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 A primeira visita do Papa ao Líbano mostra que, enquanto há vida, há esperança

3 de dezembro de 2025, às 03h37

O Papa Leão XIV ao desembarcar no Aeroporto Internacional Rafik Hariri , em Beirute, Líbano, após sua visita à Turquia, em 30 de novembro de 2025. [Houssam Shbaro – Agência Anadolu]

A chegada do Papa Leão XIV a Beirute no dia 30 de Novembro veio desmontar alguns estereótipos. O Líbano é um país com uma diversidade religiosa imensa. Cristãos e muçulmanos compartilham o mesmo espaço — e, ao contrário do que muitos imaginam, essa convivência é amplamente pacífica.

Apesar dos conflitos sectários que marcaram o passado recente e das tentativas externas de desestabilizar o país, a população libanesa demonstra, mais uma vez, que o mundo árabe vai muito além das simplificações feitas pela grande mídia.

Dahieh é um bairro ao sul de Beirute e de maioria muçulmana. É  frequentemente alvo de ataques israelenses. Um dos mais recentes foi realizado no dia 23 de Novembro, violando mais uma vez o cessar-fogo acordado em 2024, e sendo perpetrado apenas uma semana antes da chegada do pontífice.

Ao ser recebido no palácio, uma cerimônia repleta de ritmo e festa – bem libanês – aguardava o Papa Leão XIV. Dançarinos e dançarinas perfomaram o  Dabke, dança folclórica do Levante, e que se tornou um dos símbolos culturais vinculados à resistência Palestina.

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É interessante perceber que essa visita é passado, presente e futuro. De acordo com estudiosos da Bíblia, possivelmente o primeiro milagre de Jesus [João 2:11] foi realizado em Qana, no Líbano – vilarejo hoje que faz fronteira com a Palestina Ocupada. Ali Jesus, durante uma festa, transformou água em vinho.

Em Sour e Saida, ainda de acordo com estudiosos da Bíblia, no Evangelho de Marcos, Jesus caminhou e levou cura para as pessoas. Nos dias de hoje, devido às ocupações israelenses, Jesus, nascido em Belém, não conseguiria realizar esses trajetos. Certamente enfrentaria bloqueios, check points, e o vilarejo de Qana, ou áreas em Sour e Saida teriam que ser evitadas por conta de bombardeios.

A chegada do Papa leva esperança, e não só isso… Reforça as origens do cristianismo. Reconhece o seu ponto de partida. Olha para um país que foi esquecido por muitos. Cura os corações daqueles que se viram ao relento. Assim como Jesus faria nos dias de hoje. E seria igualmente recebido de braços abertos, tanto pelos muçulmanos em Dahieh, quanto pelos cristãos em Harissa. O sucessor de São Pedro dá um exemplo para cristãos no mundo todo. Torna viva a frase que utilizei no título deste texto: enquanto ainda há vida, há esperança.

“A religião que Deus, nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades” (Tiago 1:27)

O programa do Papa Leão XIV no Líbano incluiu encontros com o presidente da República, o presidente da Assembleia Nacional,  o primeiro-ministro e diversas autoridades, sociedade civil e corpo diplomático. Ele também visitou o túmulo de São Charbel Makhlouf (mosteiro em Annaya) e encontrou-se com líderes religiosos e agentes pastorais no santuário Nossa Senhora do Líbano em Harissa,  além de reunião privada com os patriarcas católicos. Um encontro ecumênico e inter-religioso aconteceu na Praça dos Mártires, em Beirute, seguido de encontro com jovens no Bkerké. Em seu último dia em Beirute, o Papa visitou o hospital psiquiátrico Hôpital de la Croix em Jal Ed Dib, rezou no local da explosão do porto de Beirute (2020), e proferiu sua homilia durante missa  no calçadão à beira-mar de Beirute (Beirut Waterfront) — homilia do Papa

A passagem pelo Líbano, 30 de novembro a 2 de dezembro, fez parte da primeira viagem apostólica do Papa Leão XIV fora da Itália desde a sua eleição, que incluiu a visita à Turquia  e 27 a 30 de novembro.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.