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O novo governo de Israel irá oferecer aos palestinos algumas migalhas, nada mais

Primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu cumprimenta seus apoiadores em 10 de abril de 2019, em Tel Aviv, Israel [Amir Levy/Getty Images]

Após assegurar 36 assentos no Knesset, e com outros partidos de direita vencendo ao menos 30 lugares, é óbvio que o líder do partido israelense Likud, Benjamin Netanyahu, irá constituir o próximo – seu quinto – governo. Embora não um líder tão pragmático como outros, principalmente aqueles posicionados à esquerda, durante as eleições, Netanyahu jogou sua cartas de forma bastante aberta. Sua agenda inclui destruir todo e qualquer sonho palestino.

Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestina, da Organização pela Libertação da Palestina e do Fatah, disse  que está pronto para trabalhar com qualquer governo israelense propício à paz. Isso foi antes de se conhecer os resultados das eleições gerais israelenses; é no mínimo duvidoso que o novo governo israelense se posicione à procura de soluções pacíficas para as décadas de conflitos na Palestina histórica.

“Não iremos abandonar nossos direitos e não iremos aceitar o acordo do século [propagandeado pelos Estados Unidos],” insistiu Abbas. “Estamos abertos caso Israel aceite as resoluções da ONU para a paz.” Ele não comentou os resultados eleitorais, mas seu assessor sênior Saeb Erekat disse: “Os israelenses votaram pelo partido que não deseja o fim da ocupação e que se opõe à solução de dois estados.”

O colunista israelense Boaz Bismuth escreveu no jornal Israel Hayom que a agenda de Netanyahu é baseada em cumprir as aspirações judaicas em detrimento dos direitos palestinos. Bismuth referiu-se à adoção da Lei do Estado-Nação Judaico como um exemplo. “E cá está o problema: quando o vigésimo Knesset aprovou a eminente lei do estado-nação, com apoio majoritário amplo da população [israelense], a esquerda se opôs, argumentando que é racista pois não inclui uma cláusula que enuncie em detalhes a igualdade para todos os cidadãos. Esteve evidente à maioria do público que igualdade não tem lugar nessa lei porque este não é um país para todos os seus cidadãos, mas somente um estado judeu.”

Onde fica então os palestinos dentro de Israel e nos territórios ocupados? A Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP) espera que o Likud adote políticas ainda mais extremas sobre os direitos palestinos. “O Likud irá compor o governo,” explicou Talal Abu Zarifa, oficial sênior da FDLP em Gaza. “Portanto, precisa adotar políticas mais extremas a fim de atrair simpatizantes da extrema-direita para sua coalizão. O resultado será certamente um governo que desrespeita os direitos palestinos.”

A uma semana da eleição, Israel pisou sobre Gaza – cartum [Sabaaneh/Middle East Monitor]

Bismuth talvez tenha nos dado uma pista sobre o pensamento do Likud de Netanyahu, mas um veterano do partido tornou bastante claro que irá realizar em solo. Ao falar para a emissora Channel 12 TV, Yisrael Katz enfatizou que o novo governo israelense não seria uma gestão de unidade nacional, mas um governo de direita que irá impor a soberania israelense sobre os territórios palestinos da Cisjordânia ocupada.

O professor palestino de Ciências Políticas Hanna Isa reside na Cisjordânia ocupada. Ele confirmou que é exatamente isso que será feito pela coalizão liderada pelo Likud. “Jerusalém já foi,” Isa relatou, “e Israel irá anexar a área C, residência de 350.000 palestinos e 400.000 colonos judeus. Aos colonos serão conferidos documentos de identidade israelenses, o que irá torná-los cidadãos israelenses. As migalhas serão deixadas aos palestinos.”

O Prof. Isa acredita que o novo governo israelense não irá esperar muito para executar esse estágio do processo, o que espera ser parte do “acordo do século” de Donald Trump. O professor supõe que o Presidente dos Estados Unidos irá anunciar os detalhes de seu acordo em 15 de maio, o dia da Nakba; aniversário de 71 anos da criação do Estado de Israel. “A data é simbólica e significativa,” acrescentou Isa. “Em 15 de maio, Israel foi criado; em 15 de maio, a Palestina irá desaparecer.”

Os partidos de oposição israelense prometeram ser “implacáveis” com o governo. “O Knesset será um campo de batalha,” afirma, mas não irão lutar para dar aos palestinos qualquer concessão. Por que o fariam? Não há pressão internacional a Israel para comprometê-lo a qualquer assunto de relevância; o que Israel quer, Israel consegue, mesmo que signifique estabelecer um estado racista no qual somente judeus são considerados cidadãos com direitos iguais, enquanto não-judeus são tratados como cidadãos de segunda categoria ou pior.

As migalhas que qualquer governo israelense, direita ou esquerda, dará aos Palestinos não serão mais do que pequenos fragmentos de sua pátria “nos quais eles podem ter serviços municipais, tais como coleta de lixo; hastear uma bandeira palestina; e, principalmente, prosseguir com sua cooperação de segurança com Israel.” Essa é a realidade que pode compelir Mahmoud Abbad e sua Autoridade Palestina a encerrar imediatamente o que chama de colaboração “sagrada” de segurança.

Somente a unidade irá ter sucesso em obter absolutamente qualquer coisa para os palestinos; as políticas vigentes da Autoridade Palestina são completamente desacreditadas e ineficientes. Podemos sempre sentarmos, o chapéu nas mãos, e aguardar pelas migalhas deixadas por Israel, é claro, mas o povo da Palestina possui mais dignidade e auto-respeito do que isso. Quando mais cedo Abbas reconhecer esse caráter e agir de acordo com ele, melhor para todos nós.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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