A enormemente popular banda irlandesa U2 emitiu uma extensa declaração sobre a guerra de extermínio travada por Israel contra a Faixa de Gaza, em 10 de agosto, domingo, mas que resultou somente em críticas generalizadas nas redes sociais, que caracterizaram a retórica como “pacifismo bilionário”.
Em nota, todos os quatro membros da banda compartilharam pontos de vista individuais sobre a situação em Gaza, ao tratar de diversos temas, como a fome no enclave, o embargo humanitário e a potencial tomada militar do território palestino.
A declaração parte de uma sentença de relações públicas: “Não somos especialistas na política da região, mas queremos que nosso público saiba como pensa cada um de nós”.
Os comentários do vocalista Bono (Paul David Hewson) devaneiam desde fake news como “estupros, assassinatos e sequestros de cidadãos israelenses no festival de música Nova” a sua interpretação de que “o Hamas não é o povo palestino”. A nota ecoa ostensivamente a tese israelense de “autodefesa”, bem como propaganda de guerra há muito desmentida, de que o Hamas usaria civis como escudos humanos.
LEIA: Robô de Musk sai do ar após admitir que ‘Israel comete genocídio em Gaza’
Todavia, insiste: “Benjamin Netanyahu [primeiro-ministro de Israel] merece, hoje, nossa condenação categórica e inequívoca”.
Para muitos usuários, não passa de uma “sopa de letrinhas”.
U2’s Gaza statement is billionaire pacifism, weeping into your champagne as you cash cheques from a genocide. Your ‘moral clarity’ stops where your wallet begins. Bono et al…until you ditch Live Nation and denounce your donors, you’re just laundering blood money through a… https://t.co/13j4o7Yp25
— Mark Jones (@markjonescp) August 11, 2025
Ativistas criticaram desde a primeira sentença, de que não seriam “especialistas na política da região”, dado que a banda fizera comentários sobre a Ucrânia, em não mais que dois meses de invasão russa.
Two years after a genocide in Gaza: “We are not experts in the politics of the region”
But two months after Russia’s invasion of Ukraine 👇🏽 pic.twitter.com/POUcaq4IBa
— Osita Mba (@DrOsitaMba) August 11, 2025
O U2 divulgou seu comunicado no mesmo dia em que o exército da ocupação israelense assassinou os correspondentes da rede internacional Al Jazeera Anas al-Sharif e Mohammed Qreiqeh, em um ataque a uma tenda de imprensa nos arredores do Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza. Morreram ainda Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa, da Al Jazeera, além do jornalista freelance Mohammed al-Khalidi.
Após a declaração de Bono, possivelmente a mais criticada dentre a banda, segue somente as falas de Larry Mullen Jr., baterista. Para ele, “após os ataques de 7 de outubro, Israel e seus aliados pediram a total obliteração do Hamas, o que era esperado”.
Larry you say what did Hamas expect? Well what did Isreal expect to happen after a blockade on Gaza since 2007? Where Isreal controls all land borders, the sky and the sea. Has bombed Gaza multiple times and murdered thousands since 2007 and Suffocates the life in Gaza!
— lu (@slammesh) August 10, 2025
Fãs não deixaram de se indignar, ao reiterar que a guerra israelense contra os palestinos de Gaza, bem como da totalidade dos territórios ocupados, antecede em muito os acontecimento de outubro de 2023. Usuários online questionaram ainda por que Mullen sentiu tamanha necessidade em ressaltar este ponto de vista.
O sentimento geral foi de repúdio, com muitos dizendo que a banda, sobretudo Bono, seria uma “fraude”, ao “se abster da política quando lhe convém”.
I could not give an absolute fuck what U2 have to say about Gaza. Those shills have been dripping in Israeli blood money since day dot.
Bono can “stay out of politics” when it suits him, while he’s filling his pockets. He’s a gutless poser and a fraud.
— Carlito’s Way stan account 🇵🇸 (@Oh_Deer_Diner) August 11, 2025
Não é a primeira vez que Bono é criticado por seu humanitarismo seletivo. No episódio nove da 11ª temporada, o desenho satírico South Park escracha o vocalista, ao considerá-lo hipócrita — entre outras coisas.
Edge (David Howell Evans), principal guitarrista da banda, chegou a mencionar o plano do partido Likud, de Netanyahu, de conduzir limpeza étnica contra os palestinos na Cisjordânia e Gaza, para abrir caminho a sua “Grande Israel”. Caso se confirme, afirmou a nota, “não é paz, é expropriação, limpeza étnica e — segundo muitos juristas e especialistas — genocídio colonial”.
Usuários reconheceram que Edge foi o único a tratar aberta e diretamente das agressões israelenses contra os palestinos sob ocupação, que muitos países, bem como organizações e peritos internacionais, classificam como crime de guerra e contra a humanidade, incluindo genocídio.
Neste entremeio, enquanto vacila o U2, mais de 62 mil palestinos foram mortos por Israel, além de dois milhões de desabrigados sob cerco e fome, desde outubro de 2023. As vítimas são, em maioria, mulheres e crianças.
Algumas pessoas reafirmaram crescer ouvindo U2, no entanto, disseram não conseguir mais escutar as músicas, por conta de um persistente e conveniente histórico de capitulação ou omissão frente a “imperialistas e criminosos de guerra”.
Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 12 de agosto de 2025
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.









