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Al Jazeera investiga: Islamofobia incorporada

Frame do documentário investigativo da Al Jazeera 'Islamofobia Inc.’

O medo e o ódio do “outro” não são novidade na América branca. Durante décadas, definiu relações com minorias e comunidades imigrantes.

As Leis de Jim Crow, que legalizaram a segregação racial nos estados do sul por mais de cem anos, transformaram o sonho americano em um pesadelo vivo para seus cidadãos de ascendência africana.

Hoje, a legislação antimuçulmana deu uma carta branca para a demonização e a perseguição dos muçulmanos na chamada terra das pessoas livres.

No documentário, a Unidade de Investigações da Al Jazeera, pela primeira vez, expôs a espantosa velocidade com a qual esse câncer maligno está se espalhando na sociedade americana.

Alcançou proporções industriais; daí o título Islamophobia Inc. (ou Corporação Islamofobia)

Os produtores passaram vários meses trabalhando nos bastidores para identificar os agentes econômicos com maior interesse no negócio da islamofobia.

Longe de ser a conduta de poucos marginalmente insatisfeitos, eles descobriram que os fornecedores abrangem uma ampla rede de políticos, agentes de segurança, magnatas corporativos e grupos religiosos.

Embora o ódio aos muçulmanos não tenha começado com o presidente em exercício, Donald Trump, o documentário mostra que sob sua administração a islamofobia “disparou”.

Quando perguntado por que não há lugar para os muçulmanos na América, vários entrevistados justificaram pela opinião do seu presidente.

A ligação entre os insultos raciais de Trump e a dos islamofóbicos é tão escandalosa quanto perturbadora. No início deste ano, durante uma reunião com legisladores que levantaram a questão da proteção de imigrantes do Haiti, El Salvador e países africanos, Trump perguntou: “Por que estamos recebendo todas essas pessoas de países de merda aqui?”

Hoje, seus leais apoiadores e admiradores vomitam a mesma retórica repugnante; alegando que os muçulmanos deveriam voltar para a “caixa de areia” de onde vieram.

A conseqüência inevitável desse ódio inspirado oficialmente tem sido uma série de ataques violentos contra muçulmanos, mesquitas e empresas. A recusa do presidente Trump em condenar um ataque a uma mesquita em Bloomington, Minnesota, em agosto de 2017, indica a trajetória perigosa em que os EUA estão agora. Estranhamente, um porta-voz da Casa Branca afirmou que o ataque pode ter sido encenado para gerar compaixão.

Frame documentário investigativo da Al Jazeera, ‘Islamofobia incorporada’ [Youtube]

Para aqueles com memórias curtas, o documentário recorda o terrível tratamento dado aos pais do capitão do exército americano Humayun Khan, que morreu no Iraque em 2004. Khizr Khan, um imigrante paquistanês e pai do falecido foi forçado a reagir após Trump apelar para a proibição de entrada aos muçulmanos nos EUA, em dezembro de 2015.

Ao discursar na convenção democrata em julho de 2016, quando Hillary Clinton aceitou a indicação do partido, Khan tirou uma cópia da constituição americana do bolso de sua jaqueta e indicou sua leitura a Trump. Ele pediu ao então candidato a presidente que visitasse o cemitério de Arlington, onde os patriotas americanos de “todas as fés, gêneros e etnias” estão enterrados.

Naturalmente, Trump respondeu em sua habitual maneira condescendente, atacando a esposa de Khan, Ghazala; “Ela não tinha nada a dizer… talvez ela não tivesse permissão para dizer alguma coisa.” A óbvia insinuação aqui é a noção errônea de que as mulheres muçulmanas são oprimidas.

O conceito de islamofobia corporativa emprega muito mais do que o ódio crasso. Também explora ao máximo medos infundados e ignorância; por exemplo, a ideia de que os muçulmanos assumirão a América e imporão a sharia a seu povo. Sem surpresa, nenhum dos entrevistados forneceu evidências disso.

Uma das características mais chocantes do documentário envolve a Irmandade Muçulmana. Repetidamente, os entrevistados propagam a teoria da conspiração de que a Irmandade Muçulmana é o cérebro de um projeto sinistro para controlar a América dentro de suas escolas, igrejas e instituições cívicas.

Lamentavelmente, essa campanha de difamação orquestrada pode ser rastreada até o Egito e outros países do Oriente Médio, onde as ditaduras apoiadas pelos EUA perseguiram a Irmandade e lhes negaram o direito de participar da política nacional.

Ostensivamente, a verdadeira vítima do ódio muçulmano dos Estados Unidos é a própria democracia. Enquanto a América macartista acusou os comunistas suspeitos de serem “entristas” políticos nos anos 50, os muçulmanos também estão sendo perseguidos hoje e insultados como infiltrados.

Ao contrário dos defensores da islamofobia, o documentário da Al Jazeera não se baseia em generalizações abrangentes ou em indivíduos fictícios. Ele identifica e nomeia as pessoas e instituições que estão financiando a Islamophobia Inc. da América. A trilha de conexão leva a influentes políticos no Capitólio, incluindo o presidente Trump e seu recém-nomeado assessor de segurança nacional, John Bolton.

Da mesma forma, a investigação revelou que o presidente do Centro de Política de Segurança, Frank Gaffney, é um dos islamofóbicos mais influentes e eficazes em Washington. Ele já havia servido no governo de Ronald Reagan.

Frame do documentário investigativo da Al Jazeera ‘Islamofobia Inc.’

Há ainda outra fachada que se chama Act for America; liderada por Brigitte Gabriel, é uma das maiores organizações antimuçulmanas do país. Enquanto desfilavam como uma organização de segurança nacional, as evidências reunidas mostraram que sua retórica encoraja o vigilantismo e as táticas de linchamento da máfia. A despeito de seu próprio histórico de perseguição na Europa, a Al Jazeera encontrou um grande número de religiosos judaicos proeminentes também envolvidos no financiamento da indústria multimilionária da islamofobia. São ávidos em seus esforços para manter os muçulmanos longe da grande política, porque temem que isso levaria a uma abordagem americana mais justa em relação ao conflito com a Palestina.

É significativo que nenhum dos líderes dessas organizações tenha a coragem intelectual ou sequer moral para conceder entrevista à Al Jazeera. Isso sugere uma falta de convicção na sua própria habilidade de defender suas perspectivas torpes.

A investigação temporal da Al Jazeera identificou os principais proponentes da islamofobia na América; expôs seu modus operanti e seu impacto tóxico sobre o tecido da sociedade americana.

A conclusão predominante a partir deste documentário deve girar em torno do fato dos islamofóbicos terem traído seus valores de liberdade, igualdade e justiça, conforme cultuados pela Constituição americana. Ao contrário, orientados por intolerância, preconceito e falta de visão, esses agentes escolheram investir nos negócios do ódio e da discriminação.

Diante do eventual veredicto da história sobre o dano causado aos Estados Unidos pela indústria da islamofobia, este documentário irá prevalecer como uma testemunha pivotal.

 

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