, em 2 de abril, sob pressão popular, manifestantes exigem o afastamento de figuras próximas ao antigo regime, incluindo o presidente interino Abdelkader Bensalah.

O Chefe de Estado rejeitou as demandas dos protestos, especialmente aquelas relacionadas a um eventual acordo sobre o período de transição e sobre a composição de instituições provisórias. Após este processo, seriam realizadas eleições presidenciais. Bensalah também insistiu na implementação da constituição, a qual estipula a realização das eleições para presidente.

No entanto, Gaid Salah – que se tornou o homem forte de fato no governo do país – não apresentou qualquer solução alternativa após o cancelamento das eleições presidenciais, que estavam marcadas para 4 de julho. O processo eleitoral foi interrompido pela falta de candidatos e por sua rejeição dentre os movimentos de protestos.

A constituição determina que Abdelkader Bensalah transfira seus poderes a um novo presidente até 9 de julho. Contudo, a urgência deste prazo, considerando o cancelamento das eleições, impossibilita sequer a realização de novas eleições.

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