clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Salvar o paradigma humanitário não salva os palestinos do colonialismo israelense

25 de julho de 2025, às 14h57

Palestinos levam ajuda humanitária adquirida na passagem de Zikim para suas famílias, perto de Sudaniyyah, no norte de Gaza, em 20 de julho de 2025. [Dawoud Abo Alkas/ Agência Anadolu]

No início deste mês, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, delineou quatro opções que a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) enfrenta atualmente. Um potencial colapso da agência, reduzindo serviços e transferindo algumas funções para outros atores, criando um conselho executivo para garantir a responsabilização, o financiamento e os serviços e, por fim, a possibilidade de a UNRWA manter suas funções “enquanto transfere progressivamente a prestação de serviços para os governos anfitriões e a Autoridade Palestina, com forte compromisso internacional com o financiamento”.

Enquanto os palestinos enfrentam o genocídio de Israel em Gaza, o direito de retorno permanece tão proeminente e vital como sempre. A comunidade internacional, no entanto, priorizou a UNRWA em detrimento do direito de retorno palestino, criando uma agência que luta para cumprir seu mandato por vários motivos – um dos quais é o financiamento de doadores de países com forte envolvimento na colonização da Palestina por Israel. Alguns países também são cúmplices e envolvidos no genocídio.

No entanto, o fato é que a ONU criou problemas para a agência que carrega o fardo do paradigma humanitário. Por ter um mandato temporário, a UNRWA está prestes a ter sua renovação prevista e está impedida de cumpri-lo por Israel. A ONU agora tenta salvar uma agência que não foi criada para existir permanentemente, porque o chamado órgão de direitos humanos não percebeu que um status permanente de refugiado exigiria uma agência permanente de ajuda humanitária. Ou talvez a ONU tenha planejado as deficiências para que os palestinos nunca fizessem a transição do direito de retorno para a efetiva implementação desse direito.

A UNRWA enfrenta seus próprios problemas com financiamento, acesso proibido e serviços levados ao limite. A ONU está tentando salvar a existência da agência, mas isso não garante seu funcionamento ideal. No outro extremo do espectro humanitário, os palestinos enfrentam um genocídio, sem mencionar décadas de violência colonial e deslocamento forçado. Deve haver um meio-termo em que a UNRWA e os refugiados palestinos sejam considerados igualmente, com um objetivo em vista: o retorno dos palestinos às suas terras. Em vez disso, a UNRWA envolveu-se na política de impedir o direito de retorno dos palestinos, porque a ONU se aliou ao colonialismo sionista, apesar de suas alegações de querer erradicá-lo.

O que vem a seguir para a UNRWA no contexto atual, quando a comunidade internacional falhou em impedir o genocídio em Gaza e Israel explorou as lacunas no paradigma humanitário? Quando a ONU fala em salvar a UNRWA, pensa apenas na existência e no funcionamento limitado da agência, ou tem um plano para o retorno do povo palestino à Palestina?

O mandato da UNRWA deveria durar até que uma solução fosse encontrada. A Resolução 194 da ONU não apresentou nenhuma solução – colonizadores não são vizinhos e o ônus do retorno nunca deveria ter sido imposto aos palestinos, ou à UNRWA para suportar o ônus da postura dúbia da ONU em relação ao colonialismo e aos colonizados. Embora a parte prática do financiamento e da gestão precise ser abordada, o fato é que a ONU criou uma agência para atender aos refugiados palestinos que enfrentam tanto o deslocamento forçado quanto uma resolução falha. Será que a ONU conseguirá voltar ao básico e avaliar seu papel na criação do Plano de Partilha, da Resolução 194 da ONU e na manutenção de uma narrativa de segurança colonial? Só então, talvez, a UNRWA possa ser salva para cumprir seu mandato: prover assistência aos palestinos até que retornem para casa.

LEIA: A fabricação colonial de direitos humanos pela ONU

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.