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Curdos entregam armas, após 40 anos de luta armada por Estado nacional

11 de julho de 2025, às 15h01

Cidadã curda exibe bandeira com retrato de Abdullah Ocalan, fundador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no Curdistão iraquiano, em 27 de fevereiro de 2025 [Shwan Mohammed/AFP via Getty Images]

O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) deu início a sua entrega de armas, após quatro décadas de campanha por um Estado nacional entre Turquia, Síria e Iraque, em um conflito que matou, segundo estimativas, quarenta mil pessoas.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Uma pequena cerimônia foi realizada nesta sexta-feira (11) em Sulaimaniyah, na região autônoma curda no norte do Iraque. Cerca de 30 militantes do grupo destruíram suas armas, em lugar de entregá-las a autoridades. O gesto se conduziu sob segurança rígida e deve transcorrer até setembro.

Imagens mostraram armas reunidas em um caldeirão em chamas. Não houve, contudo, transmissão ao vivo, tampouco acesso de jornalistas.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, acolheu a medida, “ao arrancar e jogar fora os grilhões sangrentos que apertavam os pés de nossa nação”.

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As ações seguem anúncio do PKK de 12 de maio, de que abandonaria a luta armada — tipificada pela lei internacional como direito dos povos em condição de resistência, sob ocupação ou colonização de suas terras.

Pela maior parte de sua história, o grupo curdo foi designado “terrorista” por Turquia, União Europeia e Estados Unidos.

Entre 1984 e 2024, em torno de 40 mil pessoas morreram no conflito, com milhares de curdos fugindo do sul da Turquia rumo ao norte do país.

Em vídeo desta semana, gravado em junho, Abdullah Ocalan, líder aprisionado do PKK, descreveu o momento como “transição voluntária da fase de conflito armado à fase de democracia e direitos”. Para Ocalan, é um “ganho histórico”.

Ocalan, contudo, permanece na solitária nas Ilhas Imrali, da Turquia, desde 1999, como líder simbólico, mais do que político.

O desarmamento é monitorado pelo Partido Igualdade e Democracia (DEM), registrado na Turquia e de filiação curda. Os próximos estágios ocorrerão em locais designados em coordenação com Ancara, Bagdá e a gestão do Curdistão iraquiano.

Em troca, o PKK pede soltura de Ocalan para que lidere o “processo democrático”.

Em abril de 2024, o governo do Iraque criminalizou o PKK, após encontro de segurança de alto escalão junto a emissários turcos, representando um revés sem precedentes ao movimento nacional do Curdistão.

O processo advém de meses de negociações diretas.

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